Documentário exibido em Berlim apresenta clássico sobre Holocausto "Shoah" para a nova geração
Quarenta anos após o lançamento da obra seminal "Shoah", do diretor francês Claude Lanzmann, um novo documentário exibido no Festival de Cinema de Berlim tem como objetivo tornar a obra, que tem mais de nove horas de duração, palatável para a nova geração. "All I Had Was Nothingness", do diretor Guillaume Ribot, percorre centenas de horas de filmagens inéditas da obra original, focando em Lanzmann e seu desafio de anos para criar "Shoah". Lanzmann, que morreu em julho de 2018, aos 92 anos, começou a trabalhar em uma história oral do Holocausto em meados da década de 1970, conduzindo uma série de entrevistas com sobreviventes, perpetradores e testemunhas do assassinato de 6 milhões de judeus pelos nazistas. Ele passou, assim, 11 anos produzindo "Shoah" -- a palavra hebraica para Holocausto --, lançado em 1985. "Temos que continuar fazendo filmes. Temos que continuar falando sobre isso", disse Ribot à Reuters quando perguntado sobre lembrar o Holocausto. Ribot, que trabalhou em vários documentários sobre o tema, disse querer que seu novo filme atraísse em particular os jovens que podem não estar familiarizados com "Shoah". "A maneira como escrevi meu filme, na forma de uma investigação policial, um road movie, um homem no trabalho, mostra que com inteligência, perseverança e esse desejo louco de fazer cinema, você pode seguir adiante", afirmou. O documentário traz detalhes íntimos da produção de "Shoah", como um Lanzmann sem camisa sendo preparado para o uso de um microfone escondido, ou mesmo sendo atrapalhado por vizinhos alemães intrometidos. Ribot narra o filme com trechos das memórias de Lanzmann, chamada "A Lebre da Patagônia", relatando suas lutas contínuas com o financiamento, o propósito do projeto e tentativas infrutíferas de entrevistas. "'Shoah' é um filme da era pré-digital. Tudo era caro, tudo era difícil", lembrou Ribot. "Isso, junto com a coragem e a teimosia de Claude Lanzmann, teve uma grande influência no filme. Lanzmann usou microfones e câmeras escondidos para gravar entrevistas sem consentimento e até criou uma identidade falsa para esconder seu sobrenome judeu, com o objetivo de convencer pessoas que trabalharam nos campos de concentração a falar com ele. Para jornalistas, tais práticas são consideradas antiéticas. Ribot lembrou que Lanzmann "sempre disse que fazia cinema. Na verdade, ele se recusou a ser categorizado como documentarista".