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'Ouvia Patti Smith para entrar em cena', revela Luiza Mariani, de 'Cyclone'

Rolling Stone Brasil conversou com as atrizes Luiza Mariani e Magali Biff sobre o longa de Flavia Castro (Deslembro), já em cartaz nos cinemas brasileiros

4 dez 2025 - 15h48
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Cyclone, novo filme da diretora Flavia Castro (Deslembro) a partir do roteiro de Rita Piffer, já em cartaz nos cinemas brasileiros. O longa apresenta uma reimaginação da história de Maria de Lourdes Castro Pontes, Dayse Castro ou, simplesmente, Cyclone, dramaturga talentosa que viveu na São Paulo do início do século XX. A personagem-título é interpretada por Luiza Mariani (Todas as Canções de Amor), que revelou, em entrevista exclusiva à Rolling Stone Brasil, que a cantora Patti Smith lhe serviu de referência.

'Ouvia Patti Smith para entrar em cena, ela foi referência', revela Luiza Mariani, de 'Cyclone' (Divulgação/Muiraquitã Filmes)
'Ouvia Patti Smith para entrar em cena, ela foi referência', revela Luiza Mariani, de 'Cyclone' (Divulgação/Muiraquitã Filmes)
Foto: Rolling Stone Brasil

Para compor o estado mental da protagonista, Luiza contou que tinha um ritual: "Eu ouvia 'Smells Like Teen Spirit' na versão da Patti Smith pra entrar em cena". A música do Nirvana, reencarnada pela poeta punk, não entrou no corte final por questões de licenciamento. "Era meu ideal de beleza. Queria ter colocado a música no final, mas não consegui", lamentou Luiza. Mesmo sem ela, a presença da artista permanece como impressão digital da criação: "Ela faz música e poesia a partir do que vê, dos ruídos da rua. O mundo entra na cabeça e vira expressão. Isso foi um norte".

Cyclone teve sua première nacional em 11 de novembro, no Theatro Municipal de São Paulo. A decisão de projetar o filme no local carregava uma força simbólica que atravessava a obra. Ao comentar a sessão, Luiza resumiu o impacto: "Foi muito bonito. Muito emocionante". Para ela, o gesto ia além da exibição: "Era um gesto simbólico de colocar a Cyclone dentro do teatro, um lugar ao qual ela não pôde pertencer", afirmou, lembrando que a personagem "não teve tempo, nem espaço, nem oportunidade" em vida.

O longa é um projeto pessoal de Luiza, que interpretou a protagonista no teatro e há 20 anos trabalhava para levá-lo para as telonas. A trajetória da peça até o cinema começou em 2007: "Eu estava na coxia do teatro e pensei [que] eu precisava transformar isso em filme", contou. O desejo, segundo ela, era "continuar a história, criar um eco, fazer a trajetória dela [Cyclone] seguir depois do palco".

Esse primeiro impulso, no entanto, esbarrou na negociação de direitos, que envolvia o herdeiro modernista e guardião das autorizações à época, Rudá Andrade, filho de Pagú e Oswald de Andrade — escritor com quem Dayse se envolveu e chegou a engravidar. No meio do processo, veio a ruptura: "Estávamos negociando os direitos do livro quando Rudá morreu". A partir dali, abriu-se um inventário familiar, "complexo como todo inventário", que levou cerca de uma década até ser concluído.

Nos dez anos seguintes em que o filme parecia inviável, a vida de Luiza seguiu. "Fui mãe, casei, fiz outros filmes, produzi peças… Mas eu não desisti", disse a atriz. "Durante esses anos, eu escrevi o roteiro, chamei diretores, produtores... Tinha algo em mim que dizia que eu tinha que continuar, que ia dar certo, mesmo que tudo desmoronasse no meu entorno". Enfim, em 2015, o inventário saiu, e Luiza adquiriu os direitos da adaptação.

A pesquisa que sustentou o projeto também foi extensa, guiada pela historiadora Suzane Jardim. Segundo Luiza, o mergulho incluiu recortes menos revisitados da história: "Foram anos de investigação. Para além do modernismo, vieram as questões do aborto, dos métodos contraceptivos, das anarquistas. Isso calça o filme no tempo, mas joga luz no presente".

Entre essas urgências reencontradas, o tema do aborto ganhou novo centro de gravidade. "Há 20 anos, ninguém falava de aborto como pauta política. Parecia um tema dado, meio resolvido", refletiu Luiza. "Não tinha movimento feminista nessa terceira onda, nem as novas narrativas em pauta".

Para a atriz Magali Biff (Pela Janela), que também participa do ffilme, a potência do filme está nessa amarração que costura modernismo, política e insurgência. "É tão bem amarrado e representa tão historicamente o Brasil… é completamente recheado de referências importantíssimas", afirmou. "Começa com a protagonista totalmente referenciada na Cyclone, a única mulher do coletivo que orbitava o modernista Oswald de Andrade, reunido numa garçonnière que virou símbolo de efervescência artística."

A atriz destacou ainda a canção Corta-Jaca, de Chiquinha Gonzaga, que ela mesma canta no filme. "Na época, o Rui Barbosa classificou a obra como música chula, mas ela foi uma pioneira, abriu caminho." Para Magali, o longa é "altamente artístico, uma obra de arte" que pede múltiplas revisitas. "Vi pela terceira vez [no Theato Municipal] e, a cada sessão, novos detalhes saltam. Ele é amargo na medida certa, bem estruturado, muito bem amarrado. A fotografia gera a tensão nele."

"É um casamento muito feliz da Flavia com a Helô Passos [Heloísa Passos, diretora de fotografia]", adiciona Luiza, ao analisar a potência visual do filme. Segundo ela, Heloísa traz uma energia que "combina e, ao mesmo tempo, contrasta com a delicadeza da cineasta Flavia". "O filme flutua bem nessas duas tensões. Essa câmera contemporânea, moderna, selvagem, que respira junto dos atores, parece ir para dentro da cabeça. Isso é muito legal", afirmou.

Para a atriz, essa estética é também um gesto de contraponto ao gênero. "Vai contra tudo o que se espera de um filme de época, normalmente mais plácido, mais estático. Ele tem uma coisa pós-punk", definiu Luiza. "Tenho a impressão de que as mulheres vão gostar muito desse filme, especialmente. Eu me sinto representada", finaliza Magali.

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