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Conheça o Homem-Grilo, o super-herói que salva Osasco City

Criado pelo roteirista Cadu Simões, os quadrinhos são ilustrados de forma independente e a produção é mantida por financiamento coletivo

29 jun 2022 - 14h23
(atualizado às 19h01)
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A fachada do Bar Simões, repleta de desenhos de super-heróis, costuma despertar a curiosidade de quem passa pela avenida dos Autonomistas, na altura do nº 6.098, uma das principais vias de Osasco, na Grande São Paulo. É ali que fica o lar do Homem-Grilo, ou melhor, de Cadu Simões, 40, historiador e roteirista criador do super-herói osasquense.

O autor publicou a primeira tira em quadrinhos do personagem em 8 de junho de 2000 em um site que ele mesmo montou aos 17 anos. Para isso, convidou o vizinho Ricardo Marcelino para desenvolver e desenhar o visual do herói. “Até hoje é difícil publicar quadrinhos impressos, mas naquela época era mais ainda”, conta Simões, que já acompanhava sites que publicavam esse tipo de conteúdo.

“Logo depois surgiu a vontade de fazer os quadrinhos impressos, então começamos a publicar fanzines [publicações independentes feitas por fãs], xerocadas em pequenas tiragens de 100 exemplares, e depois aumentamos a quantidade”, lembra o roteirista.

Mesmo com o aumento das impressões, a produção permaneceu independente e o criador fazia a venda em eventos de quadrinhos, de literatura e em feiras de artes e artesanato em Osasco. A impressão durou até 2018, quando ele decidiu migrar as histórias totalmente para o digital.

O manequim de quase 2 metros de altura que fica na porta do bar foi personalizado a pedido de Mario Simões (à dir.), pai de Cadu
O manequim de quase 2 metros de altura que fica na porta do bar foi personalizado a pedido de Mario Simões (à dir.), pai de Cadu
Foto: Ariane Costa Gomes/Agência Mural

O Homem-Grilo é o alter ego do jovem Carlos Parducci, um estudante de ciências sociais que ganha os superpoderes após ser mordido por um grilo radioativo, o que lhe confere aumento na força física e agilidade, além do “sentido de grilo”, habilidade que ainda está aprendendo a desenvolver. A única fraqueza é o medo de baratas, algo que ele minimiza e diz ser apenas nojo.

Inspiradas no Chapolin Colorado, as histórias são repletas de humor e clichês típicos do gênero. Além disso, lugares conhecidos pelos moradores de Osasco, como o calçadão da rua Antônio Agú e a “Ponte Metálica”, servem de cenário para algumas das aventuras do super-herói que luta para proteger Osasco City, uma versão fictícia da cidade, inspirada nas grandes metrópoles dos quadrinhos.

No universo do herói osasquense, também há outros personagens que combatem o crime em cidades vizinhas. O Teia Negra e o parceiro Robito são os defensores de Caraca City, uma versão de Carapicuíba, também na Grande São Paulo. Já o egocêntrico Musculoso é o defensor de Alpha City, uma versão do bairro de Alphaville, em Barueri.

Os quadrinhos também são utilizados como plataforma de discussão de questões atuais. Em uma das histórias, por exemplo, o Homem-Grilo precisa combater o Pombo Enxadrista, vilão que controla a mente das pessoas para que elas espalhem mentiras e desinformações.

“No começo, o Homem-Grilo era bem pastelão, uma sátira, mas com o tempo eu fui ganhando essa noção e crítica social. A faculdade amplia muito nosso horizonte, então adquiri essa roupagem mais política”, avalia Simões, que se graduou em história.

Com 22 anos desde a primeira publicação, o super-herói está numa nova fase. Atento aos novos leitores e às novas formas de consumo, o autor mudou o formato das histórias, que agora são publicadas no estilo pergaminho – formato mais estreito e verticalizado que facilita a leitura em rolagem na tela dos celulares.

Ele também começou a revisitar as histórias antigas do personagem e recontá-las a partir do olhar atual. “Eu era muito novo quando criei. Todos os meus personagens eram homens brancos e héteros, o padrão na época. Aproveitando que estou refazendo o universo [do Homem-Grilo], comecei a me preocupar mais com a diversidade”, afirma.

O Camaleão Cinzento passou a ser um herói negro e o visual da Garota Cri-Cri foi repensado para fugir de estereótipos de mulheres sexualizadas nos quadrinhos. O Cricket Rider, versão japonesa do Homem-Grilo e paródia dos super-heróis japoneses, é um herói gay e o autor está criando uma personagem indígena.

Cadu Simões segurando os prêmios de Roteirista Revelação (2007) e de Melhor Publicação Independente de Grupo (2013)
Cadu Simões segurando os prêmios de Roteirista Revelação (2007) e de Melhor Publicação Independente de Grupo (2013)
Foto: Ariane Costa Gomes/Agência Mural

Arte independente

Os quadrinhos do Homem-Grilo estão disponíveis gratuitamente no site e no perfil de Simões no Instagram. A produção é mantida por meio de uma campanha de financiamento de apoiadores. “No Brasil, trabalhar com quadrinhos é fazer por gostar. Arte em geral, ainda mais nos últimos anos, é muito esforço pessoal, muito amor ao trabalho porque a remuneração está ficando cada vez pior”, reflete o autor.

A produção independente de quadrinhos envolve uma série de custos que vão desde a remuneração dos profissionais (roteirista, desenhista, arte-finalista, colorista, letrista e diagramador) até o gasto com a plataforma utilizada – no caso do impresso, a gráfica; e no digital com o servidor, o domínio.

O desenhista Ricardo Marcelino faleceu em março de 2015. Will, artista gráfico e quadrinista, passou a desenhar o personagem, mantendo a parceria até 2018. A produção das aventuras ficou pausada entre 2019 e 2020, sendo retomada em março de 2021 com Fred Hildebrand, ilustrador e atual desenhista do Homem-Grilo.

Morador de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Hildebrand usa as referências de imagem enviadas pelo roteirista para criar os cenários de Osasco City.

Fachada do Bar Simões, em Osasco, tem ilustrações do Homem-Grilo e de outros super-heróis
Fachada do Bar Simões, em Osasco, tem ilustrações do Homem-Grilo e de outros super-heróis
Foto: Ariane Costa Gomes/Agência Mural

Distribuição e repercussão

As histórias do Homem-Grilo estão sob uma licença livre Creative Commons, que permite que qualquer pessoa possa copiar, compartilhar, redistribuir, criar algo novo a partir da obra em qualquer formato e suporte, desde que seja dado o crédito aos autores e indicado a fonte das obras.

Algumas das histórias do herói foram parar em livros didáticos da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo e até publicadas em um livro em Portugal. Nas redes sociais, o autor costuma compartilhar o personagem desenhado por outros artistas e recorda que já recebeu um pedido de autorização para transformar a história do herói em filme, mas o projeto não avançou.

Soube de uma peça teatral no Espírito Santo inspirada no herói e também já encontrou um Homem-Grilo grafitado próximo à estação da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo.

“É legal ver artistas de áreas diversas dando suas próprias visões aos personagens. Tem autores que são meio ciumentos com seus personagens, mas nunca tive isso. Gosto de ver outras pessoas criando a partir do que fiz”, conclui Simões.

O personagem é inspirado no Chapolin Colorado e foi ilustrado pela primeira vez no ano 2000
O personagem é inspirado no Chapolin Colorado e foi ilustrado pela primeira vez no ano 2000
Foto: Fred Hildebrand/Reprodução
Agência Mural
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