A IA é um importante elo entre lucro, sustentabilidade e reputação corporativa
A inteligência artificial tem se destacado como ferramenta estratégica para integrar lucro, sustentabilidade e reputação corporativa, impulsionando práticas ESG, desde a gestão ambiental até a governança, com benefícios em eficiência, transparência e decisão ética.
A tecnologia tem o papel de transformação global desde sempre. A cada nova invenção surge, também, uma oportunidade de mudança. A bola da vez é a inteligência artificial (IA), que emerge como aliada estratégica para ampliar a eficácia dos negócios e também das práticas ESG (sigla do inglês Environmental, Social and Governance, ou Ambiental, Social e Governança, em português) nas empresas. Ao integrar algoritmos avançados à gestão socioambiental e à governança, organizações ganham precisão, velocidade e capacidade preditiva na tomada de decisão.
E esse impacto vem sendo exigido por cada vez mais stackholders, desde o cliente até o governo. Segundo a PwC, 76% dos investidores já consideram critérios ESG nas decisões de alocação de capital. Esse cenário pressiona as empresas a adotarem ferramentas que comprovem seu compromisso com a sustentabilidade. E, a cada novo dia, é possível dizer que IA responde com ainda mais oportunidades para suportar as iniciativas ESG das organizações.
Partimos do pilar ambiental. Nele, algoritmos processam dados de sensores, satélites e sistemas IoT para monitorar desmatamento, consumo energético e uso de recursos naturais. Estudos da Nature Communications mostram que a IA pode aumentar em 20% a precisão de inventários florestais. Isso é feito a partir de modelos de IA que analisam imagens de satélite, dados e sensores ambientais para estimar biomassa, identificar espécies e mapear alterações na cobertura vegetal com maior precisão e agilidade. Já nas fábricas, as soluções baseadas em machine learning (ML) ajudam a reduzir perdas de insumos em até 20%, segundo a McKinsey.
A dimensão social também se beneficia. Ferramentas de IA rastreiam padrões de risco em cadeias de suprimentos, avaliam condições de trabalho e apontam desigualdades em processos seletivos. Esses insights apoiam decisões éticas, mensuráveis e auditáveis, permitindo às empresas agirem de forma proativa na promoção de direitos humanos e condições laborais justas. Um estudo da World Economic Forum, em parceria com a Accenture, destacou que o uso de inteligência artificial pode aumentar significativamente a transparência e a rastreabilidade social nas cadeias produtivas, ajudando a identificar violações trabalhistas e fomentar práticas mais inclusivas.
Na governança, a IA fortalece a integridade dos processos. Sistemas inteligentes detectam fraudes, monitoram conformidade regulatória e analisam documentos para reduzir riscos jurídicos. Porém, as empresas devem nortear seus próprios algoritmos com critérios éticos, já que 43% das companhias com IA relatam dificuldades em explicar decisões automatizadas, segundo o AI Index 2024 da Universidade de Stanford.
Além disso, gestores que combinam IA e dados ESG são capazes de obter um maior retorno ajustado ao risco em seus portfólios, o que impacta na vantagem competitiva de investir nessa sinergia. O desafio não está apenas na aplicação, mas na coerência e no alinhamento das iniciativas ESG com a estratégia de negócios. As organizações que alinham IA e ESG com responsabilidade e inovação já são capazes, até mesmo, de aumentar seus lucros.
Por outro lado, grandes modelos de IA consomem um volume considerável de energia. Se operados com fontes não renováveis, podem ampliar a pegada ambiental das empresas. Para mitigar esse impacto, iniciativas como o AI Carbon Trust propõem métricas padrão para contabilizar emissões de carbono por modelo de IA, incentivando o uso de data centers verdes alimentados por energias renováveis.
A convergência entre IA e ESG representa uma oportunidade única. Fortalece a transparência, reduz ineficiências e, se integradas à estratégia de negócios, potencializa os resultados econômicos, sociais e ambientais da organização.
É como construir uma ponte entre tecnologia e valores humanos, algo que resume o verdadeiro sentido da sustentabilidade. É necessário que cada empresa coloque a ética e a transparência no centro de suas operações. Isso também vai garantir que o “bom uso” da IA respeite os interesses de todas as partes.
(*) Leandro Rosa dos Santos é vice-presidente de Estratégia e Inovação da Positivo Tecnologia.