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O último adeus a Hawkins: Elenco de 'Stranger Things' analisa legado e emoções da despedida da série

Em temporada final, atores refletem sobre terem crescido sob os holofotes da série mais popular da Netflix e como dar adeus à atração entregando as respostas que o público quer ver

27 nov 2025 - 22h06
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Lá se vão quase dez anos desde que Stranger Things estreou na Netflix, recuperando com requinte a nostalgia pelos anos 80 com direito a Mundo Invertido, Demogorgon e uma criança com superpoderes. Para o público, uma década pode até ser muito tempo para esperar por cinco temporadas com menos de 10 episódios, mas para o elenco mirim foram anos transformativos.

"É o sonho de qualquer ator fazer parte de algo tão incrível quanto esta série, mas também me agarrei muito à consistência, e essa é a parte mais difícil de dizer adeus", diz Gaten Matarazzo, em entrevista com a presença do Estadão. "Sempre foi reconfortante explorar novos projetos e crescer como ator, mas ter a próxima temporada caso tudo desse errado. Agora, você precisa mergulhar de cabeça. E nós recebemos as ferramentas para fazer o melhor que pudermos."

Eleven (Millie Bobby Brown) retorna ao mundo invertido na quinta temporada de 'Stranger Things'
Eleven (Millie Bobby Brown) retorna ao mundo invertido na quinta temporada de 'Stranger Things'
Foto: Netflix/Divulgação / Estadão

O intérprete de Dustin Henderson não é o único a demonstrar um misto de gratidão e insegurança com o fim da série. "Aos 13 anos, eu não sabia de muita coisa, mas sabia o que eu amava e me expressava conforme aquilo", complementa Caleb McLaughlin, hoje aos 24 anos.

"O Lucas meio que se fundiu à minha personalidade, de forma que eu precisava colocar o Caleb de lado e o Lucas na frente para entender quem ele era. E eu absorvia essas experiências quando lia o roteiro. Pensava, 'Ah, eu nunca passei por isso. Como eu reagiria? Como o Lucas faria?'. Isso me tornou a pessoa que sou hoje. Agora que meu lobo frontal está se fechando, eu olho para trás e percebo que passei quase metade da minha vida na série. E isso é parte do meu desenvolvimento", compartilha.

Millie Bobby Brown, que aos 10 anos viu seu mundo se inverter com uma fama imediata, conta que aprendeu com a série a ter respeito por sua vida privada.

"Bem, hoje eu sou mãe. E também sou casada", começa, aos risos. "Mudei bastante. Como ser humano, a série me forneceu muitas coisas, provavelmente mais do que para qualquer pessoa comum, porque comecei aos 10 anos. É como uma escola, como se fosse tudo o que eu sempre conheci. Me ensinou a ser uma profissional. Me formei na série, aprendi a ser uma amiga e uma boa companheira de cena", explica.

"Você quer ter certeza de que está tomando boas decisões porque quer inspirar as pessoas e ajudar os outros", continua. "A série foi a minha âncora, e me fez perceber que também está tudo bem em ter outras âncoras, na vida pessoal e privada. Foi uma experiência transformadora no meu mundo quando criança."

Na quinta temporada, que chega à Netflix em três partes - a primeira nesta quarta, 26, a segunda em 25 de dezembro e a última, com o episódio final, no dia 31 - não há mais tempo para enrolação ou pequenas pistas sobre o mistério que paira sobre a cidade de Indiana. Os novos episódios retomam a história exatamente de onde a quarta parou.

Com Hawkins agora tomada pelo serviço militar, Eleven precisando se esconder e Vecna (Jamie Campbell Bower) em vantagem, caminhamos para a batalha final e a revelação de todos os segredos escondidos.

"O Mundo Invertido é um dos últimos grandes mistérios. Temos um documento inteiro da primeira temporada que entra em detalhes sobre o que ele é exatamente. Já falamos sobre revelar em todas as temporadas, mas só demos algumas dicas", explica o cocriador Ross Duffer. "Agora vamos explicar tudo. As vinhas, por que se parece com Hawkins. Por que Will foi levado. Estamos empolgados para todos verem, é bem maluco."

Vecna encontra Will em cena da 5ª temporada de 'Stranger Things'
Vecna encontra Will em cena da 5ª temporada de 'Stranger Things'
Foto: Netflix/Divulgação / Estadão

Agora cada vez mais distantes das crianças que foram e mais próximos dos adultos que se tornarão, os personagens principais da série estão lidando com seus monstros pessoais enquanto precisam se unir para lutar contra um de verdade. Se Dustin ainda sofre com a morte de Eddie (Joseph Quinn), Eleven precisa reencontrar o equilíbrio em sua relação de pai e filha com Hopper (David Harbour), enquanto ele mesmo aprende que nem tudo está sob seu controle.

