Discurso de Renato Russo sobre pessoas trans ganha nova força
Vídeo antigo reacende debate sobre retrocessos políticos nos Estados Unidos
A internet, vez ou outra, resgata arquivos que parecem mais atuais do que nunca.
Dessa vez, o protagonista do momento é Renato Russo.
Um vídeo do cantor e compositor da Legião Urbana, gravado nos anos 1990, voltou à tona nas redes sociais e tem provocado uma onda de reflexões e indignações diante do cenário político internacional atual, especialmente no que se refere à população transgênero nos Estados Unidos.
A fala viralizada mostra Renato em um discurso contundente sobre a invisibilidade e a luta das pessoas trans. Mais especificamente, ele destaca o papel histórico das travestis dentro da comunidade LGBTQIAPN+ e a importância de políticas públicas concretas que garantam seus direitos.
O trecho em questão, originalmente mencionado em um debate sobre união dentro da sigla, foi resgatado em meio a reações contrárias às políticas implementadas pelo ex-presidente Donald Trump, que recentemente voltou ao centro do poder com propostas que preocupam ativistas dos direitos humanos.
Renato Russo: Travestis como pilar da luta LGBTQIAPN+
O que surpreende e comove é como as palavras de Renato Russo, proferidas há quase três décadas, ainda se encaixam com precisão no contexto atual. Com sua lucidez característica, ele alerta para o risco de se confiar apenas na aceitação social, sem que isso se traduza em proteção legal. Em um dos momentos mais fortes do discurso, Renato dispara:
"As travestis abriram caminho pra todo mundo. Eu quero é um estatuto no código do município: 'Não pode haver discriminação por identidade sexual'. Senão, fica igual aos gays dos Estados Unidos que acham que estão bem, mas não têm nenhuma lei que os proteja."
A frase, que circula amplamente nas redes desde o dia 10 de junho, veio acompanhada de uma crítica velada mas poderosa à falta de união interna no movimento LGBTQIAPN+.
Ainda que o resgate do vídeo tenha surgido a partir de um embate sobre esse tema, a repercussão rapidamente ultrapassou os limites do debate identitário e expôs as rachaduras das políticas públicas voltadas à diversidade em diferentes países.
A popularidade do vídeo ganhou ainda mais força após recentes declarações e medidas do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que voltou ao cargo com uma postura ainda mais conservadora em relação às questões de gênero.
Especialistas e ativistas apontam que, sob sua nova gestão, políticas fundamentais para a proteção de pessoas trans estão sendo sistematicamente desmontadas.
Nesse contexto, a fala de Renato Russo vira um espelho incômodo. É como se o cantor, que partiu em 1996, estivesse aqui, vendo tudo acontecer de novo — ou de novo não, porque talvez nunca tenha deixado de acontecer.
O Brasil e o mundo mudaram em muitos aspectos, mas o discurso em defesa das minorias, especialmente das pessoas trans, ainda precisa ser repetido com urgência.
Não por acaso, os versos e as opiniões de Renato Russo continuam pulsando no imaginário coletivo como uma espécie de bússola moral. Talvez porque sua arte, sua coragem e sua inquietação tenham sido, no fim das contas, atemporais. E quando a arte vira farol em tempos sombrios, o mínimo que podemos fazer é escutar.