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Tiranossauro Rex era esperto ou burro? Entenda a 'treta' entre cientistas (incluindo uma brasileira)

Novo estudo de pesquisadores alemães questiona conclusões da neurocientista Suzana Herculano-Houzel

5 mai 2024 - 17h09
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Afinal, além de grandes e ferozes, os tiranossauros eram inteligentes como macacos ou estúpidos como crocodilos?

No ano passado, a neurocientista brasileira Suzana Herculano-Houzel, da Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, comparou a inteligência do Tiranossauro rex à de babuínos, a partir da estimativa do número de neurônios em seu cérebro.

Agora, o zoólogo Kai Casper, da Universidade Heinrich Heine, na Alemanha, questiona o estudo da colega, dizendo que, na verdade, o bicho tinha o cérebro bem pequeno e era burro como os crocodilos.

Parece uma rixa de cientistas sem pé na realidade, mas a resposta é importante em muitos aspectos.

  • Se Suzana estiver certa e o T. rex tivesse a inteligência similar à de um babuíno, ele seria capaz de aprender a usar ferramentas e passar esse conhecimento às novas gerações, criando uma cultura.

Além disso, se o réptil predador não tivesse sido exterminado por um meteoro, ele poderia ter evoluído ainda mais - como aconteceu conosco.

"A nossa principal descoberta é que o cérebro da maioria dos dinossauros, incluindo o T. rex, é comparável em tamanho relativo ao de répteis vivos atualmente, como crocodilos e jacarés. Além disso, o número de neurônios não era excepcional, ainda mais em um animal com a sua massa corporal", afirmou o zoólogo Kai Casper em entrevista à agência de notícias Reuters, cujo estudo foi publicado na Anatomical Record.

  • O trabalho liderado por Casper levou em conta, além do tamanho do cérebro e do número de neurônios do animal, fatores como sua anatomia e ecologia, dados de parentes vivos e evidências fósseis de como eles se moviam e se alimentavam.

"O que precisa ser enfatizado é que os répteis certamente não são tão estúpidos quanto se costuma pensar. O comportamento deles pode ser muito complexo, e nossos dados apontam para muitas similaridades cognitivas entre eles, os mamíferos e as aves", aponta o pesquisador da universidade alemã.

"Ou seja, embora não haja razão para presumir que o T. rex tivesse hábitos similares aos dos primatas, ele certamente era um animal de comportamento sofisticado", continua ele, sobre o dinossauro que protagoniza o filme Jurássico Park, de Steven Spielberg.

Segundo Suzana Herculano-Houzel, Casper só chegou a essa conclusão porque o seu estudo é falho.

"Os dinossauros não merecem voltar a ser considerados burros como os crocodilos só porque um grupo de paleontologistas usou suas credenciais (que eu não tenho, eu sou uma neurocientista) para fazer uma comparação errada, do tipo maçãs com laranjas, por conta de um erro de iniciante", afirmou a brasileira.

No estudo do ano passado, Suzana comparou o crânio dos dinossauros aos de seus parentes vivos mais próximos: aves como avestruzes, galinhas e patos. Extrapolando o número de neurônios presentes nessas aves às dimensões do crânio dos animais extintos, a pesquisadora concluiu que o T. rex teria cerca de três bilhões de neurônios - número similar ao presente no cérebro de babuínos.

Se a capacidade cognitiva do dinossauro fosse similar à do macaco, ele seria capaz de agir em grupo, usar ferramentas e passar conhecimento para as novas gerações.

"Nossa discordância se baseia basicamente no seguinte: se os terópodes como o T. rex compartilham a relação entre o tamanho do cérebro e do corpo com seus primos mais próximos, as aves de sangue quente como avestruzes e galinhas, ou com seus parentes vivos mais distantes, caso dos crocodilos. Comparei os terópodes com avestruzes e galinhas, que são os parentes vivos mais próximos", explicou Suzana.

"Eles incluíram na comparação outras aves, como pelicanos, garças e até pinguins, que são parentes muito mais distantes e que sabidamente têm o cérebro muito maior em relação ao tamanho do corpo. Ao incluírem esses animais no grupo de referência, eles fizeram com que os terópodes parecessem ter o cérebro menor do que realmente tinham e concluíram que eles eram mais parecidos com os crocodilos."

Kai Casper lembra que não é simples inferir o grau de inteligência de um animal a partir da contagem de neurônios.

"O primeiro obstáculo é estimar o tamanho do cérebro do animal extinto em questão. E essa não é uma questão trivial em se tratando de dinossauros. Enquanto o cérebro preenche praticamente toda a cavidade do cérebro em aves e mamíferos, isso não acontece com os répteis, cujos cérebros preenchem apenas de 30% a 50% da cavidade", afirmou Caspar.

Além disso, segundo Casper, não se sabe qual seria a densidade de neurônios nos cérebros de dinossauros.

"Ainda assim, olhando para os animais vivos, vemos que a contagem de neurônios não é um bom indicador de inteligência, embora isso possa parecer intuitivo a primeira vista", concluiu.

Como neurocientista e bióloga, Suzana discorda. "O número de neurônios no córtex certamente é, de longe, o mais conhecido indicador de capacidade cognitiva", disse a pesquisadora brasileira. "Eu já documentei bem isso, o tamanho do corpo é irrelevante. Mas a comunidade paleontológica ama jogar com o tamanho do corpo, porque isso faz com que os dinossauros pareçam estúpidos. O T. rex não merecia isso."

Estadão
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