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Entre o culto e o absurdo: quem é a influencer que faz rankings sobre tudo

Juvi fala sobre qualquer assunto como se tratasse de uma grande discussão contemporânea — mesmo que seja apenas sobre formas de evacuar

3 set 2022 - 05h00
(atualizado às 13h10)
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Juvi é uma produtora musical que bomba nas redes sociais
Juvi é uma produtora musical que bomba nas redes sociais
Foto: Reprodução/Instagram/@eujuliovictor

A produtora musical Júlio Victor, de 31 anos, produz um conteúdo para lá de diverso. De grandes produções musicais a avaliações sobre as melhores formas de se aliviar no banheiro, passando por análises sociais e psicológicas de grandes obras de arte... A influencer navega entre o culto e o absurdo, como ela mesma diz, com leveza e naturalidade.

O formato de conteúdo que decidiu apostar recentemente se tornou sua marca registrada nos últimos meses. De maneira quase cínica, Juvi, como é conhecida nas redes sociais, organiza em rankings os mais diversos tipos de objetos, acontecimentos, manias e quaisquer outras coisas que surjam em sua mente. A descrição, sempre com palavras rebuscadas, chama a atenção pelo inesperado — e isso é que é engraçado.

Exemplo disso é quando elencou os melhores "palavrões anestésicos". Para usar as palavras da criadora: "aquele que você grita para aliviar a dor quando bate o dedinho na quina".

"Tem uma perspectiva freudiana, uma regressão, um desmaterializar, um retorno ao conforto intra-uterino que alivia a dor realmente", discursa ao elencar um dos melhores no TOP 5 que, por motivos óbvios, não será dito aqui.

"Eu gosto da ideia de falar atrocidades de forma culta. Gosto desses contrastes", revela em entrevista ao Terra. "Uso um vocabulário rebuscado que muitas vezes nem existe, uns neologismos à moda caralha. Acho que parte da graça está nisso".

Ao mesmo tempo, Juvi pondera que nem todo o seu conteúdo é uma piada propriamente dita.

"Não sou humorista e nem tenho essa pretensão. É o jeito que eu falo, são as minhas opiniões, de fato, sobre as coisas. Quando eu falo que o arroto alto é o melhor arroto, é justamente porque é esse que eu gosto de dar", assegura. 

A espontaneidade é um critério inegociável dos vídeos, que já lhe renderam 122 mil seguidores no Twitter, 266 mil no Instagram e incríveis 1,4 milhão no TikTok. Diariamente essas pessoas acompanham os devaneios e reflexões improvisados de Juvi, que já recebeu cerca de 50 milhões de curtidas no TikTok.

Todo esse sucesso, por outro lado, não veio com a viralização de apenas um único formato de conteúdo. A repercussão recente veio após oito anos de trabalho na internet.

"[O ranking] é meio que um resultado de tudo isso [trabalhos anteriores]. Tem um pouco de análise social, um pouco de humor, um pouco de coisas aleatórias, cotidiano e modernidade", descreve.

O começo na Internet

Juvi é natural de Volta Redonda, no interior do Rio, mas está vivendo em São Paulo há cerca de um ano. Antes de se identificar como influencer digital e produtora de conteúdo para a internet, ela é produtora musical. Seu trabalho mais recente foi na trilha sonora do RPG do gamer Cellbit,  o 'Ordem Paranormal'.

Foi a produção musical, inclusive, que a fez criar seu canal no YouTube em 2014.

"Eu falava muito sobre música, essencialmente. Mas, conforme foi passando o tempo, fui abrindo a mente para outras questões [...] deixei de falar só sobre música/som e comecei a falar sobre significados, contextos, questões mais internas, sociais e psicológicas que existem ali nas músicas", explica.

Juvi é sound designer e produz a trilha sonora de famoso RPG
Juvi é sound designer e produz a trilha sonora de famoso RPG
Foto: Reprodução/Instagram/@eujuliovictor

Assim como milhares de brasileiros, foi no contexto do isolamento da pandemia de Covid-19 que ela conheceu o aplicativo TikTok. Inicialmente, apenas consumindo. "Vez ou outra, gravava um vídeo de zoeira, mas continuei produzindo meus vídeos mais complexos para o YouTube", relembra.

Os vídeos na nova plataforma eram sempre com uma pegada de humor, diferente de seu conteúdo em vídeos mais longos. Seu conteúdo, então, passou a ser moldado aos poucos, com Juvi experimentando o que quisesse fazer naquele momento.

As listas simples, de absolutamente qualquer coisa, como tipos de piso e tipos de escadas, evoluíram para o famoso Top 5. O insight definitivo para o formato foi uma conversa com amigos durante um churrasco.

"A gente estava conversando sobre formas que namorados e namoradas se chamam. Estávamos elencando os piores. No outro dia eu fiz e esse vídeo já deu muito certo", relembra.

Hoje, tem vídeo de Juvi que chega a bater 35 milhões de visualizações no TikTok. O sucesso abriu as portas para empresas que, interessadas no alcance e na sinceridade ácida da produtora, a contratam para publicidades diferenciadas. 

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Não-binariedade

Você certamente percebeu que apresentamos Juvi com um nome que comumente identifica pessoas do gênero masculino, mas a tratamos no feminino - inclusive agora. E, não, não é descuido. Juvi se reconhece como uma pessoa não-binária e aceita todos os pronomes, mas prefere que se refiram a ela no feminino.

Essa descoberta de si mesma foi feita aos poucos, durante um longo processo no decorrer da pandemia de Covid-19. 

"Muitas coisas diziam para mim, desde criança, que eu não estava no zero ou no um, no preto ou no branco", explica. "Então, quando me entendi, comecei a me permitir a fazer coisas que não fazia antes. Coisas de fora que me faziam entender melhor por dentro", revela, citando pintar a unha e usar roupas "femininas".

Essa mudança foi acontecendo também em frente às câmeras. "Quem me segue, foi me entendo aos poucos", diz Juvi.

Até mesmo por compartilhar esse processo ela se sente à vontade para responder às muitas perguntas dos seguidores, mas evita que esse assunto se torne o foco de sua produção.

"Embora eu ache muito legal quem faz isso, porque é essencial e precisamos de informação, não quero me tornar uma pessoa não-binária falando sobre não-binariedade", afirma. "Gosto do fato da pessoa me seguir por causa do conteúdo e, quando for ver, ama um perfil de uma pessoa não-binária. Quero que isso se dê dessa maneira natural".

*Com edição de Estela Marques.

Fonte: Redação Terra
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