'Um presente para a geração dos anos 1980', diz diretor de O Melhor Amigo
Musical de Allan Deberton (Pacarrete) traz referências dos anos 1980 e 1990, e participações de Cláudia Ohana, Mateus Carrieri e a cantora Gretchen
Com direção de Allan Deberton, do premiado Pacarrete (2019), O Melhor Amigo chega aos cinemas a partir desta quinta-feira (13), reiterando o quão irresistíveis são as histórias de amor, ainda mais se embaladas por hits atemporais, que vivem há anos em nossos corações.
Na história, que é baseada em um curto homônimo do cineasta cearense, lançado em 2013, o jovem arquiteto Lucas (Vinicius Teixeira, Justiça) está frustrado com o seu relacionamento com Martin (Léo Bahia, Ninguém Entra, Ninguém Sai) e decide viajar sozinho para Canoa Quebrada, no Ceará, para espairecer.
Porém, no cenário paradisíaco, Lucas reencontra uma antiga paixão da faculdade, o sedutor Felipe (Gabriel Fuentes, Nos Tempos do Imperador), o que o leva a embarcar em uma jornada por questões mal resolvidas do passado, descobertas importantes sobre si mesmo e novas possibilidades para o futuro.
Com participações participações de figuras icônicas dos anos 1980 e 1990, como a cantora Gretchen e os atores Cláudia Ohana e Mateus Carrieri, O Melhor Amigo é uma celebração àquela época e um presente para toda uma geração, como define o próprio Allan Deberton em entrevista à Rolling Stone Brasil. Confira o papo, que ainda contou com a participação de Vinicius Teixeira, a seguir:
Quando surgiu a ideia de transformar o curta em um longa?
Allan Deberton:O curta caiu nas graças em 2013, no YouTube, e repercutiu muito bem. Foi lá que, ao ler os comentários dos espectadores, eu percebi que existia uma empatia com o personagem do Lucas. Muita gente se via no lugar do personagem, no sentido de primeiro amor, da questão sexual, da identidade e também desse tema, que é essa introspecção do sentimento. Pessoas que trazem essas questões internas e românticas num lugar mais interno mesmo. Isso fez com que houvesse essa identificação.
Ao mesmo tempo, tinha uma sensação de que aquele curta fazia parte de um longa e estava faltando algo. As pessoas reclamavam: 'Cadê o resto do filme?', 'Agora que está ficando bom, para onde vai?'. Fiquei com essa sensação de que poderia ser um bom exercício de transformar essa história em longa-metragem.
E aí, mais ou menos na mesma época, a gente teve uma ótima experiência com o filme do Daniel Ribeiro, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, e foi dentro desse sentimento que a gente acreditou que deveria fazer de O Melhor Amigo, de fato, um longa-metragem. E, com isso, veio o desafio de transformar em longa, de enlarguecer, de trazer novos personagens, de entender como seria essa reconstrução do projeto.
Como foi a recepção do público em relação ao O Melhor Amigo na pré-estreia?
A. D.:Foi ótima! A gente percebe que o público está muito feliz em ver uma comédia leve, com esse colorido, com essa musicalidade, e que se passa no Nordeste. Tentando colocar numa caixinha, O Melhor Amigo é o Mamma Mia! do Nordeste. Eu acho que foi um pouco da intenção, de trazer o brilho dessas ruas e contar uma história de amor.
E por que um musical?
A. D.:Foi fundamental manter o colorido que tinha o curta, o lugar musicado também, porque ali já tinha uma sugestão de musicalidade através da dança, através da própria trilha sonora, os personagens protagonistas, é claro, e algumas cenas que eu vi que repercutiam muito bem no curta-metragem, como a cena do telefone, a cena do brigadeiro.
No curta não existia um reencontro, eles já estavam meio que num status quo de relação, mas ao formar o longa-metragem, querendo manter um pouco da história dos personagens, eu disse: 'Vamos fazer com que o longa-metragem, depois de tanto tempo, seja um reencontro'.
E, então, com esse reencontro, também veio algo que serviu muito bem para a sua própria linguagem, que foi buscar a nostalgia, que também se reflete na musicalidade da história, porquea gente se apropriou de músicas dos anos 1980, dos anos 1990. No lugar artístico mesmo, falando sobre os sentimentos, até porque essas músicas são muito narrativas. Elas são verdadeiros poemas de amor, sentimentos profundos, histórias, revelações, então foi muito legal fazer a versão do longa-metragem entendendo que o musical foi se incorporando na própria história.
