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Como e por que vírus de morcego continuam infectando pessoas?

Estudo revela mecanismo de "transbordamento" para o raro vírus Hendra; mudanças climáticas e perda de habitat são fatores importantes

16 nov 2022 - 17h52
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Descoberto em morcegos da Rússia, novo vírus tem semelhanças com a covid-19 (Imagem: Simon Berstecher/Pixabay)
Descoberto em morcegos da Rússia, novo vírus tem semelhanças com a covid-19 (Imagem: Simon Berstecher/Pixabay)
Foto: Canaltech

Que os morcegos podem ser reservatórios de vírus já é sabido pelos cientistas. A grande questão agora, discutida em um artigo publicado nesta quarta-feira (16) na revista científica Nature, é por que esses micróbios continuam infectando as pessoas — mesmo que tenhamos aprendido a evitar as transmissões na maioria dos casos. 

Peggy Eby, ecologista da vida selvagem da Universidade de New South Wales, na Austrália, é um estudioso de raposas voadoras australianas (tipo de morcego) há mais de 25 anos. Ele explicou que esses animais hospedam um vírus chamado Hendra, que causa uma infecção respiratória muito rara, porém mortal — mata uma em cada duas pessoas infectadas.

Vírus como Nipah, SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2 (sendo este último causador da covid-19) têm sua origem nos morcegos e se espalham para as pessoas por meio de um animal intermediário.

Cientistas do mundo todo já sabem que os transbordamentos (transmissão de animal para humanos) estão associados à perda de habitat desses bichos. No entanto, eles têm lutado para identificar condições específicas que desencadeiam eventos como a pandemia de covid. 

No caso do vírus Hendra, por exemplo, após uma investigação detalhada, os pesquisadores conseguiram prever até dois anos à frente quando os surtos do micróbio poderão aparecer.

“Eles identificaram os fatores ambientais do transbordamento”, disse Emily Gurley, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade Johns Hopkins em Baltimore (EUA). Com isso, os cientistas conseguem saber como evitar esses eventos. 

Os morcegos são reservatórios de diversos vírus que causam doenças mortais
Os morcegos são reservatórios de diversos vírus que causam doenças mortais
Foto: Canaltech

Transbordamento dos vírus 

Os resultados da pesquisa confirmaram mais uma vez que as mudanças climáticas e o aumento da perda de habitat podem ser os principais impulsionadores de doenças.

Para saber como e por que esses vírus continuavam a ser transmitidos para humanos, os pesquisadores coletaram dados sobre a localização e o momento de tais eventos, a região dos abrigos de morcegos e saúde, clima, escassez de néctar e perda de habitat em cerca de 300 mil quilômetros quadrados no sudeste da Austrália de 1996 a 2020. 

Depois disso, usaram modelos de pesquisa para determinar quais fatores estavam associados à transmissão. Especificamente, os cientistas descobriram que grupos de transbordamentos do vírus Hendra ocorrem após anos em que os morcegos experimentam estresse alimentar — isso é, escassezes de alimentos que geralmente seguem anos com um forte El Niño, um fenômeno climático no Oceano Pacífico tropical e que é frequentemente associada à seca ao longo do leste da Austrália.

Ao longo do estudo, a equipe notou mudanças significativas no comportamento dos morcegos. Eles passaram de um estilo de vida predominantemente nômade — movendo-se em grandes grupos de uma floresta nativa para outra em busca de néctar — para se estabelecerem em pequenos grupos em áreas urbanas e agrícolas, aproximando os morcegos de onde vivem cavalos e pessoas. 

Descobriram também que o número de abrigos de morcegos ocupados em geral triplicou desde o início dos anos 2000 para cerca de 320 em 2020.

Raina Plowright, ecologista de doenças e coautora do estudo na Cornell University em Ithaca, Nova York, explicou que se as árvores que dão alimentos aos morcegos durante o inverno tiverem um grande evento de floração no ano seguinte à escassez, não haverá transbordamentos. No entanto, "o problema é que quase não resta nenhum habitat de inverno", aponta. 

Morcegos são forçados a conviver com humanos por causa da destruição de seu habitat natural
Morcegos são forçados a conviver com humanos por causa da destruição de seu habitat natural
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Reviravolta

À medida que o estudo ia seguindo, algo inesperado aconteceu. Um evento de El Niño ocorreu em 2018 seguido por uma seca em 2019, sugerindo que 2020 também deveria ter sido um ano de transbordamento de vírus na Austrália. 

No entanto, houve apenas um evento em maio e nenhum outro foi detectado desde então. Surpresos, os pesquisadores resolveram analisar novamente os dados e descobriram que quando as florestas nativas têm grandes eventos de floração no inverno após uma escassez de alimentos, isso ajuda a evitar transbordamentos.

Por exemplo, em 2020, uma floresta de eucalipto perto da cidade de Gympie floresceu, atraindo cerca de 240 mil morcegos. E eventos semelhantes de floração de inverno ocorreram em outras regiões em 2021 e 2022.

Agora, os cientistas acreditam que que essas migrações em massa afastam os morcegos dos cavalos e propõem que, ao restaurar os habitats dessas poucas espécies que florescem no inverno, ocorreriam menos transbordamentos em cavalos e, potencialmente, em pessoas. “Talvez possamos prevenir a próxima pandemia”, disse Plowright.

Fonte: Redação Byte
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