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Como o Oasis redefiniu o rock inglês com '(What's the Story) Morning Glory?' [RESENHA]

Das agressivas técnicas de produção às afáveis melodias de "Wonderwall" e "Don't Look Back in Anger", álbum consolidou a ambição dos Gallagher e bateu recordes de vendas

21 nov 2025 - 16h45
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Certa vez, Noel Gallagher definiu (What's the Story) Morning Glory?, segundo álbum do Oasis, de forma precisa: "Esse disco é sobre sair da merda de Manchester [cidade onde o grupo nasceu]. Definitely Maybe é sobre sonhar em ser um pop star em uma banda. Morning Glory é sobre ser um popstar em uma banda". Em seu segundo álbum de estúdio, Oasis elevou seu patamar de modo tão consciente que chega a ser assustador.

Capa de (What's the Story) Morning Glory?, álbum do Oasis (
Capa de (What's the Story) Morning Glory?, álbum do Oasis (
Foto: Michael Spencer Jones / Rolling Stone Brasil

Não que o trabalho de estreia fique muito atrás. Impressiona pensar que o grupo tenha feito canções como "Supersonic" e "Live Forever" logo de cara. Mas há uma ambição adicional em (What's the Story) Morning Glory?, motivada talvez pelo desejo de nunca mais voltar para a "merda de Manchester". Algo que os hits "Wonderwall" e "Don't Look Back in Anger" garantiram com folga.

Morning Glory marca a primeira e uma das mais importantes mudanças de formação no Oasis. Após brigas, Tony McCarroll — que tocou apenas em uma faixa do disco, "Some Might Say" — deixou o banquinho da bateria, ocupado a partir daí por Alan White, por anos o único nativo do sul inglês, enquanto todo o resto vinha de Manchester. A diferença em performance é nítida, pois White, recomendado a Noel por Paul Weller, já acumulava larga experiência. Ajudou a colocar o grupo em outra prateleira a nível musical.

Weller, diga-se, tem papel central no disco não apenas pela indicação do batera. O guitarrista da The Jam e amigo dos caras fez participação em "Champagne Supernova", contribuindo com solo, além de ter ficado a cargo da gaita nas faixas instrumentais conhecidas como "The Swamp Song". "Graças a Deus ele tocou em 'Champagne Supernova'", admite Noel. "Estava pedindo um solo e o meu era péssimo".

Por um lado, havia caos. O rompimento com McCarroll era a ponta do iceberg de rachaduras internas. Noel saiu da banda rapidamente ainda na turnê de Definitely Maybe e Liam Gallagher admitiu ao Sunday Times, em 1996, que já pensava em deixar o grupo naquela época. Fora o desgaste da feroz Batalha do Britpop, nome dado ao episódio de rivalidade em que Oasis (com "Roll with It") e Blur (com "Country House") disputaram, sob intensas trocas de farpas, o topo da parada de singles britânica — curiosamente vencido pela segunda banda.

Por outro, o co-produtor Owen Morris garante: as sessões de gravação de Morning Glory foram "as melhores, mais fáceis, mais felizes e mais criativas" em que ele já trabalhou. Dá para perceber no resultado final.

Sonoramente, este álbum chama atenção por adotar deliberadamente a técnica de estúdio de brickwalling, onde o volume do áudio de cada canal de gravação é elevado a níveis estratosféricos, com auxílio de compressores, para padronizar a audição. Até mesmo aquele instrumento que foi tocado com sutileza passa a estar "na cara" do ouvinte. Seria o início da famosa loudness war?

Fato é que, apesar das ressalvas até de Noel nesse quesito técnico, o disco soou e ainda soa bem. Envelheceu como um clássico. A abordagem de produção reforçou a aura grandiosa adotada pelas composições, mais melodiosas e ligeiramente experimentais pelo uso de arranjo de cordas, mas sem abdicar dos refrães fortes. É menos cru, mais arquitetado. Ao conceber o material, o Gallagher mais velho — que frequentemente afirma não ser um compositor genial e sim um "fã copião" — passou por etapas diversas da música britânica. Muito além de Beatles: os diálogos e menções vão de Stone Roses a Mott the Hoople, de Small Faces à contemporânea/amiga The Verve, de T. Rex a The Smiths… do glam setentista ao shoegaze oitentista, o caldeirão de influências borbulhava.

Os números refletem o acerto artístico. (What's the Story) Morning Glory? bateu o recorde histórico de vendas de primeira semana no Reino Unido, com 345 mil cópias em apenas sete dias. A estratégia de lançar dois singles e a citada Batalha do Britpop pareciam ter surtido efeito. Nos Estados Unidos, chegou à quarta posição da parada nacional, o que se provou um diferencial: por lá, acredite, Oasis é a "banda de 'Wonderwall'". Mundialmente, estima-se que Morning Glory tenha mais de 22 milhões de unidades comercializadas desde então.

https://www.youtube.com/watch?v=bx1Bh8ZvH84

Morning Glory adquiriu força similar até no streaming, décadas depois. Este álbum, em sua versão remasterizada e expandida, está entre os 10 trabalhos de rock mais ouvidos em todos os tempos no Spotify, com mais de 5 bilhões de streams acumulados. "Wonderwall", com 2,5 bi, e "Don't Look Back in Anger", com 1,2 bi, puxam a fila. A força atemporal do Oasis, em especial desse disco, é diretamente responsável pela turnê de reunião iniciada em 2025.

Como explicar tamanho apelo de (What's the Story) Morning Glory? Se este texto não permitiu chegar a alguma conclusão, o jeito é recorrer à justificada falta de modéstia de Noel Gallagher. Em 2020, ao ser levado a ouvir o álbum pela primeira vez em anos, o guitarrista declarou: "Entendo por que 22 milhões de pessoas compraram esse disco. Agora entendo por que esse álbum mexe com a molecada de 14 anos hoje. Não há muitas bandas fazendo algo assim agora. Até as bandas que usam guitarras não fazem coisas assim. Percebi isso hoje pela primeira vez em 25 anos".

https://open.spotify.com/album/2u30gztZTylY4RG7IvfXs8

Rolling Stone Brasil: Edição de Colecionador — Oasis

Rolling Stone Brasil - Edição de colecionador. O sonho do retorno do Oasis com Noel e Liam Gallagher na formação parecia impossível. Não é mais. A dupla, cheia de atitude, deixou sua marca no rock mundial logo nos dois primeiros discos de estúdio, Definitely Maybe (1994) e (What's the Story) Morning Glory? (1995), cujas músicas ressoam com os antigos e novos fãs.

Os Gallagher sobreviveram ao teste do tempo e estão melhores do que nunca, seja tecnicamente ou pela relação interna. Neste especial, a Rolling Stone Brasil resgata as brigas, disseca o estilo inconfundível dos irmãos de Manchester e faz uma análise aprofundada da discografia, lados B e melhores músicas da banda. À venda no site Loja Perfil.

+++ LEIA MAIS: As melhores músicas do Oasis na opinião de Noel Gallagher

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