Com som impecável, Mötley Crüe esquenta fãs em noite gelada em SP
- David Shalom
- Direto de São Paulo
Foram três décadas de espera, mas finalmente os californianos do Mötley Crüe chegaram ao Brasil, mais especificamente à cidade de São Paulo, onde a banda fez única apresentação nesta terça-feira (17), no Credicard Hall. Com a formação clássica, composta por Vince Neil (vocal), Nikki Sixx (baixo), Mick Mars (guitarra) e Tommy Lee (bateria), o quarteto realizou em menos de uma hora e meia um show mecânico, sem improvisos, mas com qualidade de som impecável e repertório escolhido de forma inteligente para agradar o público que compareceu ao evento em uma das mais frias noites de 2011 - e em pleno meio de semana.
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As características dos fãs do Mötley estavam todas lá. Um grande número de mulheres - muitas delas com cabelos loiros oxigenados e meias-calças de oncinha - e homens com maquiagem no rosto e laquê nas longas madeixas para mantê-las com o visual otentista que o grupo ajudou a popularizar em seu auge.
Pontualmente às 23h, a banda subiu ao palco, recebida com grande entusiasmo pelos já grandinhos fãs que aprenderam a admirá-la ainda na adolescência. E com Wild Side, primeira faixa do aclamado disco Girls, Girls, Girls, lançado em 1987, abriu a apresentação, levantando os presentes. Saints of Los Angeles, única canção do álbum mais recente do grupo, foi tocada na sequência, recebendo ótima recepção dos fãs, algo não tão usual quando as chamadas lendas do rock executam composições novas. Live Wire, música de abertura do debut do grupo, foi emendada na sequência, tendo seu refrão cantado em uníssono pelo público, fato repetido em Shout at the Devil, canção perfeita para ser tocada ao vivo.
"Eu quero ouvi-los", gritou Vince Neil, falando pela primeira vez ao público, que cantava alto "olê, olê, olê, olê, Mötley, Mötley". "Nós somos o Mötley Crüe. Vocês estão prontos para esta m.... hoje?", perguntou enquanto um assistente de palco lhe dava uma guitarra para a execução de Same Old Situation.
Os muitos anos de estrada geraram uma grande desenvoltura dos músicos no palco. Neil, apesar de penar na hora de cantar notas mais agudas, é um grande frontman, com domínio total de toda a extensão do palco. Nikki Sixx, principal compositor do grupo, cujo vício em heroína rendeu livro lançado em 2006, mantém frequente contato com os fãs, agachando-se por diversas vezes e estendendo o braço para apertar suas mãos. O pedestal de seu microfone, com uma espécie de mola que o faz ficar dançando para frente e para trás, também chamou a atenção. Tommy Lee, famoso pelo polêmico casamento com a eterna salva-vidas de SOS Malibu Pamela Anderson, tinha a seu dispor uma bateria no mínimo curiosa - com bumbo e tom gigantescos -, e, além da ótima presença de palco, mostrou ainda ser um excelente instrumentista.
Mick Mars, no entanto, é o oposto de seus companheiros: com um chapéu preto que tampava por completo seus olhos, invisíveis à audiência, o guitarrista permaneceu o tempo inteiro de cabeça baixa e praticamente imóvel, tornando-se uma figura enigmática no palco. O motivo para a incomum postura é uma escoliose adquirida por ele há décadas, que prejudica sobremaneira seus movimentos pela dor sentida na coluna - o que o levou em diversos momentos a se apoiar no cenário de prédios disposto entre os músicos.
Depois de Primal Scream, Tommy foi à frente do palco sozinho com uma garrafa de bebida à mão. "Quem quer uma dose?", perguntou antes de entregá-la a uma fã. "Beba e passe para trás. Acho que tem o suficiente para todos aqui, afinal eu comprei a garrafa grande", brincou, para depois fazer o típico discurso frontman de rock´n´roll: "finalmente chegamos, São Paulo, 'mother fucking' Brasil. Eu só quero ver suas caras, pois isso é incrível. Não sei por que demoramos tanto para vir para cá e f...-nos por não termos vindo antes", falou, para depois voltar a seu assento e tocar a introdução em teclado de Home, Sweet Home.
