Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Internet

Mapas históricos no Google Earth geram polêmica no Japão

4 mai 2009 - 11h50
(atualizado às 12h01)
Compartilhar

Quando o Google Earth decidiu acrescentar mapas históricos do Japão à sua coleção online, no ano passado, não esperava uma reação adversa. Os mapas, baseados em gravuras detalhadas, existem há séculos e já haviam sido postados por outro site. Além disso, um mapa histórico de Tóquio que o Google Earth colocou online em 2006 não havia gerado objeções.

Imagem do Google Earth mostra antiga vila burakumin em mapa feudal
Imagem do Google Earth mostra antiga vila burakumin em mapa feudal
Foto: AP

» Programa de satélite mostra base naval secreta britânica

» Google desmente notícia sobre descoberta de Atlântida

» Oficial confirma base dos EUA descoberta pelo Google Earth

» Ilha em forma de coração faz sucesso na internet

Mas o Google não considerou a maneira pela qual sua oferta seria recebida, um erro que a empresa cometeu outras vezes no Japão. Agora, está enfrentando um inquérito pelo Ministério da Justiça japonês e acusações iradas de preconceito, porque seus mapas detalham os locais em que, no passado, existiam comunidades reservadas a pessoas de baixa casta.

Os mapas remontam à era feudal japonesa, quando os xoguns dominavam o país e um sistema de castas severo estava em vigor. No sopé da pirâmide estava uma classe conhecida como "burakumin", etnicamente idêntica aos demais japoneses mas forçada a viver em isolamento porque os trabalhos que seus integrantes realizavam estavam associados à morte ¿ eram tanoeiros, trabalhavam com abate de animais ou como coveiros.

As castas foram há muito abolidas no país, e as velhas aldeias dos burakumin desapareceram ou foram absorvidas pelas grandes metrópoles japonesas. Hoje, os grupos de defesa dos direitos humanos afirmam que os descendentes dos burakumin respondem por cerca de três milhões entre os 172 milhões de japoneses.

Mas eles continuam a enfrentar preconceitos, com base quase inteiramente em seus locais de moradia ou na origem geográfica de seus ancestrais. Mudar de residência pouco ajuda, porque os empregadores ou os pais de potenciais cônjuges podem contratar agências que verifiquem se a pessoa tem ancestrais burakumin, vasculhando os extensos registros familiares do país, que se estendem a pelo menos 100 anos no passado.

Uma funcionária de uma empresa japonesa grande e conhecida, que trabalha no departamento de pessoal e conhece bem as práticas de contratação, diz que a empresa verifica os candidatos a emprego para descobrir se são burakumin. "Se suspeitamos que o candidato seja um burakumin, verificamos seus antecedentes", diz. Ela só aceitou discutir a prática sob a condição de que nem seu nome nem o de sua empresa fossem mencionados.

Preconceito

Listas de endereços "sujos" circulam em fóruns da internet. Algumas pesquisas demonstram que os imóveis nesses locais têm valor mais baixo que os de áreas vizinhas, e os moradores são vítima de pichações e de insultos raciais. Mas os modernos locais das velhas aldeias são em geral desconhecidos do público, e muitos dos burakumin gostariam que isso continuasse assim.

Os mapas do Google Earth identificavam diversos locais como moradia dos burakumin no passado. Uma aldeia na região de Tóquio está claramente identificada como "eta", um termo hoje visto como fortemente derrogatório para designar os burakumin, com o significado literal de "massa imunda". Um clique no mouse basta para mostrar as ruas e edifícios que ocupam a mesma área atualmente.

O Google postou os mapas como uma das muitas "camadas" disponíveis em seu software de mapas, que podem ser facilmente equiparadas a imagens modernas via satélite. A empresa não ofereceu explicações ou esclareceu o contexto histórico dos mapas, como costuma ser feito no Japão. A posição básica é a de que suas ações são aceitáveis porque não são ilegais, e isso irritou os líderes dos burakumin.

"Se houver um incidente por causa desses mapas e o Google se limitar a dizer que a culpa não é deles ou que a responsabilidade é do usuário, não teremos escolha a não ser concluir que o sistema do Google em si é uma forma de preconceito", disse Toru Matsuoka, membro da Câmara Alta do Parlamento japonês.

Questionado sobre sua posição quanto ao assunto, o Google respondeu com um comunicado formal: "Os direitos humanos são uma grande preocupação para nós e não temos intenção de violá-los".

Yoshito Funabasho, porta-voz da empresa, apontou que a companhia não é dona dos mapas em questão, e simplesmente os fornece aos usuários. Os críticos argumentam que, por estarem integrados ao seu software, essa distinção não é clara.

Imprimir mapas como esses é legal no Japão. Mas trata-se de uma área que as editoras e museus percorrem cuidadosamente, já que a liderança dos burakumin é altamente organizada e tem escritórios em todo o país.

Mostras públicas dos mapas ou sua publicação em livros são quase sempre acompanhadas por uma explicação histórica, algo que o Google não fez.

Matsuoka, cujo escritório em Osaka fica perto de uma das áreas mostradas nos mapas, é secretário geral da Liga de Liberação dos Burakumin, o maior desses grupos no Japão. Depois de descobrir sobre os mapas, no mês passado, ele levou a questão ao ministro da Justiça Eisuke Mori, em 17 de março.

Duas semanas depois disso, os mapas antigos foram alterados no Google, com a eliminação das menções às aldeias burakumin. Não houve notificação sobre a mudança, e alguns a vêem como forma de tentar evitar o assunto discretamente.

O Ministério da Justiça está "reunindo informações" sobre o assunto, mas ainda não chegou a qualquer conclusão, de acordo com Hideyuki Yamaguchi, representante do ministério.

Tradução: Paulo Migliacci ME

Fonte: AP AP - The Associated Press. Todos os direitos reservados. Este material não pode ser copiado, transmitido, reformado o redistribuido.
Compartilhar
TAGS
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra