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CPM 22 tentou participação de Rodolfo em 'Acústico'; igreja não permitiu

Após seis álbuns de estúdio e um ao vivo, o CPM 22 encara formato diferente em acústico; ao Terra, Badaui explicou busca por sonoridade diferente

31 out 2013 - 13h24
(atualizado às 13h26)
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<p>Heitor, Badaui, Japinha e Luciano, formação atual do CPM 22</p>
Heitor, Badaui, Japinha e Luciano, formação atual do CPM 22
Foto: Divulgação

“Sete discos, treze anos de carreira profissional e dezoito anos de banda”. A resposta de Badaui, vocalista do CPM 22, deixa bem claro que o grupo paulistano de hardcore buscava alçar um novo – e diferente - voo em 2013. Cantando em português e explorando o segmento do hardcore melódico – até então com pouca exposição no Brasil -, o CPM 22 ganhou exposição no início dos anos 2000 e abriu portas para diversas bandas do gênero. Desde o disco A Alguns Quilômetros de Lugar Nenhum (2000), o grupo nasceu no underground independente, passou pelo mainstream com suporte de uma gravadora e agora encara o formato acústico para revisitar sua carreira. Em entrevista ao Terra, Badaui explicou os desafios do formato.

“Primeiro, nossas músicas vêm todas do violão. Mas tocar em casa é uma coisa. Reproduzir isso e imaginar nesse formato exige algumas mudanças”, disse.

Foto: Divulgação

O estilo mais agressivo do hardcore e o andamento acelerado das músicas teve que se ajustar para reforçar as melodias de sucessos como Tarde de Outubro, Dias Atrás, Irreversível, Desconfio, O Mundo Dá Voltas e outras – incluindo inéditas -, que estão no disco lançado neste mês. Badaui conta que chegou a fazer aulas de canto para ajudar neste processo. “Procurei uma professora que fizesse algo específico pra mim. Falei que queria continuar com a mesma pegada, mas tirar um pouco do drive, um pouco do ataque e cantar muito mais, com a mesma atitude de sempre”, explicou.

Além de canções novas e antigas, o acústico da banda ainda conta com um amigo feito nas turnês: Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial. “Não deu tempo nem de eu terminar a frase e ele já disse: "tô dentro". É um cara que gosta da banda, veio do punk rock”, disse sobre o cantor, que divide os vocais em Um Minuto Para o Fim do Mundo. O plano de ter dois convidados no projeto, por outro lado, não deu certo. Segundo Badaui, a ideia era de que Rodolfo Abrantes, ex-vocalista do Raimundos, também participasse da gravação. “Eu chamei o Rodolfo e ele não quis. Falou que a igreja não permite”.

Confira a entrevista:

Terra - Queria que você falasse sobre esse desafio de fazer um som mais contido e manter a cara do hardcore do CPM 22.

Badaui -

Esse foi o maior desafio mesmo. Primeiro, nossas músicas vêm todas do violão. Mas tocar em casa é uma coisa. Reproduzir isso e imaginar nesse formato exige algumas mudanças. Muitas vezes o Luciano faz uma música com bicorde mesmo (formato de acorde mais simples com apenas duas notas). Ali a gente tocou tudo com acordes abertos e capotrastes para ter a sonoridade de todas as cordas. Você tem que rearranjar todas as músicas. A gente teve bastante tempo, desde dezembro de 2012. Primeiro acertamos as cordas para depois trabalhar as vozes em cima dos tons. Mas isso sem perder a característica do punch que a gente tem. A explosão que é característica do nosso som.

Terra - Pra você, como vocalista, foi difícil segurar a onda?

Badaui -

Eu ensaiei demais. Eu realmente estava preparado. Quando a gente gravou em 2006, fizemos uma bateria de ensaios ali, mas era uma coisa que já fazíamos na estrada.

Terra - Era algo que já estavam habituados. Era o feijão com arroz de vocês...

Badaui -

Era o feijão com arroz. A banda ali e já era. O acústico tem outros instrumentos, outra sonoridade. Voltei a estudar canto por um tempo, fiz uns quatro meses de aula para cantar as notas sem perder a característica. Procurei uma professora que fizesse algo específico pra mim. Falei que queria continuar com a mesma pegada, mas tirar um pouco do drive, um pouco do ataque e cantar muito mais, com a mesma atitude de sempre. Respiração, concentração, diafragma e esse tipo de coisa. Fui aprimorando. A banda trabalhou em cima dos tons, então fiquei bem confortável.

Foto: Divulgação
Terra - Como decidiram que era a hora certa de uma acústico?

