Acidentes com carros automáticos acendem alerta em todo o País
Aumento nos casos de acidentes com carros automáticos alimenta a discussão: o brasileiro sabe usar esse tipo de veículo?
Quem já teve a oportunidade de conduzir um automóvel com câmbio automático conhece as vantagens que o equipamento proporciona. É mais confortável, prático e – em princípio – mais seguro dirigir sem se preocupar em acionar um terceiro pedal na hora de sair com o carro, para trocar as marchas e até na hora de parar.
Contudo, não é preciso ser especialista no assunto para saber que, no Brasil, são muito poucos os motoristas que tiveram algum tipo de instrução ou passaram por alguma preparação antes de tomarem o volante de um carro automático. Afinal, como o modelo possui um pedal a menos, a maioria acredita que é mais fácil dirigir com esse tipo de câmbio. Mas a prática não é bem assim.
O aumento no número de acidentes envolvendo automóveis com câmbio automático em todo o País acendeu o alerta: os motoristas brasileiros estão preparados para dirigir carros com esse tipo de câmbio? Para muitos especialistas, a resposta é não.
Relembrando, na semana passada, a motorista de um carro importado perdeu o controle do veículo, invadiu um colégio e atropelou uma professora e uma criança de 3 anos, que infelizmente, faleceu por conta dos ferimentos. A condutora – que também se feriu no acidente – relatou que se confundiu com os pedais.
A mesma justificativa – confusão com os pedais – foi dada por outra motorista, que acabou invadindo uma padaria na zona sul da capital paulista em abril deste ano. Nesse caso, a imperícia resultou em três pessoas feridas e, felizmente, não houve mortos.
Já o caso que teve maior repercussão – o atropelamento do ator mirim Gustavo Corasini, de 12 anos, e de seu amigo Eduardo Delfino, de 13 anos, que não resistiu aos ferimentos e faleceu – ocorreu porque a motorista não estava habituada com o carro automático e foi tentar manobrar o veículo para ajudar no resgate de uma vítima de outro acidente.
Preparação específica
O principal problema, de acordo com diversos especialistas, está no atual sistema de formação dos condutores, que só considera automóveis com câmbio manual. Seria necessário preparar os futuros motoristas para lidar com os dois tipos de câmbio, o que não ocorre por conta do maior custo dos modelos automáticos.
Existem até tentativas de melhorar o cenário, como o projeto de lei apresentado em 2021 pelo senador Eduardo Gomes (PL-TO), segundo o qual as pessoas que desejarem conduzir somente carros automáticos poderão ter uma CNH específica e realizar o exame de direção veicular com esse tipo de automóvel. O projeto, porém, está parado no Senado.
A adaptação para dirigir um carro com câmbio automático não se limita a lembrar que só existem dois pedais. É preciso ficar atento ao comportamento do veículo, que se move assim que se tira o pé do freio, além do acionamento do câmbio. É comum as pessoas se distraírem e engatarem a marcha a ré em vez de acionarem a posição Drive, por exemplo.
Da mesma forma, são poucos os motoristas que sabem utilizar o câmbio corretamente em trechos de declive – como descidas de serra, por exemplo. Assim, em vez de reduzirem uma marcha e usarem o freio-motor, eles seguram o carro apenas com os freios, o que provoca desgaste prematuro do sistema e pode resultar em acidentes.
