"Fomos nós que inventamos o batidão sertanejo", diz Tchê Garotos
- Rafael Machtura
Os responsáveis pela onda de "Tchu, Tcha", "Tchê tcherere tchê tchê" e "Ai, ai se eu te pego" podem ter sido finalmente encontrados. Isso porque uma banda do Rio Grande do Sul, que quebrando suas tradições ao inserir em sua música regionalista elementos mais pop, como a percussão e instrumentos elétricos, tem sido reconhecida por nomes como Michel Teló como os precursores do atual sertanejo universitário. Eles são o Tchê Garotos, que, completando 16 anos de estrada em 2012, acabam de emplacar a música Cachorro Perigoso na novela Avenida Brasil, da Rede Globo.
"Fomos nós que inventamos esse batidão sertanejo, que veio do vanerão", disse ao Terra Mateus Menin, que assumiu há dois meses os vocais deixados por Fernandinho. "Até o Michel Teló já disse para gente que foi muito influenciado pelo som do Tchê Garotos, quando ela ainda era do Grupo Tradição", conta.
Batidão de vanera ou vanerão é uma adaptação moderna do vanera, música e dança típica gaúcha, que tem como principal instrumento a sanfona. Com mais swing - influenciado por ritmos mais quebrados, como o baião, samba e até o funk - e com letras animadas sobre noitadas, mulheres e bebedeiras, o estilo ganhou o gosto dos novos sertanejos e das rádios, virando o novo fenômeno da música popular brasileira.
Mesmo sendo os precursores do gênero, o reconhecimento demorou a aparecer. "Sempre tivemos consciência de que, uma hora ou outra, o sucesso viria para gente. Nós que colocamos esse tipo de som no mercado e os artistas que vieram depois só engradeceram a música brasileira e o Tchê Garotos", explicou. "A gente fica feliz de saber que começamos tudo isso há 16 anos e que ainda estão usando nossa batida".
E agora, sem mágoas com a demora, o grupo colhe os frutos com Cachorro Perigoso, tema de Darkson, interpretado por José Loreto, na trama global das 21h. "A novela acaba de completar 40 dias e, graças a Deus, temos tocado no Brasil inteiro, com shows todos lotados. Sempre tocamos uma média de 15 ou 20 apresentações por mês, mas depois dessa exposição toda passou para, em média 25. E com um público grande, de 12 mil a 30 mil pessoas".
Mas música, que acaba de ser lançada no 14° álbum do grupo, Do Jeito que o Povo Gosta, não é tão nova assim. Ela foi produzida há dois anos pelo vocalista e principal compositor do grupo, Sandro Coelho (o Sandrinho), a pedido do diretor musical da Globo, Mariozinho Rocha, para entrar em uma das novelas da emissora. "Foi um pedido específico para uma novela na época, que agora eu não lembro o nome, mas não ficou pronta a tempo. Então, ela ficou guardada até o Mariozinho colocar em Avenida Brasil. Quando soubemos que a música entraria na trama, foi uma felicidade só, principalmente depois que ela caiu no gosto do povo", contou, empolgado.
Com a explosão da música, Mateus reconheceu que o grupo todo virou noveleiro. "Quando temos um compromisso, sempre perguntamos 'mas é antes ou depois da novela?'", disse, rindo. O cantor também contou que torce para um final feliz de Darkson, mas até José Loreto preferiria ver seu personagem na gandaia. "Encontramos com ele há duas semanas no programa do Didi, mas ele nos disse que não sabe se o Darkson vai se apaixonar. Vai rolar um clima com a Tessália (Débora Nascimento), mas ele queria ficar solteiro, pegando todo mundo", contou. "O mais engraçado é que ele é um carioca da gema e sua música tema é uma música gaúcha."
Além do sucesso de Cachorro Perigoso e do batidão de venera, Mateus também falou de sua entrada na banda, há apenas dois meses. "Entrei no lugar do Fernandinho, que foi um dos fundadores do grupo. Ele já tem 36 anos de carreira musical e já estava na hora de ele dar um tempo e cuidar da família. Eu já tinha um namoro com o Tchê Garotos, sempre acompanhava o trabalho deles, quando ainda cantava no Alma Serrana, do Mato Grosso do Sul", disse o gaúcho. "Quando ele resolveu deixar a banda, o primeiro nome que surgiu para substituí-lo foi o meu. Eles me ligaram e eu já fui acompanhá-los no show. No domingo de Páscoa, ele perguntou se eu já tinha tirados as músicas e, mesmo sem ensaio, já me botou para cantar". Mesmo fora do palcos, Fernandinho continua sócio da banda e hoje cuida dos negócios do grupo.
"E a minha sintonia com o Sandrinho foi muito boa, eles me receberam muito bem. Até o Sagui, baterista, disse que parecia que eu estava há 10 anos na banda", disse. "Sem dúvida esse é o melhor momento da banda. E a tendência é só crescer."