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Mais jovens vão substituir o Google pelo TikTok? Especialistas respondem

Adolescentes recorrem a redes como TikTok e ao ChatGPT para buscas sobre temas diversos

10 jan 2024 - 09h07
(atualizado às 12h52)
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TikTok se populariza entre os mais jovens como ferramenta de busca na web
TikTok se populariza entre os mais jovens como ferramenta de busca na web
Foto: Solen Feyissa/Unsplash

Há uma percepção crescente de que a hegemonia do Google como ferramenta de busca pode estar ameaçada. Redes de vídeos curtos como o TikTok e até mesmo o ChatGPT da OpenAI, por outro lado, são cada vez mais usadas pelos jovens para conseguir informação de maneira imediatista.

A colocação pode parecer inusitada, sobretudo para aqueles que acompanharam a ascensão do mundo digital, onde o Google e a internet pareciam quase sinônimos.

Mas, para alguns usuários, os resultados de pesquisa do buscador estão cada vez mais saturados por anúncios, conteúdo orientado por SEO — estratégias para ranquear páginas mais alto — e informações de relevância questionável.

Isso quer dizer que uma única rede social, como o TikTok, teria o poder de "desbancar" o gigante de buscas e se tornar a mais nova ferramenta centralizadora da internet? Veja por que a resposta é não, segundo especialistas consultados pelo Byte.

Google ameaçado?

O Google, até começo de 2023, continuava a abocanhar, com folga, uma fatia de mais de 80% do espaço no mercado na disputa com outros buscadores — como o Bing, da Microsoft  mantendo uma base de mais de 80 bilhões de visitas mensais a sua página, segundo dados da Statista.

No entanto, alguns problemas na plataforma têm motivado a procura por alternativas entre os mais jovens, além da comodidade oferecida pelas interfaces e algoritmos de outras redes.

Uma reportagem recente do Byte, por exemplo, mostrou que sites de governo hackeados apareciam nas primeiras páginas do buscador contendo alusões a abuso de menores.

Também mostramos casos em que resultados de pesquisa incluíam links com desinformação e conteúdo explícito.

Ao final de 2023, viralizou o vídeo de uma mãe se espantando com o fato de que a sua filha, uma adolescente, não usava o Google em quase nenhuma hipótese. 

Na publicação, a garota explica que faz a imensa maioria de suas buscas no app que viralizou por conta das dancinhas e, quando precisa de informações mais aprofundadas, recorre ao ChatGPT.

O diálogo da família é exemplo do dado trazido por Prabhakar Raghavan, vice-presidente sênior do próprio Google, em uma conferência de 2022. Na ocasião, Raghavan afirmou que "quase 40% dos jovens quando procuram um lugar para almoçar, não vão ao Google Maps ou à Pesquisa, eles vão para o TikTok ou Instagram."

Para João Vitor Rodrigues, professor de marketing digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), "parece que estamos vendo uma nova plataforma para buscas, mas não determinando o desaparecimento do Google em definitivo".

Por que, então, os mais jovens querem outro buscador?

A rede social chinesa afirma que conta com mais de 1 bilhão de usuários em todo o mundo. Um levantamento da Statista mostra que, entre os maiores de idade, a faixa mais populosa é a de perfis com até 24 anos.  

A preferência pelo TikTok é alimentada por um conjunto de fatores, na visão de Maycon Torres, professor de psicologia clínica e saúde mental na Universidade Federal Fluminense (UFF).

O primeiro deles está na presença de rostos e vozes nos vídeos, que trazem sensação de familiaridade. As pessoas, segundo o especialista, têm maior interesse na informação quando quando há vínculo com quem a transmite.

"É um pouco do que explica também a nossa curiosidade pela fofoca. Quando a gente vê alguém contando fofoca, a informação está pessoalizada. Existe uma conexão, seja de confiança ou de captura de interesse, de quem está quem está assistindo", comenta.

De acordo com o psicólogo, também há a falsa sensação de que a informação disposta nos vídeos passou por algum grau de processamento que garanta legitimidade. 

"Por haver uma suposta análise do produtor do vídeo, aumenta o índice de confiança de quem está assistindo. Por mais que o dado possa ser falso", continua Torres.

