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Assassinato de ator de 'Chiquititas' e dos pais dele completa uma semana e filha presta homenagem

'Nenhum texto e nenhuma foto jamais vai se igualar à importância e a dor que está sendo cada minuto da última semana', escreveu Camilla Miguel

17 jun 2019 - 12h43
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O ator Rafael Henrique Miguel, o pai, João Alcisio Miguel, e a mãe, Miriam Selma Miguel, que foram assassinados em junho de 2019.
O ator Rafael Henrique Miguel, o pai, João Alcisio Miguel, e a mãe, Miriam Selma Miguel, que foram assassinados em junho de 2019.
Foto: Instagram/@ / Estadão

Rafael Henrique Miguel, de 22 anos, o pai, João Alcisio Miguel, de 52 anos, e a mãe, Miriam Selma Miguel, de 50, foram assassinados no domingo, 9. De acordo com a polícia, o pai da namorada do ator, o comerciante Paulo Curpertino Matias, de 48 anos, disparou contra as três vítimas e fugiu.

O ator Rafael Henrique Miguel participou da novela Chiquititas, do SBT, interpretando o papel de Paçoca. Também ficou conhecido na infância ao fazer um comercial de televisão em que um menino pede que a mãe compre brócolis, de maneira insistente.

Neste domingo, 16, o crime completou uma semana. Camilla Miguel, irmã do ator e filha do casal, decidiu prestar uma homenagem a família que perdeu. Em uma espécie de carta individual aberta, ela escreveu como se conversasse com cada um deles através do Instagram.

Na primeira homenagem, a jovem publicou uma foto do irmão carregando a filha dela, ainda pequenina. "Rafa, até a primeira metade da minha vida fomos eu e você compartilhando a irmandade. Até os meus 22 anos, dividimos quarto. Passamos a infância juntos, entre brigas e brincadeiras (...) Tiveram noites que você falou dormindo e até caiu da beliche porque estava sonhando, segundo você, que estava defendendo um gol", escreveu.

Camilla relembrou os momentos da infância e juventude que passou ao lado de Rafael e que o rapaz sempre foi educado com todo mundo. "Nunca fez pouco caso, mesmo quando criança, com cada pessoa que te parava a cada passo para perguntar: 'Você gosta de brócolis mesmo?'. Era incansavelmente educado", escreveu, mencionando o sucesso que o garoto fez com o comercial na TV.

Na carta, Camilla diz que apoiava o desejo do irmão de viajar pelo mundo, experimentar outras coisas e sair da depressão: "Saber que você estava na terapia e o carinho que a mãe te dava era um alívio sem tamanho para mim".

em memória ao Rafael, meu irmão. Rafa, até a primeira metade da minha vida fomos eu e você compartilhando a irmandade. Até os meus 22 anos dividimos quarto. Passamos a infância juntos, entre brigas e brincadeiras. Entre casa e set. Entre SP e Rio. E você foi meu orgulho. Você era o pirralho que me enchia, mas era doce. Era carinhoso com quem amava. Mesmo quando, lá pelos 2 anos de idade, você insistia em fazer cara de bravo o tempo todo e falar "Bigão". E quando sua mania era fazer pose de super-homem pra toda-santa-foto. Tiveram as noites que você falou dormindo, e até caiu da beliche porque tava sonhando, segundo você, que estava defendendo um gol. Nossa banda predileta era Linkin Park e em 2012 eu consegui realizar esse sonho nosso conjunto de ir a um show. Passávamos a tarde assistindo Drake e Josh e Manual de Sobrevivência Escolar do Ned. Aí de noite o pai chegava e brincava de monstro e dançava com a gente. Você era pirralho mas fazia tudo o que eu, folgada, pedia, e aceitou sem falar nada até quando, no alto dos meus 19 anos, pedi pra dormir com você porque tava com medo depois de assistir Atividade Paranormal. Menino bom que cumprimentava todo mundo quando chegava, e se saía e voltava depois de 10 minutos, cumprimentava de novo. Fazia questão de dar beijo de bom dia, toda santa manhã. E nunca fez pouco caso, mesmo quando criança, com cada pessoa que te parava à cada passo pra perguntar "Você gosta de brócolis mesmo?". Era incansavelmente educado. Você queria morar fora e eu tentava desesperadamente te empurrar pra fazer isso. Na nossa última conversa você me pediu dicas de viagem porque queria conhecer outro lugar e eu só dizia VAI. Dá um jeito, você consegue, VAI. Eu queria que você fosse experimentar outras coisas, sair de casa, ir pro rolê, ir pro mundo, porque eu não queria mais te ver na depressão (que eu também passei, você era o único que sabia). Saber que você estava na terapia e o carinho que a mãe te dava era um alívio sem tamanho pra mim. Eu queria te ver feliz. Queria sentar pra tomar uma cerveja, te levar pra sair com a gente, conversar, trocar memes de The Office ou Friends, te ver no Standup se queria fazer Standup. (continua)

Uma publicação compartilhada por Camilla Miguel (Camis) (@cahmiguel) em

Sobre a mãe, Camilla também escreveu como se estivesse conversando com ela. "Você virou uma das melhores amigas, de conversar todos os dias no WhatsApp (desde que saí de casa), comentando blogueiras como se fossem nossas amigas, assistindo Gilmore Girls ao mesmo tempo, me ajudando quando dúvidas surgiam", disse.

