Humor corrosivo de Todd Solondz agrada Veneza
Realizador de um cinema peculiar, daqueles em que é possível identificar facilmente a marca autoral, o americano Todd Solondz continua um descrente na raça humana. E os espectadores, a julgar pela reação ao seu novo filme exibido a pouco no 66º Festival de Veneza, continuam a gostar e a compartilhar de sua proposta.
Life During Wartime, terceiro título da competição oficial, foi acolhido com a habitual mistura de risadas e algum desconcerto que seus filmes provocam.
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A platéia brasileira conhece bem esse jogo de humor negro, cínico e corrosivo por títulos como Bem-vindo a Casa de Bonecas (1995) e Histórias Proibidas (2001).
Há mais do mesmo agora, o que, no caso, é uma qualidade. Mas o admirador de Solondz mais atento talvez se ressinta de uma repetição de situações e temas já trabalhados anteriormente. Não estará equivocado, pois se trata da retomada, mais de uma década depois, do tema de Felicidade (1998), um de seus filmes mais conhecidos.Uma vez mais temos a classe média americana como foco e as três irmãs com seus problemas familiares e de cunho sexual, a exemplo do filme anterior. Voltam também a rondá-las tormentos como a pedofilia, o suicídio e um razoável elenco de perversões e vícios.
O primeiro horror afeta a vida de Trish (Allison Janney), que toca seu cotidiano com os três filhos depois que o marido (Ciáran Hinds) foi preso por molestar crianças. Caberá ao filho pré-adolescente uma atuação chave nessa ciranda que ainda inclui um novo namorado de Trish. Já Joy (Shirley Henderson) tenta se recuperar da morte súbita do marido, que lhe aparece para assombrar, enquanto cuida de um ex-viciado. Por fim, Helen (Ally Sheedy) é uma bem-sucedida profissional de Hollywood paranóica com suas relações com os homens e a cobrança da mãe.
No elenco de nomes pouco conhecidos, Charlotte Rampling faz uma pequena, mas contundente, participação nesse universo sombrio e incrédulo de Solondz.
O diretor dará entrevista coletiva, num dia exigente para a imprensa em Veneza. A noite foi reservada para mais dois concorrentes, o título chinês Lei Wangzi (Prince of Tears), de Yonfan, e Lourdes, co-produção entre Áustria, França e Alemanha, dirigida por Jessica Hausner.