Estreia de filme em Sarajevo destaca harmonia entre muçulmanos e judeus
Um filme que mostra como os muçulmanos e judeus de Sarajevo se salvaram mutuamente em tempos de guerra estreou na capital da Bósnia nesta semana, destacando o potencial para a harmonia inter-religiosa, apesar da renovada polarização global sobre a guerra de Gaza.
O curta-metragem "Sevap/Mitzvah" (Uma Boa Ação), da diretora norte-americana Sabina Vajraca, conta a história real de uma mulher muçulmana que escondeu uma família judia em sua casa e a ajudou a escapar da Sarajevo ocupada pelos nazistas na década de 1940.
Cinquenta anos depois, Zejneba Hardaga -- a primeira mulher muçulmana reconhecida como "Justa entre as Nações" pelo museu israelense do Holocausto por ter arriscado sua vida para salvar judeus -- foi ela própria resgatada da capital bósnia sitiada, por uma família judia.
"Essa é uma história sobre vizinhança, sobre amizade entre muçulmanos e judeus, sobre a essência da Bósnia-Herzegóvina e de Sarajevo", disse Vladimir Andrle, presidente da instituição de caridade judaica La Benevolencija, sediada em Sarajevo.
Vajraca, nascida na Bósnia, disse que a inspiração para o filme veio de testemunhar como muçulmanos e judeus estavam divididos nos Estados Unidos, em contraste com a Bósnia.
"É muito raro encontrar na América atual um judeu e um muçulmano que se sintam seguros ao lado um do outro e todas as sinagogas e mesquitas são protegidas pela polícia", disse, à Reuters após a estreia no prédio reformado da antiga Biblioteca Nacional, que foi incendiada em tempos de guerra.
A projeção do filme foi organizada para um grupo limitado de convidados das comunidades muçulmana e judaica e jornalistas.
CIDADE DE MAIORIA MUÇULMANA
A maioria dos cidadãos de Sarajevo é muçulmana e sente grande empatia pelos palestinos em Gaza, devido à morte e à destruição que sua cidade também sofreu durante o cerco dos sérvios-bósnios entre 1992 a 1995.
Andrle disse que houve algumas ameaças nas redes sociais contra a comunidade judaica após o ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro, mas houve mais solidariedade do que antipatia.
"Se um me ameaçou, cinco me defenderam", disse.
Durante a Segunda Guerra Mundial e a guerra de 1992-1995 na Bósnia, os historiadores muçulmanos salvaram o Sarajevo Haggadah, o livro judaico do Século 14 sobre os ritos do Pessach, que encontrou um lar na cidade vindo da Espanha. Ele se tornou um símbolo da coexistência religiosa na Bósnia.