María Negroni na Flip: 'Na literatura, obsessão e forma se unem para dizer o que não pode ser dito'
Festa Literária Internacional de Paraty confirma a participação da escritora argentina no evento de julho; leitora de Clarice e de Leminski, ela é dona de uma obra ímpar que inclui 'O Coração do Dano', uma carta de amor e rancor
A escritora argentina María Negroni já esteve no Brasil muitas vezes, mas nunca para um festival literário. Nascida em 1951 em Rosário, ela é dona de uma obra respeitada, premiada, traduzida - e ainda pouco conhecida no Brasil. Com apenas dois livros publicados aqui, A Arte do Erro (100/cabeças), em 2022, e O Coração do Dano (WMF Martins Fontes), em 2023, e agora com o convite aceito para participar da Festa Literária Internacional de Paraty, sua obra singular deve chegar a mais leitores.
A Flip 2025 será realizada entre os dias 30 de julho e 3 de agosto. Além de María Negroni, que vem justamente na edição que homenageia Paulo Leminski (1944-1989), de quem é leitora e fã - e que aparece em O Coração do Dano - já foram confirmados o italiano Sandro Veronesi, a argentina Dolores Reyes, a mexicana Dahlia de la Cerda e os brasileiros Lilia Guerra, Lilian Sais e Sérgio Vaz. Veja mais detalhes abaixo.
Nesse sentido, ela aceita o termo autobiografia, ou ficção de origem. Porém esclarece, citando o poeta russo Joseph Brodsky, que a biografia de um escritor consiste exclusivamente na distorção da linguagem que ele usa. "O livro, em outras palavras, é feito do que eu não sei. Nele, eu a um só tempo me protejo e me ofereço, sem qualquer apoio além de uns farrapos de linguagem. O texto sempre vale por aquilo que lhe falta. E se me lancei ao 'eu' - que é o pronome do imaginário - foi para ouvir melhor as cólicas de uma voz, para brincar - como queria Barthes - com o corpo da minha mãe", diz.
Ela finaliza: "Nunca me interessei em traduzir qualquer realidade. Queria a explosão, a diáspora, a invenção de um sujeito na e através de sua voz. Como a infância, que sempre vê o mundo como se fosse uma cartilha ilustrada, substituindo a percepção pelo encantamento, eu queria devaneios que me libertassem do meu nome, da minha história".
O Coração do Dano
- Autora: María Negroni
- Tradução: Paloma Vidal
- Editora: WMF Martins Fontes/Selo Poente (136 págs.; R$ 59,90)
A Arte do Erro
- Autora: María Negroni
- Tradução: Ayelén Medail e Diogo Cardoso
- Editora: 100/cabeças (116 págs.; R$ 44,90)
Lista de autores já confirmados para a Flip 2025
Estrangeiros
- María Negroni: Argentina nascida em 1951 na cidade de Rosário, María Negroni viveu anos nos Estados Unidos, onde estudou literatura - inclusive com uma bolsa Guggenheim. No Brasil, ela publicou A Arte do Erro (100/cabeças, 2022) e O Coração do Dano (WMF Martins Fontes/Selo Poente, 2024). É autora de livros de poemas, romances, ensaios e outros inclassificáveis, entre os quais Museo Negro (1999), Galería Fantástica (2008) e Objeto Satie (2018). Ganhou em 2009 o Prêmio Internacional de Ensaio Siglo XXI por Galería Fantástica. Hoje, além de escrever, ela dirige o mestrado em Escrita Criativa da universidade Tres de Febrero, em Buenos Aires.
- Sandro Veronesi: Italiano nascido em Florença, em 1959, Sandro Veronese começou a ser publicado no Brasil pela Rocco, que lançou, nos anos 2000, obras como Caos Calmo, A Força do Passado e XY. Conquistou novos leitores recentemente com O Colibri (Autêntica Contemporânea, 2024), vencedor do Prêmio Strega. Sai, também pela Autêntica, em 30/5, Setembro Negro, um romance situado na Toscana que acompanha o amadurecimento de um garoto de 12 anos depois de sua primeira grande dor.
- Dolores Reyes: Nascida em 1978, em Buenos Aires, Dolores Reyes é escritora e ativista que sofreu tentativas de censura pelo governo argentino. Em sua obra, ela atualiza o realismo mágico latino-americano dando um toque mais brutal. É autora dos romances Cometerra (Moinhos, 2022) e Miséria (Moinhos, 2024), que abordam violências contra as mulheres.
- Dahlia de la Cerda: Formada em Filosofia e uma das fundadoras do coletivo Morras Help Morras, organização que desenvolve projetos de justiça reprodutiva e aborto seguro em seu país, a mexicana Dahlia de la Cerda, nascida em 1985, é autora de Cadelas de Aluguel (DBA, 2025)
Brasileiros
- Lilia Guerra: Nascida em São Paulo em 1976, ela estrou na literatura em 2014 e publicou, entre outros, Perifobia (Todavia, 2025), O Céu Para os Bastardos (Todavia, 2023) e Rua do Larguinho (Patuá, 2021). Além de ser escritora, Lilia Guerra trabalha como auxiliar de enfermagem.
- Lilian Sais: Escritora e preparadora de textos, Lilian Sais nasceu em São paulo em 1985. Ela ganhou o Prêmio Cepe Nacional de Literatura na categoria poesia com Motivos Para Cavar a Terra. É autora ainda da plaquete de poemas Palavra Nenhuma (Círculo de Poemas, 2024) e de O Livro do Figo (Edições Macondo, 2023), em poesia, e dos romances O Funeral da Baleia (Patuá, 2021) e A Cabeça Boa (DBA, 2025).
- Sérgio Vaz: Um dos principais nomes da literatura periférica, Sérgio Vaz nasceu em Ladainha (MG) em 1964, é criador da Cooperifa e autor de obras como Colecionador de Pedras (2007), Flores da Batalha (2023), Flores de Alvenaria (2016) e Literatura, Pão e Poesia (2011), todos pela Global e abarcando diversos gêneros, além de publicações independentes.