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Netflix anuncia vencedores do concurso de US$ 1 milhão

22 set 2009 - 16h03
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Nem mesmo os concorrentes que saíram derrotados por pouco no concurso de US$ 1 milhão promovido pela Netflix parecem ter muito a lamentar.

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A Netflix, companhia de locação de filmes online, anunciou na segunda-feira que uma equipe de sete concorrentes havia vencido o concurso que ela lançou três anos atrás para melhorar seu sistema de recomendação de filmes online. A surpresa foi a intensidade da disputa no concurso, que atraiu muita atenção.

Os ganhadores do prêmio foram uma equipe de estatísticos, especialistas em aprendizado por máquina e engenheiros da computação dos Estados Unidos, Áustria, Canadá e Israel, operando sob o nome BellKor's Pragmatic Chaos. O grupo representa uma fusão de equipes organizada no final do concurso.

No final de junho, seus resultados enfim atingiram a meta de superar em 10% a eficiência do Cinematch, software de recomendação de filmes desenvolvido pela Netflix, em termos de prever com precisão a avaliação dos consumidores. Isso deflagrou um prazo final de 30 dias para que outras equipes superassem o desempenho da BellKor, e no final de julho a Netflix anunciou que duas equipes haviam atingido a meta: BellKor e Ensemble. Na avaliação final, a vitória ficou com a BellKor, que apresentou um modelo aperfeiçoado 20 minutos antes da rival.

A equipe derrotada, na verdade, apresentou desempenho exatamente igual ao da vencedora, mas apresentou sua resposta 20 minutos mais tarde, pouco antes que expirasse o prazo do concurso.

Sob as regras da disputa, em caso de empate a vitória ficaria com a solução apresentada primeiro. "Aqueles 20 minutos valeram US$ 1 milhão", disse Reed Hastings, presidente-executivo da Netflix, em entrevista coletiva em Nova York.

Mas os cientistas e engenheiros da equipe derrotada, e os empregadores que permitiram que muitos deles trabalhassem e pesquisassem para a disputa, não mostravam sinais de desespero.

Arnab Gupta, presidente-executivo da Opera Solutions, uma empresa de análise de dados de Nova York, permitiu que alguns de seus principais pesquisadores abandonassem seus demais projetos por dois anos. "Já tínhamos obtido o equivalente a US$ 10 milhões em recompensas internas, por tudo aquilo que aprendemos", disse Gupta.

Trabalhar no concurso ajudou os pesquisadores a desenvolver técnicas melhoradas de análise estatística e modelos projetivos, que a empresa utilizou em benefício de seus clientes em áreas como marketing, varejo e finanças, disse. "Assim, para nós, o prêmio de US$ 1 milhão era secundário, quase trivial".

De fato, desde que foi iniciado, em outubro de 2006, o concurso da Netflix se tornou menos significativo por causa do valor do prêmio do que como banco de testes para novas ideias sobre como fomentar a inovação de forma eficiente na era da Internet - especialmente ao oferecer prêmios como incentivo e encorajar a colaboração online de forma a utilizar recursos intelectuais em todo o mundo.

As lições do concurso podem abarcar dimensões muito maiores que a seleção de filmes online. Pesquisadores de todo o mundo tiveram de lidar com conjuntos de dados imensos - 100 milhões de avaliações de filmes - e com os desafios de modelagem em larga escala, e as técnicas que desenvolveram podem ser aplicadas em diversos campos científicos, comerciais e políticos.

O modelo de premiação está sendo tentado de forma cada vez mais frequente para tarefas como projetos científicos ou concursos de design e publicidade. A X Prize Foundation, por exemplo, está oferecendo planos multimilionários para avanços revolucionários nos campos da genômica, carros de energia alternativa e exploração espacial privada.

A InnoCentive serve como mercado para projetos de negócios, no qual empresas propõem desafios - muitos dos quais em áreas como desenvolvimento de produtos ou ciência aplicada - e trabalhadores ou equipes concorrem em busca de pagamentos em dinheiro ou prêmios oferecidos por elas. Uma companhia iniciante, a Genius Rocket, opera um mercado semelhante online para projetos de marketing, publicidade e design.

"A grande vantagem do modelo de prêmios é que tira o trabalho do reino dos concursos de beleza e o transfere ao do desempenho", diz Michael Schrage, pesquisador do Centro de Negócios Digitais, parte da Escola Sloan de Administração de Empresas, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). "É o resultado produzido que importa".

A economia dos prêmios, que segundo alguns analistas de mercado de trabalho está começando a emergir, acarreta o risco de transferir ainda mais poder aos compradores -as empresas-, em detrimento dos trabalhadores.

Milhares de equipes, de mais de 100 países, participaram do concurso da Netflix, e isso beneficiou a empresa. "Se estudarmos o total cumulativo de horas dedicadas ao projeto, estávamos recebendo a atenção de doutores ao preço de US$ 1 por hora", declarou Hastings em entrevista.

Hastings disse que a Netflix não conduziu uma análise formal de custo/benefício sobre o seu investimento no concurso, mas diversas técnicas importantes que ele apresentou foram incorporadas ao software de recomendação de filmes desenvolvido pela empresa, o Cinematch, e o índice de retenção de clientes melhorou ligeiramente. Recomendações melhores, afirma a Netflix, tendem a propiciar maior satisfação aos consumidores.

"Acreditamos fortemente que o concurso tenha sido uma grande vitória para a Netflix", disse Hastings.

Tradução: Paulo Migliacci ME

The New York Times
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