'Dez Vezes Venceremos' surpreende ao abordar causa indígena no Chile
O diretor Cristian Jure decidiu assumir uma postura despojada para criar Dez Vezes Venceremos, segundo filme que concorre ao Kikito de longa-metragem estrangeiro, exibido na última segunda-feira (13). Ao retratar a trajetória de Pascual Pichún, membro da comunidade Mapuche ao sul do Chile, o diretor adota uma narrativa dura que nasce da própria realidade de repressão e intimidade do povo com a terra pela qual luta.
Filho do líder local dos Mapuche, Pascual e sua família são acusados de atear fogo ao caminhão de uma madeireira. Condenado, o rapaz se refugia na Argentina, onde se matricula no curso de Jornalismo para combater a mídia que denigre a causa dos indígenas. Ele, porém, decide voltar para o seu país após sete anos, pois, segundo ele, não adianta viajar pelo mundo falando dos Mapuche, "de uma história da qual não sou protagonista".
A produção mostra o reencontro dele com sua família em Temulemu, retratando a cultura da comunidade sem floreios ou recursos tecnológicos em exagero, mas com um roteiro que exibe a profunda intimidade deles com a natureza - daí a escolha estética por uma narrativa dura. À frente de uma rádio clandestina que dissemina a luta pela terra, Pascual, como já esperava, é preso. A partir daí, a trama reproduz a união da causa territorial com o movimento estudantil, que apoia o jovem com protestos por sua liberdade.
Ao contrário do que acontece em muitos documentários do tipo, Dez Vezes Venceremos - frase-lema da luta Mapuche - registra uma esperança, com a liberdade de Pascual, que acontece alguns anos depois. Em meio à nublada região montanhosa de Temulemu, o jovem encerra a produção em um diálogo com o diretor - que acontece em várias partes da trama -, sob um clima de intimidade com o espectador.