Cazuza não é visto como ícone LGBT+? Especialistas refletem
Artista segue vivo no imaginário popular da música brasileira, mas atuação supostamente tímida como militante gera debate
Mesmo passados 35 anos de sua morte por complicações da aids, em 7 de julho de 1990, Cazuza segue vivo e presente no imaginário da música no Brasil. Constantemente, o Poeta do Rock, como ficou conhecido, é tema de eventos, exposições, tributos audiovisuais e regravações por parte de outros artistas.
Todavia, sua atuação enquanto homem gay no campo da militância em prol de diretos à comunidade LGBTQIAPN+ gera debates. Não teria Cazuza conseguido se erguer como um ícone do movimento?
De acordo com o antropólogo Luiz Mott, em declaração citada em artigo da DW, o cantor e compositor teve atuação tímida no que se refere à homossexualidade e nunca levantou a bandeira da causa. Mott, que é professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA), argumenta:
"Gosto de Cazuza como compositor e cantor, mas discordo dele por seu mutismo e por não ter falado nada explicitamente sobre homossexualidade e movimento gay. No fundo era um gay egodistônico e egoísta. Não percebeu o papel crucial de apoiar a militância."
Gisele Jordão, coordenadora do curso de Cinema e Audiovisual da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), discorda. Ela defende a tese de que Cazuza teve, sim, papel preponderante acerca do tema:
"O impacto de sua postura pública é inegável. Cazuza viveu sua bissexualidade com naturalidade e sem se esconder, num período de enorme preconceito.
A especialista em projetos culturais acrescenta que o músico, vocalista original do Barão Vermelho, contribui também no que se refere à conscientização sobre a aids:
"Ele não apenas falou sobre sua condição, mas usou sua vasta visibilidade para quebrar o silêncio em torno da doença. Naquele contexto, a simples existência de alguém como ele, jovem, famoso, talentoso, vivendo com HIV e sem vergonha de quem era, já era, por si só, um ato político potente."
O que Cazuza dizia sobre sua orientação sexual
Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, já relatou em algumas oportunidades como foi a descoberta por parte dos pais da orientação sexual do fiho.
Em entrevista ao podcast Corredor 5 (via Aventuras na História), ela contou sobre o dia em que perguntou ao filho se ele era "veado". A resposta de Cazuza foi:
"Eu tenho chifre e quatro patas? Veado tem quatro patas e chifre, então eu te diria que eu ainda tô procurando o que eu vou querer na minha vida, mas te aviso uma coisa, não se meta que a vida é minha e eu vou fazer o que eu quiser dela. Tá satisfeita com a resposta?"
Em outra ocasião, no programa Conversa com Bial, da Rede Globo (via Terra), Lucinha ofereceu uma segunda resposta dada a ela por Cazuza na adolescência:
"Mamãe, eu gosto de meninos e meninas. Agora, não se meta na minha vida, a vida é minha".
Nos anos 1980, Cazuza viveu um breve, mas intenso romance com Ney Matogrosso — o namoro durou cerca de três meses. O relacionamento é retratado no filme Homem com H, cinebiografia recém-lançada de Ney. Outros de seus parceiros incluíram o ator Serginho Dias e a atriz Denise Dumont.
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