Black Sabbath acaba enquanto banda, mas segue enquanto lenda
Lendária banda de heavy metal encerra suas atividades de modo grandioso, assim como carreira solo de seu gigante vocalista
O Black Sabbath chegou ao fim. De novo. Desta vez, ao que tudo indica, é para valer, já que o tempo é implacável.
A banda já havia realizado uma turnê de despedida, The End, concluída em fevereiro de 2017. Todavia, a situação deixou um gosto amargo na boca, visto que o baterista Bill Ward não participou. Ozzy Osbourne (voz), Tony Iommi (guitarra) e Geezer Butler (baixo) contaram com Tommy Clufetos, inegavelmente competente, mas não é Ward.
Em entrevistas nos últimos anos, os quatro membros originais manifestaram interesse em realizar pelo menos um show final. À época, Osbourne e Butler não se comunicavam mais devido a uma confusão entre suas esposas. Por um tempo, Ward permaneceu afastado do trio por conta da exclusão de sua presença nas atividades derradeiras do grupo. O clima parecia não tão bom.
Felizmente, tudo se resolveu. O público pôde dar adeus aos pioneiros do heavy metal em um megafestival, Back to the Beginning, realizado neste sábado, 5, no estádio Villa Park, na cidade inglesa de Birmingham. Uma despedida muito mais justa do que aquela realizada em 2017, mesmo considerando os problemas de saúde — Parkinson e lesões ocasionadas por uma grave queda doméstica — que agora impediram Ozzy de oferecer um set completo como desejava.
Foi em Birmingham, diga-se, que Tony Iommi e Bill Ward deram início ao Black Sabbath, que começou como um projeto de blues rock, chamado de Polka Tulk Blues Band. A dupla convocou Geezer Butler e Ozzy Osbourne para a banda, que mudou de nome para Earth.
A ideia quase não foi para frente. Tony — logo ele, que foi o único membro constante do Black Sabbath em quase 50 anos — abandonou a formação para integrar o Jethro Tull. Ainda bem que a parceria com Ian Anderson durou apenas dois meses.
Em 1969, o Earth se tornou Black Sabbath e gravou seu primeiro disco, homônimo, disponibilizado numa sexta-feira 13 do ano seguinte. Dá para dizer que, antes deste álbum, o heavy metal existia. Grupos como Cream, Steppenwolf, Iron Butterfly e Blue Cheer praticavam uma sonoridade pesada e intensa, como o gênero em questão pede. Mas foi o Sabbath quem estabeleceu algumas das principais regras para a fundação de um dos estilos musicais mais venerados do mundo.
Em 55 anos, foram lançados 19 discos de estúdio, com mais de 70 milhões de cópias vendidas mundialmente — mesmo sem apoio de mídia mainstream e crítica especializada. O Sabbath, na maior parte do tempo, era um patinho feio. Internamente, não se ajudava: foi gerenciado por pessoas de caráter duvidoso, o que atrapalhou seu crescimento em termos comerciais. Mas sobreviveu. Soa tão relevante hoje quanto lá no início.
Mais importante do que números e cifras, contudo, é o legado. Musicalmente, além de pioneiro em um estilo musical, o Black Sabbath influenciou incontáveis bandas que vieram logo após. De Judas Priest a Metallica, de Iron Maiden a Slipknot, dos nomes surgidos na década de 1970 aos grupos que nasceram nos últimos anos, seja de qualquer subgênero do metal ou de segmentos mais pesados do rock. É indissociável.
Ozzy Osbourne, em carreira solo, conseguiu não apenas expandir esse legado, como, enfim, reconhecimento comercial. Vendeu ainda mais que o Sabbath: 100 milhões de cópias em âmbito mundial. Acabou arrastando sua ex-banda consigo, visto que o interesse pela obra anterior se renovou.
"Sozinho", o Madman fez história ao se reinventar diversas vezes e dar holofotes a alguns dos músicos mais talentosos do heavy metal. O maior deles não está mais entre nós desde 1982: Randy Rhoads, guitarrista tragicamente morto em um acidente de avião. Ele, Jake E. Lee, Zakk Wylde e tantos outros músicos que trabalharam com Osbourne também devem ser reverenciados.
Do lado do Sabbath, há de se relembrar, ainda, outras figuras que fizeram parte dessa história. Geoff Nicholls, Ronnie James Dio, Tony Martin, Vinny Appice, Ian Gillan, Cozy Powell e tantos outros também devem ser reverenciados.
Tal reverência se presta não apenas manifestando apreço por e agradecimento a Black Sabbath e Ozzy Osbourne solo. Presta-se, em especial, ouvindo a obra que ambos deixaram. E, claro, acompanhando os próximos projetos de todos. Ninguém dos quatro membros originais do Sabbath morreu. Osbourne e Iommi já destacaram que querem continuar gravando. Ward diz até ter dois álbuns prontos.
A vida continua — e, felizmente, continua com obras incríveis deixadas por Sabbath e Osbourne solo.
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