Caetano Veloso publicou em seu site oficial, nesta terça-feira (18), um texto que declara sua posição a favor dos protestos que acontecem em todo o País. Com o título #acordabrasil, o cantor iniciou a postagem afirmando que se identifica com os manifestantes e que já tinha a sensação de que esses movimentos coletivos cresceriam.
Caetano ainda cita Arnaldo Jabor, que classificou os ativistas como “revoltosos de classe média" que "não valem nem 20 centavos” em seu quadro no Jornal da Globo que foi ao ar em 12 de junho. Criticado nas redes sociais, o discurso de Jabor ganhou várias edições, entre elas uma em que Caetano "responde", afirmando que o jornalista é "burro demais" - o vídeo original do cantor é de 1978, quando ele foi entrevistado por Geraldo Mairinque, do programa Vox Populi.
“Sinto identificação espontânea com os manifestantes. Aqui no Rio, desde a resistência contra a derrubada da Escola Friedenreich e a defesa da Aldeia Maracanã, senti, pelos emails que recebia, por conversas que tive e pelos vídeos em que policiais apareciam jogando gás lacrimogêneo (sendo que meu candidato à prefeitura do Rio nas últimas eleições, Marcelo Freixo, foi atingido ao ir prestar solidariedade aos resistentes), que esse tipo de manifestações cresceria”, começou Caetano.
O músico comenta ainda que, para ele, o aumento no valor das passagens de ônibus foi uma decisão que trouxe à tona uma série de insatisfações dos brasileiros cansados de assumir uma postura passiva. “Que tenha sido em reação ao aumento da tarifa dos ônibus que esse crescimento se mostrou evidente, só confirma minha percepção de que se trata de algo genuíno, uma expressão de insatisfação da população com um quadro público que demonstra cansaço. Não é apenas o governo do PMDB no estado e na prefeitura, nem o do PT no âmbito federal. É toda uma conjuntura que precisa ouvir dos cidadãos que não há mais aceitação passiva do que quer que seja”, continuou.
Leia abaixo o texto completo:
“Sinto identificação espontânea com os manifestantes. Aqui no Rio, desde a resistência contra a derrubada da Escola Friedenreich e a defesa da Aldeia Maracanã, senti, pelos emails que recebia, por conversas que tive e pelos vídeos em que policiais apareciam jogando gás lacrimogêneo (sendo que meu candidato à prefeitura do Rio nas últimas eleições, Marcelo Freixo, foi atingido ao ir prestar solidariedade aos resistentes), que esse tipo de manifestações cresceria.
Que tenha sido em reação ao aumento da tarifa dos ônibus que esse crescimento se mostrou evidente, só confirma minha percepção de que se trata de algo genuíno, uma expressão de insatisfação da população com um quadro público que demonstra cansaço. Não é apenas o governo do PMDB no estado e na prefeitura, nem o do PT no âmbito federal. É toda uma conjuntura que precisa ouvir dos cidadãos que não há mais aceitação passiva do que quer que seja.
De minha parte, identifico-me com os manifestantes. Eles estão dando voz a sentimentos ainda inarticulados. Têm que nos fazer pensar. Relembro as passeatas dos anos 1960 e penso nos movimentos que se dão na Turquia agora, como se deram faz pouco nos EUA, na Espanha, na Grécia, em vários países árabes. Me sinto em sintonia com essas pessoas. A fala de Alckmin, reduzindo tudo a ação de baderneiros e vândalos, foi insensível. Está por fora. Não chamaria Jabor de burro, como acontece na cômica montagem que fizeram da fala dele com uma gravação minha dos anos 1970, mas acho superficial dizer que esses movimentos são pura ilusão nostálgica de grupos de classe média, que sonham com as marchas de que ouviram falar.
Os 20 centavos podem não doer no bolso da maioria dos manifestantes mas são essenciais para os pobres que precisam de transporte público. Nada diz que jovens que não pertencem às classes necessitadas não podem reclamar por elas. O argumento pasoliniano em defesa dos policiais procede, o que não quer dizer que eles recebam e cumpram sempre as ordens mais justas. Mas o mais importante é notar que o fato de serem os protestos motivados pelo aumento das tarifas aponta para o problema gigante do transporte público no Brasil.
