'Cocoricó' volta aos cinemas recriando contos infantis
- Simone Bertuzzi
- Direto de São Paulo
Um dos sucessos da programação infantil da TV Cultura, Cocoricó volta novamente aos cinemas nesta sexta-feira, 12, com o filme Cocoricó Conta Clássicos, produção especial para o Dia das Crianças - e que estará em breve na programação do Sundaytv.
Na semana da criança, chega aos cinemas Cocoricó Conta Clássicos
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Como o próprio nome revela, os personagens da fazenda desta vez interpretam os clássicos do cinema O Corcunda de Notre Dame, Rapunzel, A Cigarra e a Formiga, A Bela e A Fera e O Flautista de Hamelin, transformando cenários como o paiol em diferentes adaptações para os contos infantis.
O longa-metragem promete uma experiência audiovisual rica e diferente. "Como na história da Bela e a Fera, em que o Júlio fará um príncipe do mau. Acho bem interessante, porque quem pode imaginá-lo sendo assim? Acabamos fazendo uma crítica e brincando com isso", conta o diretor Fernando Gomes, que na trama manipula os personagens Júlio, Vovô e Roto.
Além da ambientação no universo da fazenda, a produção também busca atrair e cativar o público pelo bom humor nos diálogos e adaptações dos nomes das obras originais, que no filme foram rebatizadas para Cocoricunda de Notre Dame, Rapunzilica, Os Cigarras e As Formigas, Belalilica e Ditofera e O Gaitista de Quixeramobim.
Inventividade que marca o próprio Cocoricó. No ar desde 1996, preserva a mesma proposta educativa, com personagens que retratam a vida simples numa fazenda em situações que buscam ressaltar valores como amizade e generosidade.
Confira a entrevista que Gomes deu ao Terra no estúdio do Cocoricó, em que fala sobre o novo filme no cinema e dá detalhes do processo criativo e inspirações para o dia a dia do programa.
Terra - Qual foi o critério de escolha dos clássicos para Cocoricó Conta Clássicos?
Gomes -
O critério principal foi adequar o clássico escolhido aos personagens do nosso casting. Depois, que os atores do
Cocoricónão interpretassem personagens muito óbvios. Como em
Branca de Neve, que refizemos para
Branca de Neve e O Sete Anões, com um anão que se chama Sete Anões, o Caco. Ou na história da
Bela e a Fera, em que o Júlio fará um príncipe do mau. Acho bem interessante, porque quem pode imaginar o Júlio sendo assim? No final, damos aquela cutucada: se a fera conquistou a princesa pelo que ela é internamente, por que ele tem que se tornar príncipe novamente? Há esse tipo de crítica no meio do filme.
Terra - O filme todo se passa nos cenários habituais do Cocoricó?
Gomes -
Sim, tudo acontece nos cenários do "Cocó". Como a proposta foi dar a visão dos nossos personagens sobre esses clássicos, o paiol, por exemplo, se transformou na Catedral de Notre Dame, para fazer o Cocoricunda, e assim por diante.
Terra - Do filme no cinema para a série na TV. O cenário poético pode ser um dos fatores do sucesso do Cocoricó? A que se deve o sucesso do programa?
Gomes -
Eu acho que temos alguns fatores que usamos no trabalho que ajudam para o seu sucesso no final, como o cenário rico, a luz excepcional, as lindas canções, os enquadramentos e os coloridos. Mas se eu tivesse que responder a razão de o
Cocoricófazer tanto sucesso, eu arriscaria dizer que é por que o "Cocó" não é um programa feito só para crianças, mas também para a família. Ele atrai os pequenos pela beleza estética, os bonecos atraentes, o colorido e as canções. Já as histórias, agradam crianças mais adolescentes e aos adultos.
Terra - Como os bonecos são criados?
Gomes -
O formato de criação dos personagens varia muito. Muitas vezes recebemos um briefing do personagem e também sua proposta estética. Às vezes, desenhamos a estética, ela é aprovada e outro artista confecciona. Depois, vendo o boneco vivo e manipulado, percebemos que ele se encaixa com o personagem.
O Júlio, por exemplo, é um personagem criado por mim, mas que não nasceu para o Cocoricó. Ele nasceu para um especial de Natal em 1989, chamado Um Banho de Aventura, que depois foi inserido no Senta que lá vem História, do Rá-Tim Bum.
O Júlio, como a maioria dos nossos bonecos, é tratado como um ator. Quando acabou o projeto que ele fazia, ficou "desempregado" por um bom tempo até nascer a ideia do Cocoricó, onde uma criança e os animais se encontrariam em um paiol para assistir desenhos animados. Ele foi escalado como ator principal. Então, quem me trouxe ao programa foi o Júlio.
