Rivais acusam IBM de sufocar competição nos mainframes
A IBM domina o mercado de computadores mainframe desde que eles foram criados, quatro décadas atrás. E continua a obter cerca de um quarto de seus US$ 100 bilhões anuais em vendas do fornecimento de software, serviços e financiamento relacionados a essas máquinas. Assim, quando uma empresa iniciante, a Platform Solutions, de Sunnyvale, Califórnia, desenvolveu software capaz de transformar um servidor padrão em um sistema que imita um dispendioso mainframe da IBM, a rival contra-atacou.
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Depois que medidas judiciais fracassaram em reprimir os arrivistas, a IBM decidiu transformá-los em parte da família, e adquiriu a Platform em julho por US$ 150 milhões. E ao fazê-lo imediatamente tirou do mercado o produto inovador.
A despeito de ter eliminado a ameaça da Platform, a IBM continua a enfrentar a ira de muitos rivais no setor de computação. A Computer and Communications Industry Association, organização setorial integrada por empresas como Google, Oracle e Microsoft, descreveu a aquisição da Platform como "uma clara tentativa pela IBM de adquirir uma empresa para simplesmente restringir a concorrência no mercado de mainframes, protegendo sua principal fonte de receita à custa dos consumidores".
E a T3 Technologies, uma pequena empresa que revendia os produtos Platform e foi devastada pela ação da IBM, apresentou uma queixa antitruste contra a IBM junto às autoridades regulatórias da Comissão Europeia.
A Platform não foi o único concorrente a atrair ação da IBM. Ao mesmo tempo em que processava a Platform, a IBM se recusou a renovar uma licença de patentes para a Fundamental Software, outra produtora de programas para emular mainframes. Como resultado, a Fundamental ficou no limbo, e seu produto, que vinha ganhando grande popularidade, não pode mais ser vendido até que a IBM mude de posição.
Além disso, em 2007, a QSGI, especialista em reformar e atualizar mainframes, se queixou de práticas "anticompetitivas" persistentes que a impediam de atender aos clientes, e anunciou que poderia sair do negócio. Agora, o grupo se recusa a debater em público suas operações com mainframes, de acordo com um porta-voz.
Em um estudo encomendado pela Microsoft para examinar as tecnologias alternativas para mainframes, Walter Tichy, professor de ciência da computação na Universidade de Karlsruhe, Alemanha, concluiu que, como resultado das ações da IBM, "foram negados aos consumidores os benefícios da inovação tecnológica, e eles precisam em lugar disso pagar preços superiores aos de mercado pelas soluções da empresa em mainframes, e salários elevados para manter a força de trabalho especializada nesse tipo de computador, que escasseia cada vez mais.
A IBM afirmou em comunicado que confia em que não houve violações de quaisquer leis de competição.
Controvérsias sobre seu poderio excessivo não são novidade na IBM. Em 1956, a empresa aceitou um acordo extrajudicial depois de uma batalha antitruste com o Departamento da Justiça. O acordo expirou há muito ¿ e se referia a máquinas de contabilidade e não a mainframes -, mas mesmo assim ajudou empresas como a Amdahl, Hitachi e Fujitsu a vender computadores que operam com software IBM para mainframes, licenciado junto à empresa.
Pelo final dos anos 90, todos os demais fabricantes de mainframes decidiram abandonar a tecnologia, porque acompanhar os chips e softwares especialmente projetados da IBM era caro demais. Mais recentemente, a Sun Microsystems, a Hewlett-Packard e a Microsoft realizaram tentativas em geral mal sucedidas de roubar clientes de mainframes à IBM, ao criar produtos que realizam tarefas semelhantes mas operam em servidores.
A IBM agora está negociando a aquisição da Sun por cerca de US$ 7 bilhões, e caso a transação venha de fato a ocorrer, a IBM conquistaria um monopólio sobre os importantes sistemas de armazenagem utilizados nos mainframes.
Os mainframes computam os dados praticamente todas as vezes que alguém saca dinheiro de um caixa eletrônico, usa um cartão de crédito ou adquire um produto de uma grande cadeia de varejo. A IBM alega que a popularidade continuada dos mainframes deriva de seus esforços de modernizar os sistemas de modo que a que eles possam operar com softwares de gestão mais modernos.
Mas A. M. Sacconaghi, analista da Sanford C. Bernstein & Co., sugeriu que a IBM se beneficiou mais da falta de concorrência do que de sua tecnologia atualizada.
O ritmo de crescimento quanto ao volume de poder de processamento em mainframes vendido por ano caiu nos últimos oito anos, o que contraria as alegações da IBM quanto ao interesse crescente por esses produtos. O ritmo de lançamento de mainframes pela IBM se reduziu para um a cada 30 ou 36 meses, ante os 18 meses do passado.
A Platform argumentava que, ao usar tecnologia de emulação em servidores padrão, tinha uma alternativa mais barata e rápida que poderia atender às necessidades de empresas menores, negligenciadas pela IBM. A tecnologia permitia que clientes executassem programas de mainframes e servidores na mesma máquina, o que significa que era possível comprar menos e fazer mais.
Tradução: Paulo Migliacci ME