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'Depois da Caçada': por que novo filme de Julia Roberts é considerado controverso?

Filme faz provocação sobre 'cultura do cancelamento' e consequências do movimento Me Too, mas divide opiniões e tem gerado reações mistas com imprensa e público

13 out 2025 - 19h25
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Uma professora de filosofia da renomada faculdade de Yale ouve sua orientanda, uma aluna prodígio, acusar outro professor de estupro. O professor em questão é um grande amigo da outra docente, e afirma que a acusação é falsa, feita para acobertar o fato de que a aluna plagiou um trabalho. Professor e aluna não conseguem concordar em quase nada de suas versões da fatídica noite, e deixam seus colegas (e, por consequência, o público) divididos. Em quem acreditar?

Esta é a premissa de Depois da Caçada, novo filme do diretor Luca Guadagnino estrelado por Julia Roberts, Ayo Edebiri e Andrew Garfield — que interpretam, respectivamente, a professora Alma, a aluna Maggie e o professor Hank. O longa, uma análise provocadora sobre o movimento Me Too e a "cultura de cancelamento" de personalidades envolvidas em acusações de abuso ou assédio, tem dividido opiniões e despertado controvérsias. O Estadão reúne alguns motivos que explicam por quê.

A questão do 'Me Too'

O longa foi tema de debates após estreia no Festival de Veneza, e alguns críticos e jornalistas sentiram que a história era, de certa forma, datada e potencialmente prejudicial a mulheres.

Segundo a Variety, uma jornalista presente na coletiva de imprensa, em agosto, disse que muitos participantes do festival sentiam que o longa "revive velhos argumentos" usados para diminuir vítimas e não acreditar em mulheres que falam sobre assédio sexual. Questionada sobre a possibilidade de o filme ser prejudicial ao movimento feminista por "descredibilizar" essas narrativas e denúncias, Roberts alegou que a intenção é gerar debate.

"Não acho que seja só reviver um argumento de mulheres sendo colocadas umas contra as outras. A melhor parte da sua pergunta é o fato de todos terem saído do cinema conversando. É isso que queríamos. Você descobre no que acredita fielmente porque nós remexemos tudo."

Quando foi questionada mais uma vez sobre o assunto e a intenção do filme, Roberts afirmou que a humanidade está "perdendo a arte de conversação".

"Não estamos fazendo declarações; estamos retratando essas pessoas neste momento", disse. "Não sei sobre controvérsia em si, mas estamos desafiando as pessoas a conversarem. Ficar empolgado ou furioso com isso depende de você. Se fazer este filme gera alguma coisa, fazer com que todos conversem entre si é a coisa mais emocionante que acho que poderíamos realizar."

As referências a Woody Allen

O espectador mais atento vai notar uma fonte familiar nos créditos de abertura de Depois da Caçada, uma letra usada por Woody Allen em alguns de seus filmes mais notórios.

O uso não é apenas uma coincidência. A fonte foi escolhida de forma proposital, assim como os primeiros minutos do filme, que reprisam um estilo comum ao cineasta de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977). Allen, vale lembrar, foi acusado de abusar sexualmente de sua filha adotiva, Dylan Farrow, quando ela tinha sete anos. O diretor sempre negou as acusações, e foi considerado inocente.

Guadagnino confirmou as referências a Woody Allen na mesma coletiva de imprensa em Veneza. "Por que não? Não conseguíamos parar de pensar em Crimes e Pecados, ou A Outra, ou mesmo Hannah e Suas Irmãs", explicou o diretor, citando três filmes de Allen que abordam casos extraconjugais. "E havia uma estrutura na história que parecia muito ligada à grande obra de Woody Allen entre 1985 e 1991."

As acusações contra Allen foram feitas pela primeira vez em 1992, e as investigações não encontraram provas contra o cineasta. Mais tarde, já adulta, Dylan voltou a fazer alegações. Desde o auge do movimento Me Too, a reputação do diretor foi prejudicada, e ele enfrenta dificuldades para conseguir financiamento para seus filmes.

"Achei que também era uma espécie de aceno interessante para pensar em um artista que, de certa forma, enfrenta alguns problemas com seu ser", completou Guadagnino. "Qual é a nossa responsabilidade ao olhar para a obra de um artista que amamos como Woody Allen?"

O que diz a crítica?

Os singelos 42% de aprovação no agregador de críticas Rotten Tomatoes indicam o quanto a imprensa está dividida quanto ao resultado deixado por Depois da Caçada. Embora o filme consiga capturar a complexidade desejada por Guadagnino, muitos analistas acreditam que se trata de uma provocação esvaziada e verborrágica.

A crítica Alissa Wilkinson, do New York Times, afirma que o filme é "desconfortável pelas razões erradas". Ela escreve: "Depois da Caçada parece desesperado para ser visto como provocativo sobre coisas como a cultura do cancelamento e a 'lacuna geracional feminista'. Mas minha sensação predominante era de que existe uma versão anterior e melhor do roteiro, e todas as questões políticas foram adicionadas depois para torná-lo mais 'relevante'."

Já Justin Chang, da revista New Yorker, afirma que a mistura de estilo e substância é o forte do cineasta italiano, e que isso é a base do filme.

"Depois da Caçada será ridicularizado como pouco mais que um truque intelectual, um frágil castelo de cartas. Eu não discordaria, mas poucos diretores constroem casas mais luxuosas do que Guadagnino, sejam quais forem os materiais. A fala mais reveladora vem de um personagem periférico, o reitor do departamento de filosofia, que lamenta a natureza cada vez mais superficial e politizada de sua posição: 'Contra todas as probabilidades, me vi no ramo da óptica, não da substância'. Guadagnino não faz essa distinção. Para ele, estilo é substância, e ótica são apenas variações de estilo."

Depois da Caçada já está em cartaz nos cinemas do Brasil.

Estadão
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