"Não tenho problema com a nudez", afirma protagonista de 'Em Transe'

A bela Rosario Dawson faz James McAvoy perder a cabeça no thriller Em Transe. Nos braços do amante, a personagem da atriz diz, sensualmente: "eu sei o que você quer". Em seguida, ela vai ao banheiro e volta pouco depois, nua, exibindo uma depilação íntima completa, estilo "menininha". "Estamos todos nus por baixo de nossas roupas", brincou a morena de olhar intenso, boca carnuda e curvas generosas. Desde que surgiu nas telas, aos 16 anos, no controverso Kids (1995), de Larry Clark, a atriz com medidas de modelo (1,70 m e 57 kg) prioriza as personagens desajustadas, provocantes e problemáticas. Depois do papel de estreia, como adolescente sexualmente ativa de Kids, Rosario rodou fortes cenas de cama com Colin Farrell em Alexandre (2004), encarnou a prostituta perigosa de Sin City - A Cidade do Pecado (2005), viveu a dançarina com tendências sadomasoquistas de Rent - Os Boêmios (2005) e foi musa de Quentin Tarantino, como a sexy maquiadora de atrizes de cinema em À Prova de Morte (2007). 

"Evito me ver nas telas quando me exponho um pouco mais fisicamente. Mas isso não me incomoda tanto, já que aprendi a colocar o filme em primeiro lugar e nunca a minha imagem", diz a nova-iorquina, de 33 anos. No elenco de Em Transe, título de Danny Boyle em cartaz no Brasil a partir de 3 de maio, Rosario é Elizabeth Lamb, uma terapeuta especializada em hipnose que é contratada por uma quadrilha liderada por Vincent Cassel. Sua missão é ajudar um leiloeiro de obras de artes (James McAvoy) a lembrar onde ele escondeu um quadro de Goya roubado em parceria com a gangue. O esquecimento provoca um jogo de sedução (com várias cenas calientes) e uma narrativa enigmática, onde percepção e ilusão se confundem. "O filme questiona, com muita sagacidade, o que é realidade, o que é sugestão e o que é, de fato, memória''. Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista que Rosario concedeu ao Terra, no hotel Four Seasons, de Los Angeles. 

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Terra - Muitas atrizes de Hollywood evitam as cenas de nudez e, quando as fazem, não gostam de falar a respeito...

Rosario Dawson - Eu não tenho problema com a nudez, desde que considere o material interessante. Para uma atriz, o ato de tirar a roupa precisa ser encarado com naturalidade, como se fosse um figurino qualquer. Já fiz várias cenas de nudez, mas não foram tantas assim. A cena de Alexandre, com Colin Farrell, não conta. Aquilo foi praticamente um estupro (risos). Em Em Transe, o sexo é instigante por ser uma luta pelo poder. Tudo o que a minha personagem faz é para conseguir o que quer. Elizabeth está tentando fazer seu paciente recuperar a memória. Por isso, ela tenta resgatar algo muito íntimo entre eles, como o pedido do parceiro para que ela se depile totalmente na zona genital. Isso é para levá-lo mais profundamente em suas lembranças, um lugar muito perigoso para ela, algo que o espectador só descobrirá no final do filme.

Terra - Não foi uma cena em que o diretor simplesmente usa a sua nudez de forma gratuita, certo?

Rosario - Exato. Se eu me sentisse explorada, com a personagem fazendo algo sexy pelo sexy, não teria topado. Mas foi um movimento inteligente e calculado da parte dela. A cena ajuda o espectador a desvendar um pouco do quebra-cabeça. Sua atitude está de acordo com tudo o que a personagem tinha feito até então. Como Boyle buscou inspiração nos filmes noir, sua personagem é a mulher fatal da história, ainda que ela não se comporte como manda a cartilha do gênero. Foi isso que me atraiu. Minha personagem ganha peso à medida que a trama se desenrola, sem ser apenas a mulher sensual e fria, como costuma ser retratada no gênero. Foi divertido brincar com o seu guarda-roupa. Nos encontros com a gangue, ela opta por uma visual mais classudo, pois obviamente se sentiria muito vulnerável de minissaia ou decote. A feminilidade e a sensualidade de Elizabeth vêm à tona, mas de um jeito mais natural. Todos esses aspectos são revelados aos poucos, como se as barreiras fossem caindo, deixando o espectador ver a mulher por trás da fachada que ela construiu, provavelmente para se proteger.

Terra - Já foi hipnotizada alguma vez?

Rosario - 

Durante a preparação para o filme, o diretor trouxe um especialista para nos hipnotizar. Mas não deu muito certo. Como o elenco estava todo junto, cada um ficava mais preocupado em abrir o olho, para ver o que acontecia com os demais (risos). Houve um momento em que James dizia que não estava conseguindo separar os dedos das mãos, mas Vincent não acreditou, achando que era tudo fingimento.

Terra - Conheceu especialistas na preparação para o filme? O que mais a impressionou?

Rosario - Sim. Procurei vários. Chamou a minha atenção o fato de esses terapeutas serem tão confiantes, carismáticos e comunicativos. Eles falam muito e muito bem, o que parece ser imprescindível para o papel que desempenham. Do contrário, como poderiam dizer: "eu posso resolver esse problema com o qual você lida há mais de 20 anos". Mas a verdade é que eles conhecem o poder do subconsciente e sabem como o nosso cérebro e a nossa memória funcionam. Quando o trabalho é bem feito, talvez dê resultado, ajudando a paciente a mudar de direção. Tenho amigos que procuraram a hipnose por conta de fobias, para deixar de comer compulsivamente e para parar de fumar. Muitos voltaram a fumar tempos depois (risos).

Terra - O poder que um especialista em hipnose sente pode ser comparado ao de um ator? Talvez você não consiga manipular o diretor, forçando-o a fazer o que você quer, mas pode se transformar no que ele quer, não?

Rosario - Esse é o meu trabalho. É sempre muito fascinante ouvir quais os atores cotados para um determinado filme e ver, no final, quais as escolhas definitivas. Muitas vezes, os escalados são muito diferentes dos atores citados anteriormente. É normal que seja assim. O ator precisa entrar no universo do diretor e ser o que ele precisa. Atrizes incríveis queriam ter interpretado Elizabeth no meu lugar. Certamente elas tinham ideias proprias para a personagem. Claro que eu acho que nenhuma delas teria feito melhor que eu (risos). Meu papel é justamente esse: fazer tão bem a ponto de o espectador não conseguir imaginar o filme com mais ninguém.

Assista ao trailer do filme 'Em Transe':

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