Badaui -

Depois de sete discos, treze anos de carreira profissional e dezoito anos de banda. A gente queria fazer algo de novo. Foi um break de inéditas, mas sem ficar sem lançar nada. Um acústico é uma releitura com algumas novas, sonoridade diferente. Depois é só fazer turnê dele e gravar quatro, cinco CDs ou quanto a gente quiser.

Terra - E o processo de se reencontrar com músicas antigas e criar novos arranjos. Como foi?

Badaui -

Tem que adaptar tudo o que estava acostumado a tocar. A voz e bateria não mudam tanto, mas as cordas mudaram bastante. Os violões e baixo. Foi gostoso porque a gente tinha tempo.Foram seis ou sete meses ensaiando justamente para fazer a coisa com calma. Gravamos e regravamos várias vezes.

Terra - É um acústico que não tem vínculo com outro projeto tipo Multishow ou MTV. Isso foi vital pra esse tempo?

Badaui - A ideia era fazer o acústico em janeiro, no aniversário de São Paulo. A gente estava no segundo mês de ensaio e falamos: "esquece essa data". Não pira. A gente não queria fazer algo corrido. Nunca mais. Vamos fazer um bagulho bom. É a única vez que vamos fazer esse negócio na vida. Então não enche o saco. Sem pressão. Tanto que fomos gravar em junho. Tem que ir com calma.

Terra - E como foi o processo de escolher o repertório?

Badaui -

Foi problemático. Melhor sobrar do que faltar. A gente fez um set de 35 músicas, contando com cinco novas e fomos eliminando. Aí ficam 30. De 30 ficam 25. Na última hora resolvemos cortar mais três e foi. Tem músicas que não poderiam faltar, três ou quatro novas e as outras vagas para as que ficassem melhor, as que soassem bem. Se alguma coisa estivesse incomodando, já era. Tinha até que achar algum argumento pra cortar.

Terra - Alguma não deu certo?

Badaui - Anteontem. A gente queria colocá-la de qualquer jeito. Uma música emblemática para a banda. Foi bem na época que criamos a identidade do que somos até hoje, mas não rolou. Não ficou tão boa quato Regina Let's Go, por exemplo. Regina e O Mundo Dá Voltas, que são músicas rápidas e da mesma época, conseguimos puxar pro lado do country ou do folk. Anteontem não ficou bem e acabamos cortando. Melhor sobrar do que faltar.

Terra - No disco tem a participação do Dinho Ouro Preto. Como foi o convite?

Badaui -

A gente não queria mais do que duas participações de vocalista. Eu chamei o Rodolfo (ex-Raimundos) e ele não quis. Falou que a igreja não permite. O outro que eu queria era o Dinho Ouro Preto (Capital Inicial). No making of dá pra ver. Não deu tempo nem de eu terminar a frase e ele já disse: "tô dentro". É um cara que gosta da banda, veio do punk rock. Sempre respeitou a banda e virou nosso amigo na estrada. A gente também não queria ninguém da nossa geração.

Terra - Como enxerga o rock hoje? Em 18 anos de banda vocês já passaram por underground, gravadora...

Badaui -

Uma banda com essa idade é impossível estar sempre em evidência. A gente já veio do independente com certo público. Na gravadora conseguimos ampliar isso e ficamos um bom tempo com bastante destaque. Talvez pelo momento do rock e pela novidade. É um som com sentimento, verdade e postura. Depois tivemos um desgaste com a gravadora, na verdade com o Rick (Bonadio) e saímos de lá. Teve aquele momento de transição, burocracia. A gente não podia se esperar resolver com gravadora. Gravamos um disco. Você vai vivendo de acordo com a situação que tem na mão ali, procurando não errar. No Brasil é um pouco ingrato viver de rock. A gente mesmo com oscilações, a banda sempre se manteve ali com seus 80 shows por ano, um cachê razoável. A gente permanece vivendo da banda. Talvez por tudo o que a gente construiu, independente da exposição de uma época ou outra. A longevidade mostra quando uma banda é de verdade. Não só o que envolve os problemas pessoais dentro da banda, mas também com o mercado. Tem que saber lidar com a fase pior do segmento com rádios, televisão. É o que o gente tem vivido nos últimos anos. Se você manter seu trabalho com dignidade mesmo lidando com isso, é porque a banda é realmente forte e pronta pra viver uma carreira de duas décadas. É a meta.

Terra - Como vai ser a turnê do acústico?

Badaui -

A turnê oficial a partir de janeiro. Vamos sem os metais, vai o tecladista Daniel dos Santos com o Phil (violão).

Fonte: Terra
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