"Para mim, era muito importante que encerrássemos da forma correta, porque há milhões de fãs que amam a conexão entre Hopper e Eleven", adianta Harbour. "Os Duffer fizeram algo extraordinário nesta temporada, e não sei se vocês serão capazes de sentir o efeito completo até o episódio oito. Mas vou dizer que as coisas acontecem da melhor forma quando tudo é perfeito e inesperado. A recompensa de esperar por 10 anos é muito enriquecedora."

Millie complementa: "Na quinta temporada, é muito engraçado ver o quão fácil é retornar aos papéis de pai e filha. A Eleven é capaz de revidar e ele também, eles têm uma linguagem única. Quando as pessoas vêm falar comigo sobre Eleven, elas sempre dizem o quanto amam a relação com o Hopper. Isso é muito inspirador, porque que pessoa tem um relacionamento perfeito com suas figuras paternas? Nós conseguimos colocar isso na tela e mostrar o quanto é difícil navegar pelas dinâmicas enquanto se está crescendo."

O segredo do sucesso

Stranger Things é parte de algo único no cenário televisivo. Lançada em meio às primeiras originais da Netflix (The Crown, para se ter uma ideia, surgiu apenas alguns meses depois), a série é um dos seus primeiros grandes hits e inspirou o modo de fazer de muitas outras.

Grupo de amigos se reúne novamente com planos para vencer Vecna na quinta temporada de 'Stranger Things'
Grupo de amigos se reúne novamente com planos para vencer Vecna na quinta temporada de 'Stranger Things'
Foto: Netflix/Divulgação / Estadão

Com o sucesso imediato, graças às inúmeras referências aos clássicos oitentistas, a atração ajudou não apenas a sedimentar o espaço do streaming entre os canais de TV de prestígio, mas criou um fenômeno cultural que não se via desde o auge das distopias infanto-juvenis. De crianças a adultos, foi difícil passar incólume pela avalanche de produtos, experiências imersivas e teorias de fãs em torno da série e seus personagens mais queridos.

"O DNA é a combinação do épico e do íntimo", opina o produtor executivo Shawn Levy. "Por mais que as pessoas falem dos anos 80, demogorgons e as influências no gênero, não seríamos o que somos se não investíssemos nos personagens, em como contamos a história e em como ela é recebida. Acredito que a série ajudou a quebrar normas e suposições de que um seriado é algo pequeno e um filme é algo grandioso. Mas, acima de tudo, minha esperança é que este ainda seja um mundo em que as emissoras e os estúdios dão saltos de fé e acreditam na narrativa porque ela parece ser especial. Não por ser uma marca consolidada ou algo calculado."

Segundo o outro cocriador da série, Matt Duffer, houve também o cuidado de não manter a série presa ao passado conforme as temporadas avançavam.

"Por maior que seja a escala, é uma história de amadurecimento, sempre foi sobre esses personagens. Sempre foi importante que não nos repetíssemos muito", explica. "Nós gostamos da ideia de mudar as coisas e aumentar a escala, mas de uma forma que tudo soe orgânico. Olhamos para sequências que amávamos na infância, como Alien 2 e O Exterminador do Futuro 2. Elas não traíam os originais, mas os levavam por um novo caminho. Queríamos fazer isso com cada nova temporada, e é por isso que continuamos a evoluir."

Um mundo maior e mais arriscado

A introdução de Vecna na quarta temporada ajudou a expandir os entendimentos sobre o Mundo Invertido, mas também impôs aos heróis um desafio ainda maior nos desdobramentos seguintes da trama. A compreensão de que o monstro é fruto de uma batalha com Eleven parece enfim dar pistas mais concretas do que está por trás desta realidade obscura e habitada por monstros.

Os primeiros episódios da nova temporada não perdem tempo em já expandir o que sabemos sobre Vecna e o Mundo Invertido, com novas camadas anteriormente especuladas por fãs. "Sempre começamos com uma injeção de otimismo, mas a última temporada terminou com o nosso grupo claramente perdendo pela primeira vez, e precisamos continuar sem ter a vantagem. Começamos da estaca zero e isso é bem assustador", contextualiza Gaten. Em sua jornada individual, Dustin promete passar por um arco de amadurecimento desafiador na temporada.

David Harbour e Millie Bobby Brown retomam laço de pai e filha na quinta temporada de 'Stranger Things'
David Harbour e Millie Bobby Brown retomam laço de pai e filha na quinta temporada de 'Stranger Things'
Foto: Netflix/Divulgação / Estadão

Para os irmãos Duffer, expandir esta complexidade da porção de terror da série tem uma relação direta com seu caráter humanista. Ter apresentado o novo vilão na quarta temporada, segundo eles, se encaixa neste momento da história porque é também quando os protagonistas estão em plena transformação.

