CD do Pink Floyd faz 20 anos com enigma ainda não decifrado
Mensagens postadas pela gravadora 20 anos atrás marcam primeira ação de marketing musical na internet e ainda seguem um mistério
Quando The Division Bell chegou às prateleiras das lojas de disco 20 anos atrás ninguém fazia ideia que aquele seria o último registro de estúdio de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. As 11 faixas pareciam pouco como último legado do Pink Floyd, o grupo que até então já havia lançado obras primas como Wish You Were Here, Dark Side Of The Moon e The Wall. Duas décadas depois, é uma posição nada arriscada e bastante confortável dizer que The Division Bell está longe dos momentos brilhantes do grupo, então liderado por David Gilmour.
Para celebrar o aniversário, o registro ganha a partir desta sexta-feira (30) uma edição de luxo com seis discos, incluindo três de vinil, um blu-ray e CD com som remasterizdo em formato 5.1 por Andy Jackson, colaborador de longa data do Floyd. Mas, em vez de falar da qualidade artística do álbum (ou da falta dela), é bem mais interessante lembrar um mistério não solucionado envolvendo The Division Bell, e que segue atormetando a mente de alguns seguidores mais fanáticos: as mensagens postadas em 1994 por uma pessoa identificada apenas como Publius e que garantiam haver uma mensagem secreta escondida em todo o conceito do álbum. Uma charada envolvendo música, letra e arte do disco. Vinte anos depois, o enigma proposto por Publius segue indecifrado.
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No dia 11 de junho de 1994 uma mensagem foi publicada em um fórum de discussão sobre o Pink Floyd no site alt.music.pink-floyd. "Meus amigos, vocês escutram a mensagem que o Pink Floyd enviou. Mas vocês ouviram? Talvez eu possa guiá-los, mas eu não vou solucionar esse enigma para vocês. Todos vocês devem abrir suas mentes e comunicarem-se uns com os outros. É o único meio para que as respostas sejam reveladas. Eu poderei ajudar vocês, mas apenas se surgirem obstáculos. Ouçam. Leiam. Pensem. Se eu não prometer-lhes a resposta, vocês irão. Publius"
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Publius, cuja identidade jamais foi confirmada, encontrou bastante resistência. A maioria dos participantes do fórum demonstrou ceticismo. Ao longo dos dias subsequentes novas mensagens foram publicadas reafirmando o enigma e dando mais dicas sobre a charada. Até que, em 16 de julho, Publius concordou em dar uma prova da veracidade de suas mensagens. "Para validar a confiança daqueles que acreditam, bem como para conciliar as dúvidas de outros, eu arquitetei um grande plano de comunicação: segunda-feira, 18 de julho, East Rutherford, Nova Jersey, aproximadamente às 22h30. Luzes brancas piscantes. Há um enigma. Acreditem."
A data proposta por Publius coincidiu com uma apresentação do Pink Floyd na cidade de East Rutherford, indicada na mensagem. Nesta apresentação, as luzes na frente do palco começaram a piscar e em determinado momento soletraram as palavras "enigma" e "publius". As mensagens que Publius postou a partir tornaram-se cada vez mais insistentes na existência da tal charada. Ao mesmo tempo, ele adotava um tom irritado com a desconfiança daqueles que achavam que suas mensagens eram apenas uma farsa. "Para aqueles de vocês que ainda engrossam as filas dos que não acreditam, eu forneci garantias de autenticidade das minhas credenciais e portanto encerro minhas tentativas de convencê-los. Originalmente, esse grupo de discussão pediu evidências da minha legitimidade e, para fazer justiça ao que eu propus a vocês, eu aceitei".
No dia 25 de julho de 1994, Publius fez sua última postagem com mais algumas dicas sobre o enigma. Frases ainda mais misteriosas que a charada proposta por ele mesmo: "Liderando o cego, enquanto eu olhava o aço em seus olhos" e "uma pergunta: o que é exatamente um sino de divisão e onde isso poderia levar seus pensamentos?". O "sino da divisão" faz referência ao nome do álbum em inglês, The Division Bell, que por sua vez é um recurso usado no Parlamento do Reino Unido para convocar os membros da Câmara dos Comuns ou da Câmara dos Lordes para votar em uma solução.
The Division Bell é também um dos versos da última faixa do disco, High Hopes, uma canção composta por David Gilmour em parceria com sua mulher, Polly Samson. A letra autobiográfica, fala, segundo Gilmour, sobre sua juventude e tudo que ele ganhou e perdeu na vida desde que saiu de sua cidade natal. Esta última mensagem de Publius, entretanto, pareceu lançar mais sombras que luz sobre o mistério. Um ano depois, o serviço de e-mail Penet, com o qual Publius postava sua mensagens, foi fechado por seu criador após ameaças de processo por conta da falta de garantia de anonimato de seus usuários. Consequentemente, Publius ficou impossibilitado de postar novas informações sem ter antes que provar novamente sua autenticidade.
Em abril de 2005, mais de 10 anos após a última mensagem de Publius, o baterista Nick Mason comentou sobre o enigma em uma tarde autógrafos de sua autobiografia: Inside Out: A verdadeira história do Pink Floyd. "Isso foi uma manobra feita pela (gravadora) EMI. Eles tinham um homem que trabalhava para eles e que adorava puzzles. Ele estava trabalhando para a EMI e sugeriu que um enigma fosse criado e que poderia ser seguido pela web. O prêmio nunca foi dado. Até hoje ele continua não decifrado".
Até hoje, nos mais diferentes fóruns e sites dedicados ao Pink Floyd, centenas de pessoas postam ainda mensagens afirmando terem decifrado o enigma. A grande maioria apenas indica que solucionou a charada sem dar maiores explicaçãos das conclusões. Os poucos que não se preocupam em compartilhar suas respostas, afirmam quase sempre que o mistério tem relação com o tema principal do álbum que é a comunicação.
