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Alice Ferraz: O vazio de janeiro nos convida a usar o tempo para viver a vida que queremos

Com menos afazeres, sobram mais horas e se abre o espaço para o novo, certo? Errado. Por medo desse vazio, que parecia tão bem-vindo, voltamos a nos encher de novas tarefas

13 jan 2024 - 15h48
(atualizado às 16h01)
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Janeiro em São Paulo. Mês de calor, dias abafados, chuvas, dias longos. Longos se comparados aos dias de dezembro, que parecem menores porque voam por espaços preenchidos por uma agenda espremida, minuto a minuto. Em dezembro, somos um bloco espesso, sólido, focado em realizar tarefas preestabelecidas. Os dias são curtos pela densidade que acompanha tantas obrigações esmagadas. Não existe liberdade em dezembro, porque liberdade precisa de espaço, um espaço que nos é negado no mês do cumprir.

Já em janeiro, menos afazeres, sobram mais horas e então se abre o espaço para o novo, certo? Errado. Por medo desse vazio que parecia tão bem-vindo, voltamos a preencher o minuto a minuto de trabalho com novas tarefas, calculamos o quanto mais de qualquer coisa podemos colocar no calendário do ano que começa.

Nosso olhar ansioso, sem saber lidar com a tal liberdade, procura preencher as lacunas com qualquer coisa que evite a menor possibilidade de um encontro com o lugar desabitado. Mas desabitado de quem, se estamos sempre nele? Desabitado do barulho de dezembro, dos compromissos inadiáveis, das festas das empresas, dos happy hours e do surto coletivo em que entramos ao confundir um final de ano do calendário com um fim real, como a última oportunidade de fazermos, resolvermos algo.

Aí vem janeiro, delicado e sutil, abrindo as portas com gentileza e convidando a gente a usar o tempo para simplesmente viver a tal vida que dizemos que queremos. Em dezembro, eu estava tão abarrotada física e emocionalmente que cumpri a estratégia, adotada já há algum tempo, de olhar só o próximo passo, realizar o combinado, concluir e seguir. Tirei, então, dez dias de férias, dormi a maior parte do tempo, voltei a sentir minha respiração mais longa, olhei com atenção para meu marido e reconheci o homem que escolhi como parceiro. E, então, passados os dez dias, entrei em janeiro com energia quase estabelecida e espaço aberto.

Comecei aí a "preencher" janeiro. Até que, na sexta-feira, 12, pela manhã, olhei minha agenda e vi que tinha conseguido, tudo preenchido! E o que era para causar conforto causou tristeza, uma tristeza pela minha própria falta de consciência, por ter sido inundada pela névoa espessa que me envolveu dizendo que preciso ser ativa, útil e altamente produtiva o tempo todo para me sentir viva.

Meus sete planetas em virgem, mestres da organização, me acalmaram dizendo que tenho ainda 17 dias em janeiro e 11 meses em 2024 para conseguir aceitar espaços vazios sem querer preenchê-los de um nada altamente produtivo e ruidoso.

Estadão
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