Não foi um objetivo inicial, mas quando a gente viu que começamos a ter acesso a um monte de canções incríveis e que essas músicas estavam dentro da narrativa, encaixando-se na narrativa, aí a gente foi brincando com o gênero.
Como você chegou ao elenco de O Melhor Amigo?
A. D.:A gente tinha a ideia de alguns nomes para as participações especiais, porque eram personagens mais dedicados. Mas, para o papel protagonista, o desejo era fazer uma audição nacional, buscando pessoas com competência para os musicais. Ou seja, além da performance, era importante que o corpo também contasse uma história e que a questão vocal estivesse presente.
Seria ótimo se tivéssemos no elenco pessoas com experiência em teatro musical, porque elas já sabem como as coisas funcionam, e o cinema musical realmente bebe muito da fonte do teatro musical. A própria estrutura de pré-produção é bem parecida com a de um espetáculo. Tivemos a sorte de encontrar o Vinicius Teixeira, que fez um excelente teste. Na verdade, antes de ver o teste dele, eu já o tinha assistido no espetáculo O Livro de Mórmon. Foi ótimo, essa peça viralizou muito, a Fernanda Montenegro ficava na plateia, e sempre tinha pessoas curiosas querendo entender o sucesso daquela peça.
O Léo Bahia, que também está no filme no papel de Martin, fez oO Livro de Mórmon também. Tivemos a felicidade de ver o teste deles e começamos a conversar, desenvolvendo essa parceria. O Gabriel Fuentes, da mesma forma, tinha um musical solo, [mas] a gente sabia que o Gabriel não tinha a mesma experiência de teatro musical que o Vinicius e o Léo, e para ele talvez tenha sido mais desafiador. Mas ficamos muito felizes com o resultado. Ele foi um ator que se entregou totalmente ao projeto, dedicando-se muito ao trabalho de preparação do personagem. Fez um laboratório com bugueiros, conviveu no local, fez uma ampla pesquisa. E o Gabriel é incrível. Ele tem esse corpo que comunica, traz essa energia e serve muito bem para a história.
Vinicius, você e o Gabriel Fuentes já se conheciam antes? Como foi a preparação para vocês?
Vinicius Teixeira:A gente não se conhecia. A gente se conheceu no dia que a gente chegou em Fortaleza, no aeroporto. A gente se viu e já sabíamos o que os dois iam fazer. A gente se conheceu ali, mas ficamos lá um mês antes de começar a filmar, fazendo um processo de preparação com a Georgina Castro.
E lá, no início, chegamos só nós dois, então a gente foi ficando muito próximo. A gente fazia tudo junto: comia junto, ia para a academia junto, estava sempre no ensaio junto. E a gente realmente se deu muito bem, construí,os uma relação muito gostosa, fomos muito parceiros no processo de preparação [e] no processo de filmagem. Foi realmente uma relação que se construiu ali com muita honestidade.
Como foi estrelar um musical?
V. T.:Foi uma delícia. Eu amo música, eu escuto música o dia inteiro na minha vida, eu amo cinema, eu amo musical. Já fiz alguns musicais no teatro, então ter a experiência de fazer um musical no cinema foi um presente, foi um sonho realizado. Várias vezes eu estava no set e eu via aqueles primeiros musicais acontecendo e falava: 'Que incrível que isso está acontecendo aqui no Brasil dessa forma.' Foi um privilégio incrível.
E como foi encarar essas cenas de dança?
V. T.: Eu sou um ator que canta e dança. Que se vira nas coisas, sabe? Eu gosto muito, mas eu não sou um bailarino, não sou um cantorzão, mas eu gosto muito. Já estudei, e é isso, essa vivência do teatro, do teatro musical, do palco, [que] faz com que o corpo tenha uma memória que reconheça.
A gente teve bastante ensaio também para as coreografias, essa coreografia de "Geme Geme" é realmente mais pesada, tem uma energia ali. Mas é isso, eu me sinto bem, eu gosto de dançar, sempre fui uma criança que gostava de dançar, gostava de ouvir música, então acho que meu corpo também vibra feliz nisso. Eu venho com tesão, com vontade de fazer. Eu acho que de, alguma forma, isso também, mais do que a técnica, se traduz em uma energia que acontece.
A. D.:E a gente também teve alegria, foi muito contagiante, acho que facilitou muito o processo. A gente contou com a coreografia do Rômulo Vlad, que é um coreógrafo supercontemporâneo. Ele sabe muito bem como performar pro audiovisual, e ele tem um leque incrível de grandes cantores que ele coreografa. E [também contamos com] o elenco majoritariamente cearense, que faz o corpo de baile do projeto, que são pessoas que são de dança ou são de teatro musical da cidade de Fortaleza. Foi uma oportunidade, uma vez que esse filme aconteceu lá, de trazer essas pessoas todas para dentro do projeto mesmo.
