Diretor estreante disputa prêmio e testa platéia
Se Garapa representa para José Padilha o teste do segundo filme no Festival de Berlim depois de Urso de Ouro por Tropa de Elite, a exibição de Vingança tem um sentido mais desafiador para o diretor gaúcho Paulo Pons. Ambos estão na seção não competitiva Panorama da Berlinale, mas Vingança concorre a um prêmio em dinheiro de cineasta estreante no valor de 50 mil euros. "Profissionalmente é meu primeiro filme", aponta Pons, em entrevista ao Terra. "É o primeiro que finalizei e comercializei". O filme ganha quatro exibições aqui em Berlim, entre os dias 9 e 13 de fevereiro.
Diferente também do inédito Garapa, que tem estréia prevista no Brasil para abril, Vingança já passou pelo circuito comercial de algumas capitais por um breve período. Até agora, o suspense envolvendo um jovem gaúcho (Erom Cordeiro) que vai à capital fluminense para justiçar o estupro de uma garota teve pequena recepção, quadro que Pons pretende reverter com a carreira no DVD e na TV. No elenco ainda estão Bárbara Borges, Branca Messina, Marcio Kieling, entre outros.
O caminho para Berlim começou a se abrir em outubro do ano passado. Foi no Festival do Rio que o diretor ficou sabendo do interesse da mostra alemã pela fita. "Recebemos um e-mail informando que havia um ou mais 'olheiros' da Berlinale no Festival do Rio, e que eles teriam se interessado pelo filme", explica. "Pediram então que o inscrevêssemos para a seção Panorama e lhes enviássemos uma cópia". A confirmação da seleção veio num telefonema no dia 7 de janeiro de 2009. Mesmo antes do contato inicial, Pons lembra que ele e sua equipe já estavam decididos a tentar uma vaga em Berlim. "É um dos maiores festivais de cinema do mundo, e o primeiro do ano".
Apesar da participação bem-vinda, Pons ainda discute a possibilidade de vir a relançar o filme no Brasil. Em seu blog, num texto recente, ele analisa as razões do período curto em que Vingança ficou em cartaz. "Estar em Berlim é fantástico, representa a nova fase do filme e talvez seja só o início da carreira de Vingança", pondera. "Mas a relação de um filme com sua bilheteria está limitada à verba de publicidade e o tempo em que ele permanece em cartaz, que podem ou não ser coincidentes". E prossegue: "De qualquer forma temos ainda possibilidades em outros mercados".
Desde que fez as primeiras participações em festivais nacionais, como Gramado, Vingança usa seu baixo orçamento como um dos apelos da produção. Custou 80 mil reais, valor que o diretor pretende manter próximo para mais três novos projetos, como Espiral, título provisório, que já foi filmado e será montado depois da agenda em Berlim. Parte de um mote de suspense, mas segundo o diretor prossegue no tom de humor negro para contar a trama de sete pessoas que se encontram numa casa desconhecida e ali encontram um corpo. A filmagem é em tempo real e conta com recursos técnicos como duas telas simultâneas.
Em seguida virão A Hora Mágica, título homônimo mas sem relação com o longa-metragem de Guilherme de Almeida Prado, e Os Realizadores, com produção prevista ainda para 2009. O diretor adianta que nessas histórias ele preferiu se distanciar do suspense utilizado em Vingança e gênero incomum no cinema brasileiro. "Não tenho preferência entre gêneros", diz. "Tanto posso tentar um drama ou uma comédia, quanto um policial ou terror; como planejo fazer mais de um filme por ano, é natural que decida variar temas e estilos". O que não abre mão é de escrever seus próprios roteiros. "Isso me dá total liberdade de realização".
Apesar de alguns fatores positivos, como a iniciativa de um suspense bem armado, a crítica brasileira em geral se entusiasmou pouco pelo filme. Sobre a platéia internacional esperada em Berlim, o que inclui mais de quatro mil jornalistas especializados, Pons está otimista. "O cinema é um produto cultural que pode comunicar sua mensagem não só à sua própria região ou país, mas a muitas outras", aponta. "Qualquer que seja o filme, ele é sempre um filme sobre pessoas; e por mais diferentes que sejam os hábitos de um povo, os sentimentos que caracterizam o indivíduo são os mesmos em qualquer lugar do planeta".