O crepúsculo de Dirty Harry
Quem se lembra do policial durão, que atirava e depois perguntava, estrela de cinco filmes? Harry Callahan, um dos personagens mais constantes da carreira do quase octagenário ator e diretor Clint Eastwood, volta "revisitado" no longa Gran Torino - que, segundo o próprio Eastwood, é seu último como ator. Em cartaz nos cinemas, e a maior bilheteria da carreira de Eastwood - já acumula cerca de US$ 145 milhões nas bilheterias de todo o mundo -, Gran Torino não é o sexto filme da cinessérie que se iniciou em 1971 com o longa Perseguidor Implacável. Mas bem que poderia ser uma versão veterana e mais light.
No novo longa, Eastwood é Walt Kowalski, um ex-operário da Ford que tem paixão pelo seu carro Gran Torino, ano 1972, que ele ajudou a montar e descansa imponente em sua garagem. Mas qual é a semelhança com Callahan? Como seu famoso alter-ego policial, Kowalsky é o personagem politicamente incorreto, que usa a truculência para conseguir o que quer - no caso, aqui, o sonhado sossego - ou afastar o que não quer - bagunça, confusão e principalmente convívio social (com, até mesmo, seus superficiais filhos).
Em vez do revólver, as armas de Kowalksi - um veterano da Guerra da Coréia -, são resmungos e grunhidos, que ele cospe pra cima de seus interlocutores e que vão do pobre e jovem padre Janovich (Christopher Carley), cheio de boas intenções em sua missão de levá-lo à igreja para se confessar - promessa que fez à mulher de Kowalsky, que morre logo no início do filme -, aos vizinhos da etnia hmong - originários do sudeste asiático - que formam a família Lor. Será da convivência nada pacífica, no começo, com os Lor, principalmente com os dois adolescentes da família - vividos pelos ótimos Ahney Her e Bee Vang -, que Walt irá extrair a sonhada redenção que sua esposa tanto queria - mas que o pároco nada consegue com sua doce e santa paciência.
O trabalho de ator e de diretor desse homenzarrão (Clint tem quase 1,90 metro de altura) de 78 anos é tão primoroso em Gran Torino que é até fácil se encantar com o mau humor e maus modos - destilados ao longo do filme, e que, portanto, chegam mais diluídos ao final - do personagem. Assim, uma das indagações que o filme provoca, quando se sai da sala de cinema, é: Por que raios a Academia de Cinema de Hollywood não indicou Eastwood para concorrer ao Oscar de Melhor Ator de 2009? Seria merecido, no mínimo, a indicação.