Filme com Michelle Williams narra conquista do oeste americano
- Orlando Margarido
- Direto de Veneza
A grande tela da sala Perla, onde acontecem diariamente as sessões dosfilmes para a imprensa em formato cinemascope, foi preenchida apenas por um quadrado de imagem na última programação noturna de ontem. Começava aexibição do concorrente americano Meek's Cutoff e essa diferença no formato já preconizava a quebra de paradigmas no gênero do faroeste tão conhecido do público. Talvez seja exagero chamar de ousadia, mas uma diretora se lançar num território eminentemente masculino e com um estilo que passa longe da ação característica, tiroteios e perseguições, e investe num registro quase teatral, reflexivo, já merece atenção.
Foi o que fez Kelly Reichardt, nome do cenário independente de Nova York.Ela nos traz a história de três famílias de colonos que se perdem no deserto do Oregon depois de se afastarem de um grupo maior, liderados por um guia pouco confiável, o Meek do título (Bruce Greenwood). Com dificuldades para encontrar água e o destino, elas passam a depender de um índio que capturam no caminho.
Baseado em diálogos mais do que na atitude física, o filme tem a câmerasempre muito próxima dos atores (no elenco está Michelle Williams), o quesegundo a diretora é uma das justificativas do formato escolhido. "Isso (ocorte quadrado) me permitia estar perto dos personagens todo o tempo; eassumo que também queria apontar ali a diferença de um western tradicional", disse na coletiva de imprensa esta tarde.
Não por acaso a similaridade com a estética de cineastas como Gus Van Sant e o francês Robert Bresson foi lembrada. "Não tenho uma perspectiva dessas quando começo a filmar, mas por certo gosto do cinema de Bresson, dou aulas sobre ele na universidade". Bresson é reconhecido por dar grande valor a gestos de seus personagens, sempre contidos, e ao sons naturais da cena.
No filme de Reichardt, acompanha-se situação semelhante, com as mulheres cozinhando, costurando, e os homens tratando das carroças e dos animais. "Os atores precisaram aprender a lidar com tudo isso; era o dia a dia dessa gente que conquistou o oeste, uma vida difícil, aborrecida e solitária."