"Queria ver meu irmão no tapete vermelho do Oscar", diz Danton Mello
Já passava de 1h da madrugada quando Danton Mello se aproximou com um copo na mão e de cara perguntou às jornalistas que o aguardavam: "vocês não estão bebendo whisky?". O riso foi inevitável, afinal o esperávamos para uma entrevista sobre sua carreira, especialmente a respeito do lançamento da comédia Vai Que Dá Certo, que estreia dia 22 de março nos cinemas.
Os questionamentos do ator não pararam por aí. Bastou ligar o gravador para ele dizer: "você vai conseguir escutar alguma coisa?". Isso porque ecoavam batidas de músicas eletrônicas selecionadas por um DJ em todos os espaços do restaurante onde era realizado um jantar dançante do 4º Encontro do Cinema Nacional, em Jurerê Internacional, Florianópolis. Nada que comprometesse o bate-papo descontraído.
Passada a "inquietude", Danton falou sobre a participação no longa-metragem dirigido por Mauricio Farias e, apesar de contracenar com Fábio Porchat, Lúcio Mauro Filho, Gregório Duvivier e Natália Lage - já conhecidos por atuações em humorísticos -, garante que não se sentiu intimidado. "Este foi meu primeiro trabalho importante de comédia. Em um grupo como esse, pensei assim: 'acho que não é meu papel chegar lá e tentar fazer nada diferente. Vou deixar eles brilharem'", afirmou o intérprete de Rodrigo. Vai Que Dá Certo narra o encontro de amigos da época de escola que não alcançaram sucesso e resolvem assaltar uma transportadora de valores, incentivados pelo personagem de Danton.
Essa foi a estreia dele em uma comédia no cinema, ao contrário de seu irmão, Selton Mello, que inclusive chegou perto de ser indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano, com a comédia dramática O Palhaço. O longa dirigido e protagonizado por Selton ficou entre os 17 inicialmente citados pela Academia, sendo desclassificado na fase semifinal de votação. "É um filme sul-americano, foi feito com baixo orçamento, então, acabou não entrando (na disputa pelo Oscar). Eu queria ver meu irmão passando no tapete vermelho", disse o ator, que fez uma participação especial na trama.
Mas não é só em frente às câmeras que Danton Mello se sente realizado. Dublagem é outro trabalho que o atrai. Tanto que ele já "foi a voz" de Leonardo DiCaprio em quatro filmes e quer mais. "Gostaria muito de ser a voz do DiCaprio no Brasil, mas a nossa vida é muito corrida". justificou.
Confira a entrevista na íntegra com o ator Danton Mello:
Como foi participar pela primeira vez de uma comédia no cinema, com atores já conhecidos por trabalhos humorísticos?
Fiquei feliz demais por fazer parte desse grupo já reconhecido, amigos. Muito feliz mesmo. Eu já tinha feito comédia no teatro, mas este foi o meu primeiro trabalho importante do gênero. Em um grupo como esse, pensei assim: acho que não é meu papel chegar lá e tentar fazer nada diferente. Acho que a comédia está na situação, vou deixar eles brilharem. Estou ali aprendendo com eles, estou ali fazendo parte de um grupo. E estou feliz com o resultado, porque o personagem (chamado Rodrigo) acabou virando esse cara pé no chão. Ele é o cara que traz a seriedade do grupo, a responsabilidade. Não vou arriscar nada, vou seguir o roteiro, porque eles são os comediantes.
No longa, o personagem Rodrigo é sério, mas engraçado. Como tem se preparado para fazer papéis cômicos?
Eu tenho me arriscado bastante no teatro. Depois desse filme, também fiz a série O Fim do Mundo, em que já me soltei muito mais, porque estávamos ali só eu e a Alinne (Moraes). Estava muito em casa, à vontade, porque o José Alvarenga Jr. é um puta diretor. Podia arriscar mais e rodei um filme depois da série, chamado Concurso Público, que deve ser lançado no meio do ano. Eu acho que a gente está sempre aprendendo. Eu quero trabalhar, fazer um pouquinho, ver o resultado, corrigir na próxima vez e, aos poucos, crescer. Esse foi o primeiro trabalho que poderia ter uma visibilidade muito grande, porque o cinema tem muito mais que o teatro. Estou feliz com o resultado, feliz com O Fim do Mundo e com expectativa bacana com relação a Concurso Publico, que eu acho que me soltei um pouco mais. Acho que é um passo depois do outro, com calma.
