Heitor Dhalia se diz relaxado e amadurecido com 'À Deriva'
Há dois anos, o diretor Heitor Dhalia foi a Cannes apresentar o projeto de À Deriva, numa iniciativa da Focus Features, selo independente ligado à Universal Pictures e parceira no Brasil da O2, co-produtora da fita. Começava ali o caminho do filme, o terceiro do realizador de Nina e O Cheiro do Ralo, rumo a uma brecha no disputado circuito dos festivais internacionais de prestígio. A boa notícia esperada veio do próprio Festival de Cannes, que anunciou o título na competição paralela da mostra Un Certain Regard.
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Entre uma coisa e outra, Dhalia não ficou sentado esperando. Conversou e pediu ajuda a colegas como Walter Salles, um reconhecido amigo do festival francês, e ao próprio Fernando Meirelles, um dos sócios da O2 e que no ano passado abriu a competição na Croisette com Ensaio sobre a Cegueira. "Cannes é uma plataforma de lançamento importante e é normal fazer essa política nos bastidores, tentar de alguma maneira uma ajuda para um filme", diz. "Também recebi ajuda de outras pessoas, mas o Salles foi muito generoso em nos apontar os caminhos, afinal são mais de dois mil filmes, para ficar apenas cinqüenta na seleção final."
Dhalia diz não ter alimentado ilusões durante o processo, mas sempre achou que Cannes seria a vitrine ideal do filme. "É uma história e um estilo que tem muito a ver com uma certa tendência do cinema francês, de diretores como (Eric) Rohmer e (François) Truffaut, dos filmes de jovens adolescentes, e também do italiano, sobre férias de verão e família", aponta. "Sinto que é um trabalho na medida para Cannes, pois essas minhas influências são referências importantes na trajetória do festival." Apesar delas, das influências citadas, o diretor trabalhou com uma memória que lhe é muito pessoal.
Até os 20 anos, o pernambucano Dhalia morou numa praia próxima ao Recife, cenário em que assistiu à separação dos pais. No filme, esse material comparece em boa parte da trama, na qual a adolescente Filipa (a novata Laura Neiva) passa as férias com a família no litoral e descobre que o pai (o ator francês Vincent Cassel, de Senhores do Crime) tem uma amante (a atriz americana Camilla Belle, de 10.000 a.C), pivô de uma iminente separação da mãe (Débora Bloch). "Todo mundo já teve, se não com um drama assim, umas férias de verão tão agitadas como essa, de rito de passagem para a juventude; por isso o filme emociona muita gente", diz o diretor, baseado nas sessões já realizadas para amigos e conhecidos.
Dhalia se diz tranqüilo quanto à acolhida e possíveis repercussões em Cannes. É sua primeira experiência num festival de grande porte e a presença no elenco de um intérprete francês - Cassel atua falando português, língua que domina bem - pode ajudar. O Cheiro do Ralo chegou a participar do Festival de Sundance, mas o diretor sabe que nada se compara ao glamour e à concorrência da Croisette. Ele segue para o Festival com todo o elenco, ainda formado por Cauã Reymond. "Estou relaxado", garante. "O importante é que fiquei muito feliz com o filme, meu trabalho mais maduro e que, acredito, atingirá um público também mais maduro."