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Da rua para as telas: Como 'Caramelo' virou filme com Rafa Vitti e mensagem sobre adoção de animais

Transformado em símbolo nacional, vira-lata caramelo é estrela de novo filme da Netflix; ao 'Estadão', Rafa Vitti e o diretor Diego Freitas falam sobre trajetória do longa e incentivo a resgate de animais de rua

7 out 2025 - 21h46
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A primeira cena de Caramelo, filme da Netflix que traz um cãozinho vira-lata como protagonista para lá de encantador, é inspirada na história de como o diretor Diego Freitas encontrou sua grande amiga Paçoca. "Eu a vi em um anúncio, abandonada, numa caixinha de papelão num terreno baldio", recorda o cineasta em papo com o Estadão. "O filme é muito inspirado nela e para ela."

A homenagem já sintetiza o espírito do filme, uma comédia dramática sobre um cachorro cheio de energia que entra na vida de um rapaz que vive para o trabalho e o ajuda a repensar suas prioridades. Prato cheio de emoção para quem é apaixonado por animais, o longa que estreia nesta quarta-feira, 8, recrutou um conhecedor da causa para contracenar com Amendoim, o cão ator intérprete de Caramelo: Rafa Vitti.

"Eu acho que esse filme foi o maior desafio que eu já tive até hoje, não só pelo fato de eu estar contracenando 90% do tempo com um cachorro. Isso para mim é muito interessante porque ele está sempre me trazendo novos estímulos, não tem como repetir. Eu adoro trabalhar através dessa perspectiva do que pode surgir, e isso acaba sendo inevitável de acontecer quando a gente tem um cachorro em cena", explica.

Mais conhecido por novelas como Terra e Paixão, Além da Ilusão e Dona de Mim, da TV Globo, Rafa interpreta Pedro, um chef de cozinha esforçado que está prestes a ganhar uma promoção quando recebe um diagnóstico que transforma sua visão de mundo. Ao mesmo tempo em que precisa lidar com a incerteza de um tratamento agressivo, um cachorro abandonado e com energia de sobra insiste em entrar em sua vida, dando início a uma amizade que promete ser radicalmente transformadora.

"Essa história me atravessa muito", confessa o ator, ao falar sobre os desafios de encontrar o equilíbrio emocional de uma história que mistura a comédia das atrapalhadas de um cão com o drama da vida de seu personagem.

"O Diego teve muita sensibilidade de desenvolver essa história como fruto de uma vivência que ele tem. Eu quis muito participar desse projeto e me senti desafiado, pude desenvolver diversas habilidades e consciências. O filme não mexe só com quem assiste. Eu chegava em casa [das filmagens] e o fato de eu estar aqui [em São Paulo] sozinho me fazia refletir muito mais do que o natural. Foi quase terapêutico, um processo muito profundo de respeito e empatia."

Para Freitas, também responsável pelo romance sucesso de público Depois do Universo, encontrar o tom certo para o filme era um desafio maior do que dirigir algumas dezenas de cachorros. Afinal ao mesmo tempo em que o longa precisa lidar com a doença de Pedro e as dificuldades impostas pelo diagnóstico, precisa encontrar espaço para a leveza das peripécias de Caramelo.

"A gente misturou dois gêneros porque eu acho que isso é um pouco o reflexo da nossa vida", confidencia o cineasta. "A gente quis mostrar que ter um diagnóstico que pode ser, às vezes, avassalador na sua vida, não é só uma depressão sem fim, não é uma sentença de morte. Existe muita vida enquanto você está vivo, e a vida passa por esses altos e baixos."

Quem os vê em cena pode até acreditar que são atores veteranos com anos de experiência em frente às câmeras, mas este não é o caso de todos, nem mesmo do próprio astro principal. Em uma situação clássica de "a vida imita a arte", Amendoim tem uma história parecida com a de Caramelo: o ator também foi encontrado nas ruas e resgatado pelo seu tutor — o treinador de animais Luis Estrelas.

Criador do Estrelas Animais, espaço que funciona como escola de treinamento, agência e hotel para pets, Luis foi o grande responsável pelo treinamento dos cães e pelo bem-estar animal no set de Caramelo. Apaixonado pela profissão desde os 7 anos de idade, segundo ele mesmo — sua família, afinal, é veterana na área —, o treinador foi selecionado para participar do projeto após uma pesquisa da produtora com profissionais de todo o Brasil, e seu grande desafio desde o primeiro momento era encontrar o grande protagonista.