Em Vai Que Dá Certo, seu personagem coloca os amigos em uma enrascada, pois é ele quem os convida para participar do assalto. Como você vê o seu papel no longa?
Ele é um anti-herói, que leva a turma para o mau caminho. É a proposta do filme. Foi bacana fazer esse personagem, fiquei feliz com a recepção, as pessoas estão curtindo. Apesar de não ir tão longe como os outros atores, me sinto parte desse grupo, desse filme cômico. Me soltei em alguns momentos e em outros estava levantando a bola para eles, como o personagem pedia.
O elenco já se conhecia antes do início das filmagens?
Esse filme para mim é meio a meio. O Bruno (Mazzeo), o Lucio (Mauro Filho) e a Natália (Lage), eu conheço desde criança. (Fábio) Porchat, Gregorio (Duvivier) e (Felipe) Abib conheci duas, três semanas antes de filmar. Eu me senti muito em casa, porque tinha esses amigos de infância, conhecia o Mauricio há bastante tempo, já trabalhei com ele muitos anos atrás. Me senti totalmente à vontade. Também sou fã, já conhecia um pouco do trabalho do Fábio, do Gregorio. Do Felipe não. O Fábio é um cara muito inteligente. Já deu para sacar durante os trabalhos de texto, de leitura, a criatividade dele, a inteligência dele em captar tudo o que surgia na mesa. Nas filmagens não teve muito improviso, mas durante as leituras sim. E o Fábio estava li atento. A gente criava coisa, opinava, dava sugestão. Daí ele observava tudo e voltava no dia seguinte com tudo escrito. Então, na hora de filmar fica muito fácil. Pode brincar com essa coisa também que estão perguntando muito que é o sotaque. Ele deu liberdade para a gente matar a vontade com o texto e ir além.
Você também já fez algumas dublagens. É um ramo que gosta?
Eu dublei quatro filmes do Leonardo DiCaprio: Titanic, A Praia, What's Eating Gilbert Grape e Celebridade. Gostaria muito de ser a voz do DiCaprio no Brasil, mas a nossa vida é muito corrida. Todo filme dele que chega ao País, ainda hoje me chamam, mas estou sempre filmando em Paulínia, fazendo teatro em São Paulo, fazendo uma novela. Sinto uma pena. Gostaria de ser a voz oficial do DiCaprio no Brasil, mas, enfim, não deu. Mas tenho quatro trabalhos muito bacancas.
O Palhaço (comédia dirigida e protagonizada por Selton Mello, irmão de Danton) quase foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro este ano. Você ficou frustrado com a desclassificação na fase semifinal da votação?
Não frustrado, mas meu irmão é uma pessoa muito importante na minha vida. Ele para mim não é o Selton Mello, é o Selton Figueiredo Mello, é meu irmão, enfim, e eu torcia muito, tinha certeza que ia entrar. Falei com o Selton várias vezes quando ele estava em Los Angeles, e percebi pela animação dele que o filme foi muito bem recebido lá. Mas o Oscar...enfim, a gente briga com peixe grande. É outra lógica, O Palhaço foi muito bem recebido lá, mas é um filme pequeno. É um filme sul-americano, foi feito com baixo orçamento, então, acabou não entrando. Eu queria ver meu irmão passando no tapete vermelho. Não queria concorrer ao Oscar, queria que o Selton passasse pelo tapete vermelho. Queria ver meu irmão lá.
A comparação entre vocês é algo que te incomoda?
Não, porque a gente tem a mesma profissão desde criança, a gente começou junto, cada um criou a sua vida, o seu espaço. Eu tenho muito orgulho do que ele fez, sei que ele tem por mim também. A torcida é enorme...enfim, é família. Então, não me incomodo nem um pouco, eu nem sinto também tanta comparação. Acho que tem mais confusão, as pessoas confundem muito a gente. Todo mundo confunde. Teve gente que viu o filme hoje e veio me dar os parabéns me chamando de Selton. Falei obrigado. É assim que eu faço. As pessoas brincam com isso, vem de muitos anos, as pessoas confundem mesmo. De trabalho, O Fim do Mundo no ar, daí falavam disso e também da Mulher Invisível, daí eu falava: não, O Fim do Mundo sou eu, Mulher Invisível é o Selton. É incrível ver o espaço que meu irmão conquistou, não só no mundo artístico, mas no cinema...é familia, é demais.
*A repórter viajou a convite da Imagem Filmes.