Ela também falou sobre a relação com a cozinha e o quanto tentou aprender com a mãe. "Eu tentava cozinhar tão bem quanto você e pedia desesperada o segredo. E nunca acertei. Sua comida era um carinho e a falta disso que eu vou sentir não dá para dimensionar", desabafou.

Camilla também lembrou da felicidade que a mãe sentiu ao descobrir que seria avó. "Você esteve cheia de amor e alegria com a chegada da sua neta. Eu nunca vou aceitar não ter você e o pai pra ver e participar do crescimento dela e dela não lembrar de vocês. Me dói cada célula", disse.

em memória à Mirian, minha mãe. Mãe, como somos iguais. Não digo só fisicamente, mas tanto de mim veio de você. Sou uma bela mistura da sua personalidade com a do pai, mas não tem jeito, de você "puxei" mais coisas, e talvez por isso a gente batia tanto de frente e tivemos tantos confrontos quando comecei a crescer. Os seus defeitos eram os meus também. Mas nos últimos anos a gente entendeu isso e a nossa relação se tornou uma amizade. Ainda com confrontos, mas elas não deixam de existir nunca. Você virou uma das melhores amigas, de conversar todos os dias no WhatsApp (desde que saí de casa), comentando blogueiras como se fossem nossas amigas, assistindo Gilmore Girls ao mesmo tempo, me ajudando quando dúvidas surgiam, ou quando eu tentava cozinhar tão bem quanto você e pedia desesperada o segredo. E nunca acertei. Sua comida era um carinho e a falta disso que eu vou sentir não dá pra dimensionar. Fui sua copilota, parceira. Sou grata por toda dedicação que você teve em cuidar da gente integralmente, em ouvir quais eram meus sonhos e me apoiar. Em me ensinar a ter o mesmo cuidado, respeito e capricho. Eu entro todo dia nas nossas conversas esperando você enviar "Bom dia Pitus". Relembro todos os dias como choramos juntas quando, no seu aniversário, dei de presente a notícia da Mariá, e todo o amor coruja que você deu pra ela, louca pra ser a avó que "estraga" mimando até não poder mais. O meu maior sonho era te levar pra viajar. Conhecer Orlando ou NY como era seu maior sonho. Eu queria proporcionar pra vocês de volta tudo o que sacrificaram por nós. Você amava maquiagem, e estava virando entusiasta. Chegava e no almoço assistia, nesta ordem, os vídeos do dia da @flaviacalina, da @karolpinheiro, e da @tacielealcolea. Sua praia de verdade era passear no shopping, comer no KFC. Altruísta, queria ajudar quem amava e adorava fazer isso se dedicando em tantos compromissos na igreja e fazendo bolos. Seu capricho tava na cozinha, na sua letra, no seu caderno colorido, em receber bem as pessoas. (continua)

Uma publicação compartilhada por Camilla Miguel (Camis) (@cahmiguel) em

Ela encerra a série de homenagens com três fotos do pai. "Você foi o pai brincalhão que chegava do trabalho brincando de 'monstro' (...) Foi avô babão que não perdia um dia de fotos e vídeos da neta. Chegava do trabalho assobiando desde a entrada já anunciando o corujão chegando", afirmou.

Camilla Miguel relata que o pai nunca os deixava sozinhos: "Estava sempre do nosso lado seja para fazer rir ou proteger. Nosso apego com você não foi à toa. Foi resultado do próprio apego que você nos deu, transformados na maior segurança que poderíamos ter".

em memória ao João, meu pai. Pai, se tinha alguém que realmente, realmente, sem dúvidas, era a melhor pessoa do mundo, era você, pai. Feliz, alegre, não conseguia chegar nun lugar sem cativas as pessoas. E não sendo aquela pessoa inconveniente, sabem? Ele era querido. Mandava a ver num churrasco, e sempre dava um jeito de chegar no comando da grelha mesmo indo em churrasco onde não conhecia quase ninguém. Conquistada todos. Impossível era estar do seu lado e não rir, até das piadinhas mais clichês tipo a do pavê. Você era feliz e alegre. Altruísta. Dedicado. Não sei o que falar mais de você pai. Você era nota 10 e eu aposto que quem te conhecia está lendo agora balançando a cabeça concordando. Não é à toa que nossa relação pai e filha era a mais carinhosa. E eu pedia desde pequena cheia de medos pra nunca ver você partir. Você foi o pai brincalhão que chegava do trabalho brincando de "monstro" com a gente fazendo os famosos mister garra, mister lambe e o mister monstro. tinha também os dias que a gente dançava músicas dos anos 60 no LP. Foi meu amigo, de brindes ?? e game of thrones, que aliás, a mãe não aguentava mais você assistindo num looping eterno. Foi o avô babão que não perdia um dia de fotos e vídeos da neta, e quando estávamos dormindo na casa de vocês, ficava maluco de felicidade. Eu fingia que tava dormindo mas via você subindo um degrau por minuto e parando pra suspirar por ela. Ou de manhã encantado com ela dormindo, deitava do lado do colchão e suspirava e babava mais e mais. Chegava do trabalho assobiando desde a entrada já anunciando o corujão chegando. Soltava também peidos demais, descaradamente, fedidos, e ria à toa mesmo me vendo ficando p da vida. Ultimamente vinha me dando um baita orgulho, junto da mãe, pelo hábito e paixão que criaram por caminhar/correr. Me inspirou demais ver que você conseguia correr 10km em 1h. Pensei: eu também consigo! E aquelas corridas e até maratonas que você planejava ainda pra esse ano, pai, eu vou dar um jeito de um dia conquistar pra você. (continua)

Estadão
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