A gente tendo essa alegria de trazer pessoas incríveis, que já tinham essas competências, realmente era muito contagiante. Executar as performances com um corpo de baile que tinha muita energia... Aquela cena ali do "Geme Geme", por exemplo, é muito quente. O asfalto estava pegando fogo, você via o elenco sorrindo com a mão no chão, queimando as mãos, e a gente filmando a tarde toda. Só para demonstrar que houve muito amor envolvido.
Allan, você traz alguns nomes que marcaram muito os anos 1980, 1990, principalmente a Gretchen. Como você chegou a eles?
A. D.:Esse foi o desejo inicial. Ao fazer o longa-metragem, eu disse: 'Gente, o que eu gostaria de ver no longa de O Melhor Amigo, como criador do curta, entendendo esse exercício da adaptação, é que o filme precisa disso, precisa daquilo, precisa ter mais música, precisa ter mais personagens.' E aí pensei: 'Precisa ter Gretchen. Nossa, seria incrível se a Gretchen fizesse parte disso.' Já fazia muito tempo que ela estava no radar, e em 2019 fiz o primeiro contato com ela. Ela adorou a ideia e eu disse: 'Vamos falando, vamos fazer, sim. Vai ser incrível.'
O filme foi feito em 2023 e ainda conseguimos trazê-la para o projeto. Ela topou e foi totalmente entregue ao projeto, trazendo o marido dela junto. E com esse conceito de ter a Gretchen e essas músicas, pensei: 'Ah, tem que ter participações especialíssimas.' Então pensamos no personagem para o Mateus Carrieri, que foi reescrito para ele e tudo mais, e também para a Cláudia Ohana. Eu acho que os três fazem parte de uma mesma geração de trabalho, de reconhecimento público e tudo mais.
Ao fazer isso, vi que o filme poderia dar esse presente para a plateia de 40 anos ou mais, que nasceu nos anos 1980, e que isso seria a favor do projeto. Também apresentaria esse elenco incrível para uma nova geração, uma geração que precisa conhecer nossos talentos e ter a oportunidade de vê-los em tela. Realmente há pouca possibilidade do encontro desse elenco incrível com a geração mais jovem. Temos que trazer mais do cinema, mais do teatro, convidar para o projeto e fazer parte dessa brincadeira.
Foi com esse desejo que tentamos conciliar esse público nostálgico, que gosta desses sentimentos bons, que até fazem parte do próprio perfil, da própria identidade do Lucas, com essa nostalgia. Queríamos brincar com isso, até porque foi um momento muito especial, uma década que todo mundo fala que é inesquecível e única. Então, é legal trazer isso para a história.
Vinícius, você assistiu ao curta antes? Se sim, você tentou fugir de pegar trejeitos da outra interpretação de Jesuíta Barbosa do seu personagem?
V. T.:Eu assisti muito antes de saber que ia ter o longa. Já tinha visto mais de uma vez. Quando soube que teria os testes para o filme, fiquei muito animado, porque eu amava e senti uma identificação, de ver o personagem e pensar: 'pô, eu me vejo nisso aqui, sabe?'. E sobre o Jesuíta, eu acho que ele é um ator genial. Para mim, na verdade, foi mais sobre querer assistir mais e ver o que ele faz, porque acho incrível as nuances e o cuidado que ele tem com o personagem. Para mim, não teve nem um pouco esse sentimento de me afastar ou querer criar outra coisa, foi mais beber na fonte de algo que já tinha começado a nascer. Já tinha sido criado ali, com uma célula inicial tão genial, tão incrível. Eu assisti mais ainda depois que passei no teste. Quis rever e entender o que estava ali, o que eu podia trazer também para mim. Acho que foi mais esse sentimento de beber da fonte.
A. D.:Para completar, no final, o sentimento que eu tive dentro dessa adaptação foi de quanto seria possível trazer os elementos do curta para o longa-metragem. E, por fim, acabei tentando fazer isso também na trilha sonora. Quando o filme já estava montado, e tudo já tinha sido conquistado no sentido de dramaturgia, cena e tudo mais, eu disse: 'Acho que está faltando algo.' Foi quando começamos a fazer nossa própria versão da trilha sonora do curta. Então, para quem viu o curta e percebeu a repetição de algumas cenas em novas situações, também pode sentir no longa uma revisitação da trilha sonora do curta, trazendo um sentimento de presença do curta, mais no lugar umbilical mesmo. Isso faz com que as duas obras dialoguem muito bem.
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