O Rio conhece uma tradição mafiosa nesse campo. Aqui, através desse sintoma que é o aumento do preço das passagens, os manifestantes estão dizendo que não engolem os modelos de negócios adotados para as obras relativas à Copa e à Olimpíada; que desconfiam dos planos de ampliação do metrô; que percebem que o povo brasileiro já sente os efeitos da inflação.
São muitos níveis de insatisfação de que se esboça a expressão. Sou radicalmente contra vândalos que causam danos a prédios e monumentos. E sou radicalmente contra a atitude das autoridades que mandam a polícia descer o pau em qualquer manifestante. Como disse um jornal estrangeiro, o Brasil parece que esqueceu o que são manifestações públicas de protesto. Enfim, como na canção de Dylan, alguma coisa está acontecendo e você não sabe o que é, sabe Sr. Jones? Esperemos que seja algo que ajude o Brasil a se desamarrar.”
'Vem Pra Rua' - O Rappa: poucas semanas após ser lançada, a música da campanha da Fiat para a Copa das Confederações Fifa 2013 começou a ser usada em vídeos que mostram os protestos contra o aumento da tarifa de ônibus e a ação da Polícia Militar de São Paulo. A campanha convoca a torcida brasileira para ir às ruas com seguinte refrão: "vem pra rua porque a rua é a maior arquibancada do Brasil". Trecho: Vem, vamo pra rua/ Pode vir que a festa é sua/ Que o Brasil vai tá gigante/ Grande como nunca se viu/ Vem, vamo com a gente/ Vem torcer bola pra frente/ Sai de carro, vem pra rua/ Pra maior arquibancada do Brasil
Foto: Divulgação
'Alegria, Alegria' - Cateano Veloso: foi lançada em 1967 e trabalhava com a ironia a partir de fragmentos do cotidiano. A letra critica o abuso do poder e da violência, as más condições do contexto educacional e cultural estabelecido pelos militares durante a Ditadura. Trecho: O sol se reparte em crimes/Espaçonaves, guerrilhas/Em cardinales bonitas/Eu vou
Foto: Divulgação
'É Proibido Proibir' - Caetano Veloso: lançada em 1968, esta canção era uma manifestação das grandes mudanças culturais que estavam ocorrendo no mundo na década de 1960. Trecho: Me dê um beijo meu amor / Eles estão nos esperando / Os automóveis ardem em chamas / Derrubar as prateleiras / As estantes, as estátuas / As vidraças, louças / Livros, sim
Foto: Divulgação
'Cálice' - Chico Buarque: datada de 1973, faz alusão à oração de Jesus Cristo dirigida a Deus no Jardim do Getsêmane: "Pai, afasta de mim este cálice". A ideia de Chico Buarque era que para quem lutava pela democracia, o silêncio também era uma forma de morte. Daí, ele resolveu explorar a sonoridade e o duplo sentido das palavras "cálice" e "cale-se" para criticar o regime instaurado. Trecho: De muito gorda a porca já não anda (Cálice!) / De muito usada a faca já não corta / Como é difícil, Pai, abrir a porta (Cálice!) / Essa palavra presa na garganta
Foto: Divulgação
'Apesar de Você' - Chico Buarque: lançada em 1970, durante o governo do general Médici. Para driblar a censura, ele afirmou que a música contava a história de uma briga de casal, cuja mulher era muito autoritária. A desculpa funcionou e o disco foi gravado, mas os oficiais do exército logo perceberam a real intenção e a canção foi proibida de tocar nas rádios. Trecho: Quando chegar o momento / Esse meu sofrimento / Vou cobrar com juros. Juro! / Todo esse amor reprimido / Esse grito contido / Esse samba no escuro
Foto: Divulgação
'Jorge Maravilha' - Chico Buarque: agora sob o pseudônimo de Julinho de Adelaide, criado para driblar a censura, Chico criou os versos "você não gosta de mim, mas sua filha gosta", para o que parecia relatar uma relação conflituosa entre sogro, genro e filha. Mas a real intenção era aludir à família do general Geisel. O militar odiava Chico Buarque, no entanto, a filha dele manifestava interesse pelo trabalho do compositor. Trecho: E como já dizia Jorge Maravilha / Prenhe de razão / Mais vale uma filha na mão / Do que dois pais voando / Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