Don´t Go Away Mad (Just Go Away), com Vince empenhando um violão estilizado, deu continuidade ao evento, seguida pelo solo de Mick Mars - mais composto por cinco minutos de dedilhados e palhetadas distorcidas de acordes do que por uma demonstração de técnica propriamente dita, o mais comum em momentos do tipo.
Dr. Feelgood, Too young to Fall in Love, Ten Seconds to Love e Smoking in the Boys Room, grandes sucessos do grupo, precederam o maior hit de toda a sua carreira: Girls, Girls, Girls, ponto alto do show, com direito a garotas da platéia tirando as blusas para deixar à mostra somente seus soutiens e até a uma calcinha voadora atirada em Vince Neil. "Aleluia! Graças a Deus existe bu....", disse o cantor ao final da canção. Kickstart My Heart fechou a parte principal da apresentação, que ainda ganhou Looks that Kill no bis.
Buckcherry
Coube ao quinteto de Los Angeles Buckcherry a árdua tarefa de esquentar os ansiosos fãs do Mötley. E, com repertório de uma hora, ele não poderia ter se saído melhor. Fundada em 1995, a banda, quase um clone dos conjuntos de hard rock da década de 1980, levantou o público com uma apresentação agitada, liderada pelo bom vocalista Josh Todd - repleto de trejeitos, dancinhas e rebolados - e com destaque para o elétrico guitarrista Stevie D e o baterista Xavier Muriel, integrantes do grupo desde 2005, quando foram retomadas suas atividades após hiato de três anos.
Com qualidade de som igualmente impecável, sem a embolação tradicional dos shows de rock, o grupo iniciou a apresentação com Dead, emendada com Rescue Me e All Night Long.
Com status de banda convidada, o Buckcherry ainda pôde se apresentar no palco completo, sem as divisões comumente aplicadas a grupos nessa posição, o que ajudou em sua empolgada performance.
Apesar de não ter agitado a platéia como os protagonistas da noite, os californianos receberam ótima recepção e, mesmo com os discursos digamos populistas de seu tatuadíssimo frontman - "esta música é sobre a primeira vez em que eu experimentei cocaína. Vamos lá: cocaína, cocaína!", por exemplo -, em nenhum momento chegaram a ser vaiados pelos presentes, que, pelo contrário, os aplaudiram durante todo o set-list.
A apresentação foi encerrada com o hit Sorry - sua primeira canção a figurar no Top 10 da Billboard, em 2006 - e Crazy Bitch, durante a qual Todd simulou uma cena de sexo e disse às mulheres presentes: "eu sei que vocês, vagabundas, querem transar", frase mais natural possível para uma noite de festa do hard rock.
É proibido
Por alguma razão, os fotógrafos da imprensa não tiveram direito de usar o fosso - vão livre que divide a platéia do palco. A produção do evento não soube explicar o motivo do veto. Durante os dois shows, os profissionais tiveram que ficar posicionados em um local mais distante, aquele que separa a pista premium da comum.
Set-list Mötley Crüe:
Wild Side
Saints of Los Angeles
Live Wire
Shout at the Devil
Same Old Situation
Primal Scream
Home Sweet Home
Don't Go Away Mad (Just Go Away)
Guitar Solo
Dr. Feelgood
Too Young to Fall in Love
Ten Seconds to Love
Smokin' In The Boys Room
Girls, Girls, Girls
Kickstart My Heart
Encore:
Looks That Kill
Set-list Buckcherry:
Dead
Rescue Me
All Night Long
Everything
Oh My Lord
It's a Party
Next 2 You
Lit Up
Slammin'
Lawless & Lulu
Sorry
Crazy Bitch