Letícia Colin diz que recusaria personagem famosa nos dias de hoje
Letícia Colin reconheceu problemas de representatividade. Produção de 2018 foi criticada por elenco majoritariamente branco.
A atriz Leticia Colin declarou que atualmente recusaria interpretar a personagem Rosa da novela "Segundo Sol", exibida em 2018. Ela fez essa afirmação durante participação no programa "Quem É Você nesse Rolê", apresentado por Thais Fersoza no YouTube, nessa quarta-feira (24). Colin explicou que o papel deveria ter sido destinado a uma atriz baiana, reconhecendo questões de representatividade.
Durante a entrevista, a atriz respondeu sobre qual declaração dada anteriormente mudaria hoje, optando por falar sobre sua participação na produção da TV Globo. Apesar de reconhecer a importância do papel para sua carreira, Colin demonstrou uma nova perspectiva sobre representatividade.
"Não era certo [fazer a novela]", afirmou a atriz. "Eu me lembro que foi uma personagem que fez muito sucesso, que foi ótima pro meu trabalho, porque eu fiz uma composição grande de sotaque, de comportamento, fui pra Bahia, fiquei um tempão lá", declarou Colin durante a entrevista.
A artista, considerada uma das principais de sua geração no Brasil, abordou o tema por iniciativa própria na conversa com Thais Fersoza. Para interpretar Rosa, Colin passou um período na Bahia e trabalhou no desenvolvimento do sotaque e comportamento da personagem.
"A personagem teve destaque, foi crescendo na trama, eu fazia casal com o Chay [Suede]. Eu lembro que fiquei muito feliz com isso, só que hoje eu criticaria. Eu acho que esse lugar realmente teria que ser de uma atriz de lá, nordestina, que tivesse a ver com essa personagem na vida real", afirmou a atriz.
A novela "Segundo Sol", escrita por João Emanuel Carneiro, recebeu críticas em 2018 por apresentar elenco majoritariamente branco, mesmo sendo ambientada em Salvador, cidade com grande população negra. O próprio autor posteriormente reconheceu falhas na concepção da história.
Colin refletiu sobre a dificuldade de recusar papéis no meio artístico brasileiro. "Eu falaria diferente sobre isso que eu fiz. Eu já defendi que a gente pode fazer qualquer papel, mas a gente não pode fazer qualquer papel. Isso é uma discussão que vem acontecendo, e eu mesmo tive isso na minha vida, tenho isso na minha trajetória. Como ator e atriz, a gente tem que se colocar", disse.
A atriz também abordou os desafios da carreira artística no país. "Porque a gente está sempre falando: 'Eu quero fazer!'. Ainda mais nesse meio, em que é muito difícil pegar um bom papel, é quase um milagre você ser artista no Brasil. Eu queria ter conseguido agir diferente naquele momento", declarou Colin.
Apesar das críticas à própria escolha, a atriz reconheceu a qualidade de seu trabalho. "Eu fiz bem, tenho orgulho do meu trabalho, porém, não era o certo", afirmou.
"Dizer 'não' é desconfortável, mas é preciso. Porque não é aquele 'não' para você ter mais tempo, é para você ter menos espaço. Como mulher branca, com todos os seus privilégios, e a gente precisa assumir esse 'não'", concluiu Colin.