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'O Bêbado e o Equilibrista' - composta por Aldir Blanc e João Bosco e gravada por Elis Regina: de 1979, representava o pedido da população pela anistia ampla, geral e irrestrita, um movimento consolidado no final da década de 1970. A letra fala sobre o choro de Marias e Clarisses, em alusão às esposas do operário Manuel Fiel Filho e do jornalista Vladimir Herzog, morto durante o período. Trecho: Que sonha com a volta / Do irmão do Henfil / Com tanta gente que partiu / Num rabo de foguete / Chora! A nossa Pátria Mãe gentil / Choram Marias e Clarisses / No solo do Brasil
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'Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores' - Geraldo Vandré: lançada em 1968 por um dos primeiros artistas a ser perseguido e censurado pelo governo militar. A música se transformou em um hino para os cidadãos que lutavam pela abertura política. Através dela, Vandré chamava o público à revolta contra o regime. Trecho: Há soldados armados / Amados ou não / Quase todos perdidos / De armas na mão / Nos quartéis lhes ensinam / Uma antiga lição: De morrer pela pátria / E viver sem razão
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'É' - Gonzaguinha: grande parte do público sempre associou Gonzaguinha às músicas de protesto e de resistência à ditadura militar, mas que tinham também esperança de que a situação melhorasse. Trecho: A gente quer viver a liberdade/ A gente quer viver felicidade/ A gente não tem cara de panaca/ A gente não tem jeito de babaca/ A gente não está/ Com a bunda exposta na janela/ Pra passar a mão nela
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'Geração Coca-Cola' - Legião Urbana: lançada em 1985, na música é possível notar o tom de indignação contra a soberania norte-americana sobre o Brasil e os demais países. Trecho: Quando nascemos fomos programados/ A receber o que vocês/ Nos empurraram com os enlatados/ Dos U.S.A., de nove as seis/ Desde pequenos nós comemos lixo/ Comercial e industrial/ Mas agora chegou nossa vez/ Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês
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'Que País é Este' - Legião Urbana: de 1978, foi composta ainda na época do Aborto Elétrico. Sem ironias, a letras questiona a sociedade brasileira. Trecho: Nas favelas, no senado/ Sujeira pra todo lado/ Ninguém respeita a constituição/ Mas todos acreditam no futuro da nação/ Que país é esse?
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'Mosca na Sopa' - Raul Seixas: de 1973, esta canção já foi considerada bastante controversa. Em uma de suas interpretações propostas, há a metáfora de que o povo é a "mosca" e, a ditadura militar "a sopa". Desta forma, o povo é apresentado como aquele que incomoda, que não pode ser eliminado, porque sempre existirão aqueles que se levantam contra regimes opressores. Trecho: E não adianta / Vir me detetizar / Pois nem o DDT / Pode assim me exterminar / Porque você mata uma / E vem outra em meu lugar
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'Acender as Velas' - Zé Keti: lançada em 1965, é considerada uma das maiores composições do sambista Zé Keti. A letra foi criada pelo relato dramático do cotidiano das favelas e faz uma crítica social às péssimas condições de vida nos morros do Rio de Janeiro, na década de 1960. Trecho: Acender as velas / Já é profissão / Quando não tem samba / Tem desilusão / É mais um coração / Que deixa de bater / Um anjo vai pro céu
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'Homem na Estrada' - Racionais Mc's: questionadoras, as músicas dos Racionais não podem ser esquecidas. Esta põe em pauta as situações precárias em que muitos brasileiros vivem. Trecho: Equilibrado num barranco incômodo, mal acabado e sujo/ porém, seu único lar, seu bem e seu refúgio/ Um cheiro horrível de esgoto no quintal/ por cima ou por baixo, se chover será fatal/ Um pedaço do inferno, aqui é onde eu estou/ Até o IBGE passou aqui e nunca mais voltou
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'Polícia' - Titãs: é uma canção que critica as ações policiais e a forma como a sociedade vê a polícia inserida nela. Foi escrita por Tony Bellotto após ter sido preso junto com Arnaldo Antunes por porte de heroína, e é cantada aos gritos, o que faz parecer um sentimento de raiva. Trecho: Dizem que ela existe/ Pra ajudar!/ Dizem que ela existe/ Pra proteger!/ Eu sei que ela pode/ Te parar!/ Eu sei que ela pode/ Te prender!/ Polícia!/ Para quem precisa/ Polícia!/ Para quem precisa/ De polícia