Como a Globo se previne do uso de robôs em votações do BBB
Será que a emissora é capaz de diferenciar a atuação de programas automatizados dos mutirões de fãs engajados?
Com a estreia do Big Brother Brasil 2023, a Globo espera receber, novamente, legiões de fãs (ou haters) participando das tradicionais votações de eliminação de participantes do programa.
Desde que a emissora deixou as ligações de telefone de lado e aderiu a um processo 100% via internet, dúvidas têm sido levantadas: seria a Globo capaz de barrar votações feitas por robôs?
A Globo não torna públicas as suas políticas de segurança nas votações do BBB e, procurada por esta reportagem, decidiu não emitir posicionamento. Mas, segundo especialistas, existem diversas tecnologias para a prevenção da atuação de bots.
"Você é um robô?"
A técnica de segurança mais comum são os captchas, conforme explica Diogo Cortiz, professor de ciência da computação na PUC. Este é o nome daqueles campos "digite essas letras" ou desafios de lógica para avaliar se é um humano ou um robô preenchendo algo.
Um exemplo recorrente de captcha é ter que ler uma imagem e preencher o que está escrito nela, ou então selecionar quais imagens mostradas têm algum objeto específico.
Mesmo quando um bot é capaz de identificar imagens e responder um desafio corretamente, ainda é possível rastrear a burlagem por meio do comportamento das respostas: por exemplo, se um ser humano leva, em média, cinco segundos para preencher um captcha, mas existe alguém fazendo isso em um segundo, um sinal de alerta é acionado.
Segundo Cortiz, obter dados sobre a origem dos votos também pode ser uma opção. "Existem outras técnicas que podem ser combinadas, como o local de acesso, o IP e o comportamento do tráfego, como picos de acesso e votos em um mesmo participante", diz.
Não existe votação 100% segura
No entanto, a votação do BBB não é um cofre inviolável. Em 2019, o cientista da computação e especialista em fraudes digitais Rafael Viana participou de um hacktown promovido pela própria Globo cujo objetivo era burlar o sistema de votação da emissora. E ele conseguiu.
Viana criou um bot capaz de aprender a ler as imagens borradas fornecidas pela plataforma da emissora, diferenciar figuras de objetos como livros, chaves e bandeiras e, a partir disso, registrar votos.
O sistema desenvolvido por Viana chegou a votar algumas vezes. Mas, após algum tempo, a programação de segurança da Globo foi capaz de identificar um comportamento suspeito e tornou o sistema de votação mais pesado, fazendo com que o robô sentisse cada vez mais dificuldade, o que levou mais tempo para conseguir votar.
“Não existe um solução 100% imune contra fraudes. O que precisamos fazer é dificultar o máximo possível uma fraude para que ela não seja replicável", explica.
Na edição de 2022, o especialista foi dar uma "espiadinha" para ver se o sistema tinha aprimorado suas técnicas de segurança. Descobriu que o esquema que ele tinha ajudado a desmontar no hacktown já tinha sido aprimorado pela Globo.
"Lembro de no ano passado ter conferido a segurança do site em uma das votações, e eles já estavam com um novo sistema muito mais seguro", diz.
Um voto por pessoa?
Uma outra estratégia para controlar melhor as votações do programa seria limitar o número de votos a uma pessoa só. Mas é pouco provável que a Globo adote atitude semelhante, já que isso significaria o fim de multirões e mobilizações de legiões de fãs.
"O voto poderia estar vinculado a um e-mail ou CPF, mas neste caso, acho que é menos interessante para o programa porque mataria a dinâmica de maratona de votação que mobiliza os usuários das redes sociais", diz Cortiz, da PUC.
Depois que o sistema recebe o voto, é muito difícil diferenciar se a escolha veio de uma pessoa ou de um robô, segundo Viana.
Assim, para conseguir diferenciar um script de um superfã, uma alternativa é exigir a verificação de identidade das pessoas antes de realizar a votação, como por exemplo o login na conta na Globo atualmente pedido pela emissora.
Desta forma, é possível saber quantos votos cada pessoa está realizando e encontrar alguma atitude suspeita. "A verificação de identidade é a forma mais confiável atualmente na internet de prevenir este tipo de fraude", diz Viana.