Geração imediatista

Um estudo publicado na revista científica Computers in Human Behavior em 2022, por exemplo, descobriu que os jovens da geração Z (nascidos em meados de 1990 a 2010) são mais propensos do que as gerações anteriores a usar dispositivos digitais que permitem acesso rápido e fácil à informação e ao entretenimento.

Com avanço das redes sociais e da comunicação digital, a necessidade de informação imediata se soma a um algoritmo capaz de unir pessoas que pensam igual, criar bolhas identitárias e isolar opiniões diferentes.

O problema, segundo o Torres, é a intensificação de um fenômeno já conhecido da internet: a perda da capacidade de desenvolver pensamento crítico.

"As pessoas têm dificuldade de ler uma simples mensagem de texto inteira. Elas leem só o início e já pressupoem a resposta. Isso gera uma série de conflitos de comunicação e a geração TikTok é uma que apresenta esse essa dificuldade potencializada", conclui.

E as plataformas, como atuam?

Embora o Google mantenha sua eficiência para resultados de buscas em geral, há preocupações quanto à invisibilização de certos conteúdos e à personalização excessiva dos resultados. As principais reclamações apontam para um aumento de conteúdos promocionais disfarçados de informações úteis.

Para Rafaela Lotto, sócia e head de planejamento na consultoria Youpix, o TikTok e plataformas similares oferecem respostas em um formato de vídeo de curta duração, alinhado com a preferência da geração "sem tempo irmão".

“A busca no Google, que envolve também os resultados do YouTube, exige uma certa curadoria das respostas em texto e uma eliminação do resultado patrocinado. Enquanto as propagandas e as introduções dos vídeos do YouTube mal começaram, a busca no TikTok já trouxe a resposta", diz.

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Essas duas plataformas (Youtube e Google) não têm o consumo concentrado em um feeds, como é o caso do Instagram e do TikTok.

"Isso implica em uma dinâmica diferente para marcas e para criadores fazerem seus conteúdos serem 'descobertos' pela audiência. No entanto, depois da introdução do YouTube Shorts, essa dinâmica vem mudando", comenta Lotto.

Após a introdução do YouTube Shorts, o YouTube reportou mais de 2 bilhões de usuários mensais consumindo esse formato.

Ferramentas de buscas devem ficar mais diversas

Lotto acredita que estamos caminhando não para uma hegemonia do TikTok, mas para um cenário digital mais fragmentado, onde a busca por informações de qualidade e a facilidade de acesso se tornam centrais.

Essa transformação sugere uma era de maior diversidade nas ferramentas de busca online, desafiando a ideia de um único buscador principal relembrando que, no mundo digital, nada está imune a mudanças.

"O que chegou ao fim foi a supremacia de uma única rede social. Nossa experiência digital está se tornando progressivamente mais fragmentada em plataformas que oferecem algo específico, mesmo que, no final das contas, elas estejam se assemelhando cada vez mais, na intenção de nos atrair", diz.

O que diz o TikTok

Ao Byte, Daniela Okuma, diretora geral de negócios do TikTok no Brasil, disse que o campo de busca do TikTok "é uma ferramenta relevante para as pessoas encontrarem conteúdos que lhes interessem e para, principalmente, encontrarem vídeos autênticos que serão úteis".

A plataforma também diz combinar esforços para ser um "enorme boca-a-boca digital" capaz de influenciar decisões de compra.

O TikTok afirma que oferece, desde novembro de 2023, a possibilidade de veicular seus anúncios nos resultados de busca da plataforma às marcas e empresas. Os anúncios são sinalizados como "Patrocinado" e aparecem dentro da página de resultados de pesquisa.

Quanto à moderação de conteúdo, a empresa pontua que conta com tecnologia e equipes de profissionais treinados para detectar vídeos que possam violar as Diretrizes da Comunidade.

"De julho a setembro de 2023, tivemos uma taxa de remoção de 96,6% de vídeos na categoria 'integridade e autenticidade'; e a grande maioria deles foi removido antes de ter qualquer visualização", diz o TikTok.

O Google foi procurado pelo Byte para se manifestar nesta reportagem e disse, por e-mail, que não irá comentar sobre o assunto. 

*Reportagem retificada às 12h45 de quarta-feira (10) com atualização no número de usuários do TikTok.

Fonte: Redação Byte
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