Como a China deixou de copiar medicamentos para ser referência em pesquisas farmacêuticas
Segunda maior economia do mundo, a China vem aumentando seu protagonismo no setor de pesquisas farmacêuticas. Um episódio recente que ilustra esta crescente influência é o acordo anunciado na segunda-feira (22) entre o grupo francês Ipsen e o laboratório chinês Simcere Zaiming para adquirir os direitos de um medicamento experimental para tumores cancerígenos.
O contrato, avaliado em mais de US$ 1 bilhão, dará ao grupo francês direitos exclusivos globais sobre um medicamento experimental. O acordo atesta o papel crescente da China neste setor, resultado de uma decisão política de Pequim. Há dez anos, o país declarou a indústria farmacêutica como uma "prioridade nacional".
"Como de costume, isso veio acompanhado de subsídios", explica Philippe Aguignier, pesquisador do Institut Montaigne, em Paris, e professor de economia chinesa.
"O dinheiro estava disponível e os fabricantes investiram pesado em pesquisa básica e descoberta de novas moléculas. Muitas jovens empresas chinesas obtiveram resultados e descobriram moléculas promissoras", afirma.
Investimento em pesquisa básica
Os resultados começaram a aparecer com a descoberta de tratamentos para combater o câncer, que as empresas de biotecnologia chinesas hoje conseguem desenvolver mais rapidamente do que em outros países.
"As autoridades investiram muito na estrutura regulatória para modernizar o órgão regulador", continua o professor. "Fizeram tudo o que podiam para, por exemplo, reduzir o tempo de aprovação de novos medicamentos no mercado chinês. Com resultados verdadeiramente surpreendentes, conseguiram reduzir o tempo de aprovação."
A ambição dos laboratórios chineses é clara: estabelecer-se, em primeiro lugar, no mercado interno, mas também exportar suas inovações para países emergentes, para os Estados Unidos e a Europa.
O tratamento experimental para o qual o grupo francês Ipsen adquirirá os direitos foi "desenvolvido para infiltrar profundamente tumores e fibroblastos associados ao câncer, o que resultou em regressões tumorais significativas em muitos modelos pré-clínicos in vivo (estudos realizados em organismos vivos)", segundo a empresa.
Os direitos globais adquiridos pela Ipsen abrangem o desenvolvimento, a fabricação e a comercialização do medicamento. A fase 1 dos testes clínicos está prevista para o segundo semestre de 2026.
Em 2024, a China ultrapassou os Estados Unidos e se tornou o país líder mundial na descoberta de novas moléculas de medicamentos, de acordo com o estudo anual da EFPIA, a associação europeia da indústria farmacêutica.