"Começamos uma pesquisa, visitamos ONGs, temos contatos de veterinários, amigos e treinadores no Brasil todo. [Os produtores] mandaram algumas referências, mas até então a gente só tinha isso e não sabia como proceder. Não era só achar o protagonista, era achar seis semelhantes", explica, já que o cão principal necessitaria de dublês.

Foram cinco meses de muitas visitas a abrigos e fotos recebidas até encontrá-lo da maneira mais despretensiosa possível.

"Em abril [de 2024] me aparece um cara, caramelo, sentado em um sítio nosso lá em Santo André", recorda Luis. "O Jeová, meu irmão, me ligou e eu falei: 'Abre a porta e coloca ele para dentro'. Jeová colocou ele para dentro e mandou foto e vídeo. Mandei para a Netflix, mas acharam ele pequeno. Era um filhote de quatro meses, e precisávamos de um adulto, pois as filmagens começariam em setembro. Eu falei: 'Não, mas ele é diferente'."

Embora não tenha conseguido convencer os produtores no primeiro contato, Luis foi confiante e já começou o trabalho de treinamento com Amendoim imediatamente. Um mês depois, quando finalmente recebeu o "sim" da equipe, o cão já evoluía e entendia comandos com tranquilidade.

"Se você dá um papel ou alguma coisa, o cachorro vai destruir. Ele não. Ele destruía mas de uma forma diferente", explica. "Ele pegava um rolo de papel higiênico, destruía e olhava para a gente. Como se perguntasse: 'É desse jeito que você quer ou eu pego do outro lado?' Você jogava uma almofada para ele, ele só mordia no local que a gente indicasse. Então, quando deram a resposta que era ele, fiquei muito feliz. Eu sabia que ele era diferente", orgulha-se

Passado o desafio de encontrar o astro, era hora de achar seus dublês, mas a situação também não era fácil; muitos cães, resgatados das ruas ou de situações insalubres, chegavam traumatizados.

"Ou a orelha era diferente, ou era um cão muito assustado. Vejo caramelos até hoje pelo tanto que foto que recebi. O Derek, que era o primeiro dublê, morria de medo de homem. Demoramos dois meses para reabilitá-lo. Minha assistente, Vitória, começou a ficar com ele e criou uma afinidade tão grande que acabou o adotando."

No set, os animais tinham acompanhamento rigoroso de uma equipe profissional inteiramente dedicada garantir o bem-estar deles, com veterinário, nutricionista, fisioterapeuta e até academia e natação.

Ao todo, 80 cães atuaram no filme, e eles se revezavam no set durante as diárias. "Alguns dias a gente usava 30, no outro 50, e íamos trocando de acordo com a afinidade deles" explica Luis. Todos os cães foram acompanhados de perto pelos treinadores e pela equipe médica, e a maioria veio diretamente de abrigos, resgatados tanto por Luis e sua equipe quanto por outros protetores.

"Tivemos 12 treinadores profissionais e 12 treinadores assistentes nesse projeto, além dos veterinários e de todo o restante da equipe", garante Luis. "Nossa preocupação era sempre com o bem-estar dos cães. Tanto que na maioria das cenas eles estão simplesmente se divertindo. O Jeová ficava sempre ali e os cachorros se sentiam à vontade."

Herói brasileiro

Alçado ao posto de símbolo brasileiro ao lado de clássicos como o pão de queijo e a caipirinha, o vira-lata caramelo chega ao streaming com a torcida de que, em uma grande plataforma, o filme ajude a impulsionar a adoção e o resgate de animais abandonados. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, só no Brasil, existam mais de 30 milhões de animais nas ruas, sujeitos a maus-tratos e fome.

"Todo mundo para quem eu falei sobre o filme, das protetoras, eu vi os olhos brilharem", compartilha Luis. "Não tenho dúvida de que muita gente vai olhar para esse lado [da adoção]. Você pode ter um cara legal, um amigo como ele também, e nas ONGs tem muitos caras legais como o Amendoim."

"Acho que o filme já está causando esse impacto", completa Vitti. "A partir do momento em que falaram que o filme seria feito, e a própria iniciativa de rodar um filme sobre o caramelo dentro de um ambiente como esse, que vai chegar no mundo inteiro... não tenho a menor dúvida que vai incentivar muita gente a repensar quando quiser comprar um cachorro", torce o ator, projetando: "'Acho que eu vou no abrigo, talvez lá eu encontre um grande parceiro que vai alegrar meu lar e que vai me dar amor, e que vai receber muito amor também'."

Estadão
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