'Os Anéis de Poder': Profecia e conexões com 'O Senhor dos Anéis' no quarto episódio
Atenção para os spoilers de 'A Grande Onda', novo capítulo da série baseada no universo de J.R.R. Tolkien
Ah, as profecias... Elas são um perigo. Nublam a tomada de decisões e tornam-se autorrealizáveis. E, ao mesmo tempo, são irresistíveis. Como em A Casa do Dragão (House of the Dragon), uma visão de futuro está no centro de A Grande Onda, quarto episódio de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, que entrou no ar nessa madrugada no Prime Video.
ATENÇÃO, SPOILERS DO EPISÓDIO 4 DE O SENHOR DOS ANÉIS: OS ANÉIS DE PODER. SÓ LEIA SE ESTIVER EM DIA COM A SÉRIE.
A Grande Onda, dirigido por Wayne Che Yip, começa com um batizado coletivo liderado pela Rainha-Regente Míriel (Cynthia Addai-Robinson), em que ela fala do futuro. Um barulho, um tremor de terra, um vento que varre as pétalas da Árvore Branca para dentro do palácio. Em seguida, um enorme maremoto que destrói a ilha-reino de Númenor.
Mas, ufa, era só um pesadelo. Será?
Como veremos adiante no episódio, não. Trata-se de uma visão que vem assombrar o sono da Rainha-Regente, oferecida pelo palantír que Númenor guarda. O palantír é uma espécie de bola de cristal sofisticada, que serve para enxergar o passado e o futuro. Quem assistiu à trilogia O Senhor dos Anéis sabe que um palantír vai parar nas mãos do mago Saruman (Christopher Lee).
E o que Míriel assiste no palantír explica sua reticência em relação a Galadriel (Morfydd Clark), que ainda tenta convencê-la a voltar a unir Númenor e os elfos, como no passado, para combater Sauron.
Mas essa aliança tem outro problema que não o palantiriano. É político. A aliança estabelecida pelo pai da Rainha-Regente com os elfos foi pouco popular. Há pessoas nas ruas reclamando que os elfos tomam os empregos, porque não dormem, não se cansam, não envelhecem. Quem os defende é chamado de "adora-elfo". Parece muito com certos discursos que ouvimos aqui no nosso mundo real.
Quem entra em cena para acalmar a multidão é Pharazôn (Trystan Gravelle), chanceler de Númenor, que tinha aparecido pouco até agora, mas deve ter um papel maior a cumprir no futuro. Ele é habilidoso politicamente e consegue seu objetivo.
Já Galadriel nasceu com zero habilidade política e se mete em confusão de novo com a Rainha-Regente. É de desconfiar que ela vai ter de melhorar nesse quesito e baixar um pouco o nível de arrogância se quiser unir todos contra Sauron, ou quem for o discípulo de Morgoth.
Há teorias de que não é Sauron a nova ameaça. Seria, talvez, Adar, que significa "pai" em élfico? Não sei. Mas deu para ver seu rosto, finalmente. E é... O Tio Benjen, de Game of Thrones! O ator é Joseph Mawle, e Adar é um elfo com rosto deformado que claramente sucumbiu ao Lado Sombrio da Força. Adar diz a Arondir (Ismael Cruz Córdova) que muitas mentiras foram contadas, e que para esclarecer tudo seria necessário criar um mundo novo. Esse tipo de discurso nunca dá em boa coisa.
É meia-boca a solução de Adar libertar Arondir para que ele dê um ultimato aos habitantes das Terras do Sul, dizendo juntem-se a mim ou serão destruídos. Adar podia, sei lá, mandar um exército de orcs para fazer o trabalho, não? Enfim. Mas é assim que Arondir consegue salvar Theo (Tyroe Muhafidin) das garras dos orcs e se reencontrar com a mãe do garoto e seu grande amor, Bronwyn (Nazanin Boniadi), que está tento dificuldades de gerenciar o campo de refugiados instalado em uma torre.
Enquanto isso, o outro elfo famoso dessa história, Elrond (Robert Aramayo), reaparece. Instigado por Celebrimbor (Charles Edwards), ele vai falar com o Príncipe Durin 4º (Owain Arthur), que desconfia estar escondendo algo. Até a Princesa Disa (Sophia Nomvete) entra no acobertamento das ações dos anãos. Mas Elrond usa suas habilidades élficas e coloca Durin contra a parede. Ele finalmente revela que descobriram um novo metal, que Elrond chama de mithril - é o material que reveste a camisa de Bilbo que salva Frodo em O Senhor dos Anéis.
Voltando a Númenor, há uma outra trama envolvendo Isildur (Maxim Baldry), que ouve seu nome sendo sussurrado e comete um erro de propósito, sendo expulso da Guarda do Mar. Seu pai, Elendil (Lloyd Owen), é capitão da Guarda do Mar, ou seja, sua decisão causa mais do que um problema, até porque Isildur provoca a expulsão de seus amigos também. Tanto Elendil quanto Isildur são importantes no futuro, e Os Anéis de Poder demonstra os primeiros sinais da natureza problemática de Isildur aqui.
A Grande Onda é estranhamente cheio de coisas acontecendo, mas parece lento ao mesmo tempo. Para um mundo ameaçado por algo terrível, é pouco o senso de urgência ou de terror. O episódio até passa mais tempo com os personagens, sem, no entanto, revelar muito sobre eles. O romance nascente da irmã de Isildur, Eärien (Ema Horvath), parece deslocado do resto. Mas desperta certa curiosidade de saber o que vem, por ela ser uma personagem criada para a série.
O pior é que mesmo os momentos de humanidade dos personagens são muito raros, sem peso. Galadriel mostra alguma sensibilidade ao falar com a Rainha-Regente sobre o pai dela, enquanto Durin e Elrond trocam histórias sobre o peso de serem filhos de quem são. Mas é pouco para uma hora de episódio.
Pode-se argumentar que Os Anéis de Poder é uma série de acontecimentos, de ação, e não de desenvolvimento de personagens. Mesmo assim ela precisa fazer com que o espectador se importe com quem está na tela para que os acontecimentos tenham impacto. A série já chegou à metade de seus oito episódios e, tirando os pés-peludos, que não apareceram no episódio, e Durin e Disa, está mais preocupada com mistérios do que com conexões e emoções.