"Pareceu correto introduzir o Vecna na quarta temporada porque nossos adolescentes já estavam indo para o ensino médio, e esses foram os quatro piores anos das nossas vidas", conta Matt. "E isso é verdade para muita gente. Todos estão tentando compreender quem são, há mais pressão do que nunca, parece que toda a sua vida está em risco. Estamos lidando com isso mas não contamos para ninguém, e foi daí que veio a história de Max. O Vecna também foi muito baseado nos vilões com quem crescemos e que mais nos assustavam. Pinhead, Freddy Krueger, Pennywise. Todos são humanoides."

Expandir o escopo também significa uma espécie de retorno às origens. Tradicionalmente, as temporadas inéditas de Stranger Things sempre trazem novos personagens à mistura. Desta vez, embora isso aconteça, os Duffer explicam que os riscos eram maiores.

Quem ganha mais destaque neste ano é Holly Wheeler, irmã mais nova de Nancy e Mike e agora interpretada por Nell Fisher. Matt Duffer admite que, por um tempo, ele e o irmão consideraram não ter personagens novos neste ano, mas sentiram a necessidade de fazê-lo.

Stranger Things: Nell Fisher e Cara Buono como Holly e Karen Wheeler na quinta temporada
Stranger Things: Nell Fisher e Cara Buono como Holly e Karen Wheeler na quinta temporada
Foto: Netflix/Divulgação / Estadão

"Nós queríamos recuperar alguns dos sentimentos da primeira temporada, para termos um ciclo fechado. E já que as crianças da série não são mais crianças, a única forma de fazer isso era com um elenco mais novo. Trazer crianças novamente. Daí surgiu a ideia de elevar Holly para o elenco principal, o que fazia sentido porque ela é outra Wheeler. Tivemos sorte de encontrar Nell, que é uma criança incrível e uma atriz extraordinária."

Os últimos dias em Hawkins

Prontos ou não, e satisfeitos ou não com o final - que Finn Wolfhard descreve como "agridoce", especialmente a segunda parte, que responde à maioria das perguntas da trama - o fato é que o adeus definitivo a Stranger Things é iminente. Filmar as últimas cenas evocou fortes emoções nos envolvidos, com direito a choros e lembranças levadas embora.

Ross conta que a agenda de gravações foi organizada de modo que a última cena de cada ator também fosse a última cena de seu respectivo personagem. "Toda vez que encerrávamos com um ator, era um dia emotivo para todos. Havia muitas lágrimas", entrega. No entanto, ele admite, o final foi o mais desafiador.

"Sabíamos que não estávamos só encerrando um grupo de atores com os quais nos importamos muito, mas também dizendo adeus à série, à produção, à equipe. Todo mundo levou um adereço, Joe [Keery, o Steve] levou o taco, Sadie [Sink, a Max] levou o walkman, Millie levou o vestido rosa que ela usou na primeira temporada. Todo mundo levou alguma coisa legal, pequenas lembranças de seu tempo na série", entrega o cocriador.

Harbour explica que o sentimento de dizer adeus é complicado. "São dez anos conhecendo essas pessoas, é bom e ruim", declara, recordando que dirigiu até o set para acompanhar o último dia das filmagens, mesmo já tendo gravado as últimas cenas de Hopper. Nesta ocasião, segundo ele, gravavam apenas as crianças.

"Eu me sentei no fundo [do set] e chorei enquanto os via gravando essa cena. Soltamos alguns confetes e balões, e tive um momento de catarse. Eu vi esses jovens atores que conheço há tantos anos se transformarem em homens e mulheres. Senti orgulho, alegria e amor por eles, pelo que conquistaram, por quem se tornaram em um mundo em caos, e pelo que conquistamos juntos."

Para o intérprete de Will Buyers, aquele cujo desaparecimento deu origem a tudo, encerrar o capítulo de Stranger Things em sua vida é perceber, de certa forma, que a série nunca ficará para trás.

"A ficha caiu nas noites anteriores", conta Noah Schnapp. "Eu estava escrevendo cartas dizendo adeus e agradecendo às pessoas que me ensinaram tanto nesses últimos anos. Passeando pela minha memória e revivendo esses momentos, os bons e os ruins, mas tão transformadores e importantes para quem eu sou hoje, percebi que todas essas pessoas são muito mais do que companheiros de cena. São membros da minha família e meus melhores amigos. E, é claro, o último dia foi muito emocionante e um dia do qual nunca irei me esquecer."

Estadão
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