Cannes: Comédia de Gregg Araki é para divertir ou abandonar
- Orlando Margarido
- Direto de Cannes
Nada em Kaboom autoriza supor que se deve exigir mais do que mera diversão e boas risadas nessa história de universitários bonitos e bem-nascidos da Califórnia, incomodados por estranhos acontecimentos. O filme do diretor independente americano Gregg Araki, que voltou a dirigir depois de três anos, foi apresentado em sessão especial.
Poucos espectadores deixaram a pequena sala Buñuel, que se manteve cheia até o final. Sinal de que entenderam o recado da fita e "entraram" na trama que mistura ainda suspensa e toques fantasiosos.
O jovem Smith (Thomas Dekker) é, para todos os efeitos, um gay que prefere se dizer "não-declarado", enquanto se deixa seduzir por uma garota com quem se envolve na noite. Mas sua maior dúvida é sobre um sonho recorrente e os delírios sempre presentes de homens de máscara de animais que os perseguem. Divide a angústia com a melhor amiga lésbica (Halley Bennet), envolvida com uma estranha garota com poderes sobrenaturais. Aos poucos, o passado familiar de Smith vai revelar algumas pistas, não sem os recursos por vezes hilariantes.
É este o universo habitual de Araki que seus fãs aprovam pelo menos desde Doom - Geração Maldita (1995) e Mistérios da Carne (2004) -, este o último a entrar em circuito comercial. Aqui, o drama suplantava a diversão e trazia um relato impactante e bem acabado de um rapaz abusado sexualmente na infância e que se torna um garoto de programa.
De cinematografia irregular, Araki pode não atingir a mesma profundidade agora, mas se mantém coerente em tratar, ainda que pela veia cômica, do tema da negligência paterna.