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'Esquecia que estava só': Tamara Klink conta o que leu durante inverno no Ártico; conheça biblioteca

Após invernar em solitário, velejadora voltou à casa dos pais, em São Paulo, onde estão livros afetivos da família Klink, os diários de viagem e obras clássicas de navegação; assista ao vídeo

10 abr 2025 - 17h14
(atualizado às 17h27)
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Tamara Klink enfrentava o rigoroso inverno da Groenlândia, com temperaturas de até 40 graus negativos, quando se apaixonou por uma obra bem brasileira: "Durante a viagem, eu finalmente encarei Grande Sertão: Veredas. E virou meu livro preferido. Todo mundo deveria ler". Sem nenhum humano por perto, os livros se tornaram companhia fundamental durante sua viagem no gelo.

Em 2024, a velejadora cruzou o Círculo Polar Ártico, indo da França à Groenlândia, ancorou seu barco a um fiorde e se instalou durante oito meses no local. Assim, ela se tornou a primeira mulher a passar o período de invernagem sozinha no Ártico. Três anos antes, ela já tinha cruzado o Oceano Atlântico - também em solitário, uma travessia que originou seu livro mais recente: Nós, publicado pela Companhia das Letras.

De volta à casa da família, na zona sul de São Paulo, Tamara reencontrou a biblioteca que a fez se apaixonar pelo mar. "Meu pai [o velejador e escritor Amyr Klink] falava com tanto gosto que dava vontade de ler. Foi esse amor que me influenciou a ler os livros em francês e as obras de viagem." Ao Estadão, ela mostrou um pouco do que leu no Ártico e alguns de seus diários de viagem, que escreve desde criança.

Companhias no gelo

Durante a invernagem, Tamara estima ter lido entre 60 e 70 livros. "Mas uns eram fininhos. Os da Annie Ernaux eu li todos. Pegava e lia em um dia." A velejadora, que completou 28 anos no mês passado, levou alguns livros físicos dentro do barco e, quando eles se esgotaram, teve que se contentar com a leitura na tela de seu smartphone.

Clássicos da navegação

A biblioteca dos Klink não esconde o objeto de fascínio da família. São milhares de publicações sobre viagem e navegação. Sejam elas histórias reais, como o naufrágio do barco Endurance e a heroica sobrevivência da tripulação do britânico Ernest Shackleton. Ou narrativas ficcionais, como o clássico Moby Dick, de Herman Melville.

Foi uma obra de Sally Poncet, Le Grand Hiver (O Grande Inverno, em tradução livre), que motivou o pai, Amyr Klink, a invernar, revela a filha. A obra, lançada em 1982, e que não ganhou edição em português, descreve a ida de Sally e do marido, o explorador Jérôme Poncet, à Antártida.

"Naquele momento, o continente antártico era visto como um lugar inacessível, impossível para a vida humana. Quem ia até lá eram especialmente cientistas. Era muito raro uma pessoa ir por prazer", explica Tamara. "Foi um livro inspirador para o meu pai e também para mim."

As obras de Amyr, que também se tornou um escritor de navegação, como Paratii: entre dois pólos, foram outras referências para a filha durante as empreitadas marítimas. "Era muito legal poder ver coisas que meu pai tinha descrito, fenômenos que ele viu com os próprios olhos e que eu estava vendo no momento em que eu lia."

Os diários de bordo

Tamara e as irmãs, Laura e Marina, foram incentivadas desde cedo pelos pais a registrarem as viagens da família. Os diários renderam a primeira publicação das três, Férias na Antártica, livro infantil que até hoje é adotado por escolas primárias.

"De vez em quando eu abria o diário das minhas irmãs, mas meio sem querer, porque eles são todos iguais. E também porque, quando a gente era criança, nem sempre lembrava o que tinha acontecido, e aí pegávamos uma das outras pra roubar, sabe? 'Roubar' o trecho, a memória", relembra Tamara.

Os diários da última viagem ao Ártico já estão separados para dar origem à próxima obra da autora. Mas o processo de transposição das memórias para as páginas de um livro é doloroso, segundo Tamara.

"Por mais que todo mundo diga que goste do livro, para mim é muito triste. Porque sempre vai ser uma ficção. Por mais que eu tente ser o mais fiel à realidade, eu sei que é ficção porque as coisas não vieram em palavras."

Estadão
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