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Marina Ruy Barbosa sobre viver Suzane von Richthofen: 'Nossos julgamentos ficam do lado de fora'

Série 'Tremembé', nova aposta brasileira do Prime Video, se vale da popularidade do true crime para mergulhar nos bastidores do 'presídio dos famosos'; leia entrevistas

31 out 2025 - 05h42
(atualizado às 13h36)
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No primeiro episódio de Tremembé, Suzane von Richthofen é transferida para o "presídio dos famosos" após uma rebelião na Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto colocar sua vida em risco. Em sua nova moradia, é como se ela desfilasse pelo "hall da fama" da crônica policial: Elize Matsunaga, Anna Carolina Jatobá, Alexandre Nardoni, Daniel e Cristian Cravinhos e Roger Abdelmassih estão todos lá - ainda que separados, evidentemente, em alas masculina e feminina.

Para o alívio de Suzane, na nova casa ela não é a única cujo crime chocou a sociedade brasileira. Mas este fato também faz com que ela não esteja mais no topo da cadeia alimentar, lugar ocupado por Sandrão e por quem for sua namorada. Suzane, então, começa a armar sua estratégia para chamar a atenção da abelha-rainha, o que se transformaria em um infame triângulo amoroso que fascinou a TV e curiosos, e agora ganha ares de ficção.

Apesar da alcunha de "presídio dos famosos", o Complexo Penitenciário de Tremembé é mais abrangente do que isso. Sua segunda unidade prisional, conhecida como P2, desde 2002 tem como principal característica abrigar pessoas que cometeram crimes brutais contra a vida de membros da própria família - criminosos que não sobreviveriam em uma penitenciária comum. Dada a natureza e a intensa repercussão dos crimes, a unidade acaba recebendo alguns dos personagens mais notórios das páginas policiais.

"As coisas mais absurdas que estão na série aconteceram de verdade", explica Campbell. "Passamos por um crivo jurídico, tanto da produtora, a Paranoid, quanto do Prime Video. Em relação à adaptação dos livros, fiquei super orgulhoso. É um grande feito para um escritor ter a sua obra adaptada para o audiovisual, principalmente sendo um livro-reportagem."

Vera (A Batalha da Rua Maria Antônia, Todxs Nós), no entanto, confirma que há algumas licenças poéticas utilizadas para imprimir dinamismo.

"Nós temos os fatos. Existiu esse triângulo amoroso, existiu o romance Duda e Cristian, existiu o Roger tentando burlar a Justiça fingindo que estava doente", pontua. "Mas precisamos organizar isso em uma linha dramática, e a ficção entra nesse lugar. Como é que a gente bota isso numa linha narrativa? A ficção entra em organizar temporalmente os eventos reais."

Neste ponto, um segundo desafio é encontrar o limite entre o improviso e a atenção aos fatos incontornáveis. "Como os personagens são reais, é um trabalho talvez mais árduo ainda, porque você não vai imitar um personagem que existe, uma pessoa", observa Daniel Lieff. "Tivemos o improviso das ações, baseado nos autos da Justiça, mas com liberdade de criar o personagem junto ao elenco."

'Não é sem cicatrizes que se sai de um trabalho como esse'

Quem está acostumado a ver Marina Ruy Barbosa entre vilãs e mocinhas de novelas vai encontrar agora um novo lado da atriz. Ela estreia como Suzane em seu primeiro projeto sem contrato fixo com a Globo, algo que define como uma nova fase com a promessa de bons frutos. Se para alguns a escalação pode gerar um estranhamento, ela o compreende como algo positivo.

"Eu tenho 22 anos de carreira, comecei muito nova. Acabei de trintar e estou muito feliz de começar essa nova década com Tremembé", diz. "Ao longo desses 22 anos, fiz muitas novelas, mas também séries e filmes. É o meu primeiro trabalho no streaming, e cada vez eu me sinto mais segura e madura para procurar novas camadas para acrescentar à minha trajetória. Amo atuar, e a minha busca é por personagens exatamente que sejam diferentes. O que eu ainda não fiz? O que eu quero fazer de diferente? Como eu quero surpreender o público? É uma nova camada, e as pessoas vão poder ter mais uma visão da Marina, atriz."

Carol Garcia, que interpreta Elize, também mergulha de cabeça no desafio e destaca que a função da série é ajudar a construir pensamento crítico. "Quando o teatro surgiu, colocava-se os reis nas primeiras fileiras para verem as próprias atrocidades que eles faziam, e isso gerava reflexão. Qualquer obra artística, dramatúrgica, nos direciona para algum pensamento crítico. E a gente se propõe a isso também."

