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'O Agente Secreto' é belamente filmado e carinhosamente estilizado, afirma 'The Washington Post'

Jornal americano rasgou elogios ao filme de Kleber Mendonça Filho; leia a crítica na íntegra

26 dez 2025 - 17h56
(atualizado às 18h01)
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Uma das maneiras como o cineasta e escritor brasileiro Kleber Mendonça Filho mantém um clima de tensão ao longo de O Agente Secreto é colocando os tubarões em movimento.

Há um fictício, Tubarão - que, no filme de 1977, acabou de surgir na tela do Cinema São Luiz e, fora isso, está ocupado devorando os sonhos dos jovens do Recife. Então, há o real, agora morto mas ainda em posse de uma misteriosa perna humana saindo de seu ventre. (E laboriosamente removida por um médico legista desinteressado no momento mais sangrento do filme.)

Mas a outra maneira como ele faz isso - e o que faz os 158 minutos de O Agente Secreto (no título original em português) passarem como um sonho cativante - é enchê-lo com incertezas envolventes: Em quem você pode confiar? Onde você está seguro? Qual é o verdadeiro nome de todos? O que pode ser dito e o que não pode?

Quanto mais tempo você passa na vivida captura de Mendonça Filho do Brasil urbano sob o regime repressivo de uma ditadura militar - e sua rede de olhos e ouvidos - mais você se acostuma com suas regras não ditas, mais você ouve em seus breves silêncios.

Uma ordem silenciosa sustenta o ar de caos e atos de violência através do Recife neste "tempo de grandes travessuras" (como é eufemizado logo no início). Os mais de 90 corpos que aparecem (ou desaparecem) ao longo do Carnaval são menos motivo para lamentar do que razão para apostar que talvez haja 100 (ou mais). E quando a mídia local atribui os assassinatos de vários homens gays em um parque como ponto de encontro para a farra pela perna decepada reanimada, fica claro que, sob repressão, realidade e fantasia conspiram para obscurecer uma à outra.

Este filme belamente filmado, carinhosamente estilizado e magistralmente ritmado, agradou em Cannes (Mendonça Filho ganhou o prêmio de melhor diretor em maio) e se concentra em Armando, a quem também passamos a conhecer como Marcelo, um ex-professor transformado em refugiado político e viúvo recente, interpretado com controle exato por Wagner Moura, que recebeu o prêmio de melhor ator no referido festival francês e fez história este mês como o primeiro homem brasileiro a receber uma indicação ao Globo de Ouro para ator principal em um drama. (O Agente Secreto também garantiu indicações para melhor filme e melhor filme em língua não inglesa.)

Do seu início tenso até sua queda final, O Agente Secreto percorre um mundo consumido pela corrupção. Retornando ao Recife, Armando se abriga em uma casa segura ("o manicômio de Ofir", como alguém a chama) administrado pela dura e terna Dona Sebastiana (uma bela atuação de Tânia Maria) e movimentado por outros refugiados - alguns dos quais se irritam com o termo. Armando busca se reunir com seu jovem filho Fernando (Enzo Nunes), que não consegue parar de desenhar os tubarões de seus pesadelos, ou implorar a seu avô Alexandre (Carlos Francisco), um projetista no São Luiz, para deixá-lo ver Tubarão.

Através de uma rede de telefones públicos, telegramas e simpatizantes com pseudônimos - liderados pela firme Elza (Maria Fernanda Cândido) - Armando descobre que é o alvo pretendido de um par de assassinos (Roney Villela e Gabriel Leone). Eles foram enviados por Henrique Ghirotti (Luciano Chirolli), um ex-chefe da maior companhia de energia do país e não fã da pesquisa de Armando sobre baterias de lítio, da atitude da sua esposa Fátima (a breve participação de Alice Carvalho é extraordinária) ou do nordeste comparativamente provincial recebendo fundos estaduais.

Proibido de deixar o país, Armando deve desaparecer na cidade, raspando a barba para trabalhar como Marcelo no centro de identificação da cidade, aguardando um passaporte falso, vasculhando registros em busca de provas documentais de sua mãe morta e mantendo-se discreto enquanto um enxame de personagens duvidosos começa a sentir cheiro de sangue na água - incluindo o deliciosamente escorregadio Chefe Euclides (Robério Diógenes).

Os personagens nitidamente desenhados de Mendonça Filho se destacam na multidão do Carnaval: Há Vilmar (Kaiony Venâncio), o assassino de olhos arregalados contratado pelos assassinos. Há Hans (Udo Kier, em seu último papel), o sobrevivente do Holocausto confundido com um nazista e impiedosamente provocado por Euclides a mostrar suas cicatrizes e ferimentos de bala; há Thereza Vitória (Isabél Zuaa) e Antonio (Licínio Januário), refugiados da guerra civil angolana, agora vivendo sob novos nomes e sob a astuta segurança de Sebastiana.

E há Flavia (uma convincente Laura Lufési), a estudante de história do presente vasculhando um acervo de fitas cassete na tentativa de reconstruir os contornos da rede de resistência. Em sua vigilância tardia, podemos sentir tanto a passagem quanto o colapso do tempo.

Estamos assistindo Flavia preencher as lacunas entre seus fones de ouvido? Ou o filme é estritamente produto da imaginação panorâmica de Mendonça Filho? (Sua homenagem descomplicada às cores, texturas e sons do cinema brasileiro dos anos 1970 sugere o último.) O Agente Secreto sugere algo mais consequente com seu retrato cativante da resistência política: que sobreviver é uma questão tanto de observar quanto de cuidar um do outro.

Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.

Estadão
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