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Análise: Refavela e seus reflexos

Viagem de Gilberto Gil à Nigéria inspirou outras faixas além das que entraram no álbum de 1977

19 nov 2019 - 06h11
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A viagem à Nigéria foi tão inspiradora para Gilberto Gil que rendeu frutos além das dez faixas que entraram em Refavela. Antes de o álbum sair, Gil e a banda que o acompanhou à África gravaram um compacto pelo selo Polydor sob a alcunha de Brazil Very Happy Band. À época, poucos tomaram conhecimento do disquinho. Mas as duas músicas, Brazil Very Happy Band e a instrumental Tipo África, já antecipavam o mix de percussão, metais e suingue que daria a tônica do "disco negro para todas as cores", como Gil disse em gravação de 1977 que abria o show Refavela 40.

No estúdio da gravadora Phonogram, Gil registrou 13 canções para Refavela. Por uma questão de limitação do espaço do vinil, três ficaram de fora e só seriam reveladas para o público em 1999, em Satisfação - Raras & Inéditas, um álbum com raridades incluído na caixa Ensaio Geral.

É, que Sandra De Sá acabou lançando oficialmente em disco, é a mais contundente das sobras. A violência, a injustiça, a traição/Ainda podem perturbar meu coração/ Mas já não podem abalar a minha fé. Redescoberta em 2017, Gil a regravou ao lado da banda de Refavela 40 e a lançou como single, confirmando o poder e a atualidade da letra escrita 40 anos antes.

As outras faixas que ficaram de fora falam sobre músicos e o ofício da canção. Regravada para o disco Quanta (1997), Sala do Som é uma homenagem ao amigo Milton Nascimento. Músico Simples havia sido feita para Johnny Alf e gravada pelo precursor da Bossa Nova em 1974.

Refavela não foi unanimidade entre a crítica, que em resenhas cobrava um posicionamento político mais enérgico de Gil. O disco também marcou o fim de um ciclo na carreira de Gil. Depois de 11 anos de Phonogram, ele deixou a gravadora, que não quis bancar um ônibus usado para o músico sair em turnê. Contratado pela Warner, Gil daria início à internacionalização da carreira com Realce (1979).

Estadão
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