Segundo a atriz, viver uma personagem que gera todo tipo de reação no público é um convite para abraçar todas as complexidades da atuação. "É preciso encarar como uma pessoa, com todas as contradições, medos, explosões. Eu já recebi um monte de mensagens com opiniões absolutamente distintas. Ao longo do processo de pesquisa, me abri para tentar compreender o que as pessoas estavam falando. Sem romantizar, foram crimes que foram julgados, que as pessoas cumpriram suas penas. Mas são pessoas."

Felipe Simas, que vive Daniel Cravinhos, confessa que sua trajetória com o personagem é dolorosa. Namorado de Suzane na época do crime, ele passa por momentos perturbadores na prisão, que estarão na série.

"A gente sempre diz que não é sem cicatrizes que se sai de um trabalho como esse. São muitas horas de entrega. O Daniel é um homem menino, que na época estava se tornando alguém muito introspectivo", analisa.

O ator desabafa. "A condenação exterior que ele estava pagando não chegava perto da condenação interna em que ele estava se colocando", diz, reforçando que sempre olha para o personagem tentando não julgá-lo. "Não quero dar spoiler, mas uma pessoa que questiona a própria existência, o sentido real da vida, merece uma atenção e um cuidado. Todo ser humano merece ser amado."

Ponto de vista busca não expor vítimas

O true crime, que ganhou força durante a pandemia de covid-19, segue em alta no Brasil mesmo perdendo popularidade em outros territórios. Bastante explorado pelas plataformas de streaming, o gênero também levanta preocupações sobre a abordagem das histórias, sobretudo aquelas recentes, já que se deve poupar a exposição de sobreviventes ou familiares de vítimas.

"Eu acho que o conceito principal da série já resolve isso, porque não é sobre a biografia dessas pessoas. A gente não vai trabalhar o que levou [a pessoa] a cometer o crime, é sobre o que eles fazem pós-crime", opina Vera Egito. "Quando a gente vai na vida do criminoso, talvez gere a sensação de que se está justificando o crime. Então nem fomos por aí. Cada episódio começa com um crime. Era uma vontade nossa de não esquecermos por que essas pessoas estão [em Tremembé]'.

A diretora observa que uma decisão estética, que surgiu de uma ideia de Lieff, ajuda a compor a proposta de não diminuir ou esquecer os atos cometidos pelos criminosos, mas evitar mais exposição e sensacionalismo. As reconstituições dos crimes acontecem sob o ponto de vista das vítimas. "Na série inteira, não tem nenhuma imagem de vítima em situação degradante, que também era uma norma, um cuidado justamente porque essas pessoas são reais e os familiares estão aí, vivos."

Daniel completa: "Quando estávamos no dia-a-dia dessas pessoas sob o mesmo teto, em alguns momentos a gente até esquecia um pouco o que havia ocorrido. Então usamos uns flashes dos crimes. Em alguns momentos isso foi muito interessante. Estamos no meio do episódio e, de repente, voltamos para mostrar."

Campbell reforça que, mesmo diante da enxurrada de produções true crime, acredita que o ponto de vista de Tremembé é inédito. "A gente mostra o que as pessoas fizeram para estar ali, mas também o que elas precisam fazer para sair. Todos ali estão com o mesmo desejo."

Tremembé tem ao todo cinco episódios, todos já disponíveis no Prime Video. O primeiro capítulo — único disponibilizado para a imprensa antes do lançamento oficial — não afasta as inevitáveis comparações com Orange Is the New Black, já que também se veste de certo tom ácido que provoca o espectador a criar sentimentos antagônicos por aquelas personagens. Marina, particularmente, abraça com vontade o desafio e entrega uma Suzane que impressiona não apenas pela caracterização, mas pelo inconfundível cinismo no olhar.

"Enquanto atores, nós estamos ali no set defendendo o que o personagem sente. As nossas opiniões, sentimentos e julgamentos pessoais acabam não podendo entrar, nós deixamos isso de lado", pontua a atriz, ciente de que está em uma série que é prato cheio para debates e polêmicas.

"Qualquer opinião que a gente tenha em particular fica de lado, fora do set. Entramos somente com o que precisamos entregar para o projeto", finaliza.

Estadão
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