Terra - O novo formato do programa traz entrevistas ao vivo com convidados "desconhecidos" do universo infantil. Qual é a proposta desse talk show dentro do Cocoricó?
Gomes -
O formato nasceu com a proposta de abrir um quadro em que o Júlio receba algumas pessoas para um bate-papo, para apresentar ao público infantil pessoas que tenham histórias interessantes. As crianças de hoje não têm obrigação nenhuma de conhecer Inezita Barroso, Tatiana Belinky ou o Ziraldo, por exemplo. Então é uma chance de apresentarmos todo esse pessoal da antiga e também de abrir o leque para a criançada. O foco principal sempre é a infância do convidado, para que ele possa mostrar à criança qual o caminho que o levou a ser o que é hoje, inspirando-a a traçar o seu destino.
Terra - É quase inevitável que as crianças se rendam às tentações tecnológicas e opções de entretenimento na internet. Como está sendo a adaptação do programa e dos personagens para esta nova linguagem?
Gomes -
Acho que é impossível manter as crianças afastadas da tecnologia, e nós já estamos nos adaptando. A incursão tecnológica dentro do
Cocoricóaconteceu há três ou quatros temporadas, quando sentimos muito a necessidade disso. O Júlio e seus amigos viviam uma situação bucólica na fazenda, sem nada muito eletrônico. Aí, o primo do Júlio, o João, veio da cidade para passar um tempo na fazenda e chegou com tudo isso: laptop, celular, games e tudo mais. E isso tudo passou a fazer parte do universo do programa.
Terra - O quanto de você ou da sua vida há nos seus personagens?
Gomes -
Eu me policio muito para que não tenha nada, mas se eu falasse "nada", estaria mentindo para você. Eu sempre me policiei, não só com o Júlio, mas também com os outros personagens. Porém, o Júlio é um personagem tão antigo que eu falhei! Eu sou carioca e flamenguista, e, uma vez, quando o Júlio estava dando uma entrevista, a repórter o perguntou para qual time de futebol ele torcia. Ela me pegou de calça justa, e o Júlio soltou um "Flamengo", assumindo ser flamenguista desde então.
Terra - Quando está com as crianças da sua família ou de conhecidos, pedem para que você interprete o Júlio?
Gomes -
É muito engraçado, porque eu vivo a realidade do "santo de casa não faz milagre". A minha família não liga nada para o Júlio, mas filhos de amigos gostam muito. Também, o que é muito engraçado, há as pessoas que não me conhecem e que, por acaso, acabam descobrindo que eu dou a voz ao Júlio e me pedem para falar com os filhos por telefone. Essas coisas, às vezes, acontecem em lugares inusitados, como em lojas dentro do shopping, em que eu já tive de me esconder para fazer a voz do Júlio para um garotinho.
Terra - Qual é a maior satisfação de trabalhar e receber o carinho do público infantil?
Gomes -
Eu nasci profissionalmente em televisão, trabalhando em programação infantil. Eu trabalhei em praticamente todas as emissoras, mas, desde sempre, na TV Cultura. Então, tenho isso na veia. Não consigo pensar em nada diferente. Acho que não temos que educar as crianças, mas também não precisamos deseducá-las. E este presente, de eu ter entrado na programação infantil da TV Cultura, foi o maior presente que eu pude ter.
Terra - Você é um fã declarado dos Muppets. Qual é a influência deles no seu trabalho?
Gomes -
A influência é total. Demorou muito para eu descobrir qual era a minha doença. Acabei descobrindo quando já estava aqui na TV Cultura, vivendo a doença. A história é longa, mas eu caí aqui porque existia o
Bambalalãoe nele um ator chamado Chiquinho Brandão. Eu ficava encantando com o tipo de manipulação dele e não sabia a razão. Eu já era adulto, com 25 anos, e pensava: o que eu mais quero ver são os bonecos! Depois, passei a fazer parte do
Bambalalão, tive a oportunidade de trabalhar com o Chiquinho e ser amigo dele. Com o passar dos anos, eu fui descobrindo que ele tinha um tipo de manipulação de bonecos muito semelhante ao dos
Muppets, do Jim Henson, que também fazia o
Vila Sésamo. E, na minha infância, eu era fã do
Vila Sésamo. Resumindo: eu tenho certeza absoluta de que hoje eu faço o que eu faço por causa dos
Muppetse do Chiquinho Brandão.