O que faz a Oracle, empresa que tornou Larry Ellison no homem mais rico do mundo
Companhia já foi considerada 'atrasada' no boom da inteligência artificial
Fundada em 1977, na Califórnia, por Larry Ellison, Bob Miner e Ed Oates, a Oracle - originalmente batizada de Relational Software - pode não ser tão popular entre os usuários quanto seus concorrentes, como a Meta, Amazon ou Microsoft. No entanto, a empresa se tornou um pilar no desenvolvimento e gerenciamento de dados de inteligência artificial (IA), e tem clientes que variam de empresas como a Tesla até governos como o dos EUA.
Nesta quarta-feira, 10, Ellison, de 81 anos, foi considerado, segundo o ranking da Bloomberg, o homem mais rico do mundo, tirando o espaço anteriormente ocupado por Elon Musk — o CEO da Tesla já retomou o posto, mas a mudança no topo do ranking chamou a atenção. A fortuna de Ellison aumentou US$ 101 bilhões nesta quarta, chegando a US$ 393 bilhões. O avanço foi impulsionado pela disparada das ações da Oracle, após a divulgação de resultados trimestrais acima do esperado, que preveem receitas futuras de US$ 317 bilhões.
Entretanto, a empresa já foi tida como "atrasada" em relação ao boom da IA. Mesmo tendo perdido espaço para rivais durante o auge da computação em nuvem, a Oracle deu a volta por cima nos últimos anos. Com investimentos maciços em infraestrutura de dados e inteligência artificial, tornou-se uma das empresas-chave para o treinamento de modelos de IA, inclusive para governos. A recuperação veio com uma mudança de estratégia: a empresa passou a oferecer plataformas completas, obrigando os clientes a adaptar seus processos ao software, e não o contrário.
Hoje, a Oracle está entre as maiores empresas de tecnologia do mundo. Ela se tornou referência com o Oracle Database, sistema de banco de dados usado por companhias para armazenar e organizar grandes volumes de informações.
Além dessa frente, a companhia expandiu seus negócios para sistemas de gestão empresarial (ERP, HCM, CRM), serviços de nuvem (IaaS, PaaS, SaaS) e também hardware corporativo, como servidores. Essa diversificação tornou a Oracle um dos pilares da infraestrutura tecnológica de grandes corporações, especialmente em um momento de alta demanda por soluções em nuvem e IA.
Além disso, outro diferencial da empresa é que ela não produz seu próprio chatbot de IA, como a OpenAI e a Anthropic, por exemplo, o que faz com que seja vista mais como uma parceira de investimento e produção do que como uma concorrente direta dos rivais.
Em janeiro de 2025, Ellison apareceu ao lado do presidente dos EUA Donald Trump e de Sam Altman, da OpenAI, no anúncio do Stargate Project, um plano de até US$ 500 bilhões para garantir a liderança dos EUA em IA. A Oracle é um dos pilares técnicos da iniciativa, responsável por hospedar e operar parte da infraestrutura. Nesta quinta-feira, 11, a OpenAI assinou um contrato de US$ 300 bilhões com a Oracle para criação de um data center para o projeto.
Lary Ellison
Nascido em Nova York e criado por tios adotivos em Chicago, Ellison teve uma infância marcada por incertezas. Sua mãe biológica o entregou ainda bebê, e ele cresceu em um lar modesto, com pouco apoio do pai adotivo. Durante a juventude, abandonou duas universidades, mas encontrou seu caminho na efervescente cena tecnológica da Califórnia dos anos 1970.
Em 1977, ao lado de dois colegas, fundou a Software Development Laboratories com apenas US$ 2 mil. O nome Oracle viria pouco depois, inspirado em um projeto de banco de dados para a CIA. A ideia era ousada: transformar um conceito acadêmico sobre bancos de dados em um produto comercial para empresas.
Ellison comandou a empresa como CEO por 37 anos, até 2014, e hoje atua como presidente do conselho e diretor de tecnologia. Com uma visão voltada para grandes contratos e integração total, liderou uma série de aquisições bilionárias, incluindo Sun Microsystems, NetSuite e Cerner, esta última por US$ 28,3 bilhões em 2021.
Fora do mundo corporativo, Ellison também é conhecido por seu estilo de vida extravagante. Em 2012, comprou quase toda a ilha de Lana'i, no Havaí, onde hoje vive. É dono de iates luxuosos, aviões particulares e já investiu em esportes como tênis e vela, chegando a vencer a America's Cup com o Oracle Team USA em 2013.
Ao todo, já doou centenas de milhões de dólares para causas como pesquisa médica, infraestrutura educacional e projetos militares em Israel.
Entre 2018 e 2022, foi membro do conselho da Tesla, empresa na qual investiu pesadamente. Ele também se envolve diretamente com política: já doou milhões a campanhas republicanas e permitiu que Trump realizasse eventos em suas propriedades. Apesar de manter distância pública, é visto como um dos bilionários mais influentes nos bastidores do poder.
*Mariana Cury é estagiária sob supervisão do editor Bruno Romani