Fabrício Boliveira celebra papel policial em série e reflete sobre racismo: 'Maioria dos assassinados são pretos'
O ator protagoniza 'Cenas de Um Crime', da HBO Max, ao lado de Débora Nascimento
Em Cenas de Um Crime, nova série da HBO Max, Débora Nascimento e Fabrício Boliveira interpretam os policiais civis Bárbara e André, que precisam resolver o mistério em torno do assassinato de um dos maiores empreiteiros do país. Para o ator, estar no papel de um policial é também criar uma nova representação da população negra, que, na realidade, costuma ser maioria entre as vítimas da violência policial.
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"Como homem preto dentro desse país, tratar sobre polícia é pensar que a maioria dos assassinados pela polícia são pessoas pretas. A gente ainda está criando dentro do imaginário brasileiro quem são as pessoas em quem a gente deve confiar e que as pessoas que têm a minha cara devem ser perseguidas", analisa Fabrício em entrevista ao Terra.
O ator relembra que já ouviu esse tipo de pensamento ser reproduzido por policiais. Isso aconteceu quando ele fazia uma preparação para interpretar um policial no filme Além do Homem e fez uma imersão com policiais civis.
"Eu estava de dread na época para um outro personagem que tinha feito. Um policial olhou para mim e falou: 'Se a gente vê um cara com isso na rua, o que a gente faz é dar tiro'. A turma inteira deu risada, e eu me levantei na hora. Ficou uma situação horrível, esse cara acabou saindo do filme, mas entendi que, eu com essa cara, sou a presa e não quem vai caçar", recorda.
Para o trabalho em Cenas de Um Crime, Fabrício e Débora também passaram por uma consultoria com um ex-investigador da Polícia Civil, o que para a atriz foi fundamental para o trabalho. "Foi fundamental para entender a rotina, a linguagem, a postura de quem trabalha com isso. E tem um detalhe importante: meu pai é delegado de polícia desde que me conheço por gente. Então, de certa forma, sempre convivi com esse universo policial de maneira muito próxima e real. Acho que tudo isso junto me ajudou a trazer uma verdade maior para a personagem", explica Débora.
Na nova série da HBO Max, André e Bárbara, os personagens de Fabrício e Débora, interpretam dois investigadores da Polícia Civil que já formaram um casal. Eles têm o desafio de encontrar o responsável pelo assassinato do dono de uma das maiores construtoras do país e entre os suspeitos há uma deputada federal do centrão, uma menina de comunidade e um jogador de futebol.
"O grande trunfo da série é esse roteiro e esse elenco, que nos deu essa brasilidade, porque esses personagens são muito fortes e retratam o nosso país. Esse elenco, que tem esses perfis tão diversos, traz uma cor brasileira e um tom tropical para o gênero investigativo. Não estamos só reproduzindo um gênero que é super bem sucedido, mas você está agregando muito mais valor, estamos jogando toda a nossa brasilidade, toda a nossa cultura nesse processo. Isso é o diferencial", diz a diretora da série, Izabel Jaguaribe.
Izabel também analisa que essa brasilidade dá uma nova camada para a produção. "É como se fossem três camadas: a investigativa, a do romance deles, que é meio complexo, tem afeto, mas tem rancor, e a terceira camada, o pano de fundo sociopolítico. Não que a gente tivesse a pretensão de falar com muita profundidade sobre esse assunto, mas só o fato da gente poder mesclar a nossa história, de botar ali os porões da ditadura, a milícia, fazer todas essas ligações, tratar isso como um segredo que tá por trás da trama, dá uma densidade que faz toda diferença."
Sobre a camada do romance, Fabrício conta que ele e Débora tiveram muitas horas de ensaio para construir a química entre os personagens, o que foi necessário principalmente por se tratar de uma série policial. André e Bárbara precisam se entender sem se falarem e qualquer sinal entre eles pode significar algo durante um depoimento.
"Foi um trabalho de muito ensaio. A gente trabalhou muito dentro da sala de ensaio, pensando, discutindo e construindo o que é essa química. Como a gente está trabalhando com esse gênero, qualquer coisa, uma olhadinha que fique mais um segundo, tudo comunica", conclui Fabrício.