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Morre James Rado, um dos autores de 'Hair'

Ator e músico, o norte-americano foi vítima de insuficiência respiratória, aos 90 anos, em Nova York

23 jun 2022 - 17h58
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Um dos autores do musical Hair, que fez história na Broadway e no cinema (sob a direção de Milos Forman), o ator e músico James Rado morreu na terça-feira, aos 90 anos, em Nova York, vítima de insuficiência respiratória. Rado e Gerome Ragni começaram a compor o musical sem muita ambição, mas a entrada do maestro Galt McDermot no projeto fez da peça um sucesso sem precedentes, ao tratar de temas referentes aos costumes dos jovens dos anos 1960 - entre eles, Rado e Ragni tocavam em questões como liberação sexual, ativismo contra a guerra do Vietnã, homossexualidade e consumo de drogas.

Hair teve inúmeras montagens nos Estados Unidos e outros países, inclusive no Brasil. A montagem original revelou atores como Diane Keaton, hoje com 76 anos, que posteriormente trabalharia com o cineasta Woody Allen, e Hiram Keller (1944-1997), escolhido por Fellini para o papel de Ascyltus em seu filme de Satyricon. Keller contraiu hepatite C durante a temporada de Hair, em 1968, morrendo aos 53 anos em decorrência de um câncer no fígado. Também o compositor das músicas de Hair, o canadense Galt McDermot, morreu aos 89 anos, de causa não revelada.

O espetáculo Hair demorou a chegar ao teatro por causa dos temas polêmicos abordados por James Rado e Gerome Ragni, vítima de câncer fatal, em 1991. Amor livre, militância contra o envolvimento dos Estados Unidos na guerra do Vietnã, uso abusivo de drogas e nudez dos atores no epílogo do musical exigiram a coragem de um produtor como Joseph Papp, produtor do New York Shakespeare Festival, tradicional evento anual no Central Park.

Hair finalmente estreou no Public Theatre, em Nova York, em 1967, depois passou por uma casa noturna que não mais existe, Cheetah, até ser transferido para o Baltimore Theatre, na Broadway, em 1968. A despeito da ousadia das letras e das música de Hair, o co-autor Galt McDermot tinha pouco a ver com o estilo de vida (hippie) de Rado e Ragni - era considerado o "careta" da turma com seus cabelos curtos e ternos sob medida. Duas das canções de Hair defendem as experiências homossexuais (Sodomy) e o consumo de drogas pesadas (Haxixe).

Se Hair foi um escândalo nos EUA, imagine no Brasil da ditadura militar. A peça foi montada pela primeira vez no País em 1969, revelando a atriz Sonia Braga. Canções como Aquarius e Good Morning Starshine foram consagradas também entre os jovens brasileiros. A transposição para o cinema, feita em 1979 pelo checo Milos Forman, ajudou a sedimentar a fama desse musical que começou com a simples contemplação de uma obra visual do artista pop norte-americano Jim Dine, hoje com 87 anos. A peça de Dine era uma pintura com um tufo de cabelo e chamava-se Hair, claro.

James Rado queria mesmo fazer um dos papéis na montagem original de Hair, o do caipira Claude Hooper Bukowski, que é recebido por uma tribo hiipie em Nova York antes de se alistar para lutar no Vietnã. No entanto, o diretor do musical, Gerald Freedman, considerou o ator velho demais (Rado tinha 35 anos) para o papel e ficou apenas com Ragni, três anos mais novo, no papel de George Berger.

Hair teve 1.750 apresentações no Baltimore Theater antes de ser levada ao cinema por Forman. Suas músicas foram gravadas tanto por músicos pop como por grandes nomes do jazz (como Nina Simone). Rado e Ragni, que foram parceiros - o ator revelou o caso amoroso numa entrevista, em 2008 -, romperam depois de Hair. Rado nunca se casou, revelando que Ragni foi o amor de sua vida.

Estadão
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